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Americanas (AMER3): ex-CEO diz à Justiça que Sicupira sabia de crise

Miguel Gutierrez prestou declarações por meio de seus advogados

Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas (AMER3), suspeito de ter acobertado uma fraude de R$ 20 bilhões nas contas da empresa declarou que um dos acionista, Carlos Alberto Sicupira, sabia da crise.

O empresário prestou declarações por meio de seus advogados no processo em que o Banco Bradesco (BBDC4) procura antecipar a produção de provas sobre o que houve na empresa.

“Em 2019, o Sr. Carlos Alberto Sicupira comunica sua decisão pelo meu desligamento completo da empresa a partir de final de 2021, atribuindo a mim a missão de trabalhar na minha sucessão, mediante identificação e treinamento de um novo CEO – competência que passou a constar dentre as métricas para definição de meu bônus como executivo a partir de então. A pandemia do coronavírus atrasou em um ano a minha saída”, disse Gutierrez.

Ele acrescentou que seu papel assumido após 2018, e com a decisão pela sua saída a partir de final de 2021, foi de “CEO de CEOs”, em vez de um CEO tradicional. O que representava um menor grau de interação com as áreas mais técnicas e operacionais da empresa. O executivo nega que tivesse conhecimento das fraudes contábeis e afirma que o problema principal da empresa foi esconder sua situação financeira.

“É preciso separar, porém, um suposto problema contábil de um problema financeiro. Era de meu conhecimento, sim, assim como o de toda administração (incluindo o conselho), que a Americanas tinha um problema financeiro – e é sobre isso que faz referência a notícia envolvendo a participação do Sergio Rial (ex-presidente do Santander (SANB11) que assumiu oficialmente a Americanas em 2 de janeiro e divulgou o fato relevante para o mercado no dia 11) em uma reunião para tratar do tema, em dezembro de 2022, da qual eu não participei.”

Segundo Gutierrez, questões financeiras, por exemplo, além da diretoria financeira e das áreas a ela subordinadas, eram tratadas pelo comitê financeiro, órgão de assessoramento ao conselho de administração e que contava com membros ligados aos acionistas controladores inclusive por vínculos familiares. Além disso, funcionários da LTS (holding dos acionistas controladores) muitas vezes também participavam dessas discussões, mesmo não tendo cargos formais na Americanas ou em LASA, conforme o caso.

“A ingerência dos controladores da Americanas nas finanças das companhias de seu portfólio é, de mais a mais, fato notório, mencionado, inclusive, no famoso livro que conta sua trajetória empresarial. Para dar um exemplo específico referente às Americanas, as vendas da companhia eram acompanhadas diariamente pelo Sr. Carlos Alberto Sicupira e pelo Sr. Eduardo Saggioro.”

Procurado pelo colunista Marcelo Godoy, do Estadão, a assessoria de Rial declarou que “não há comentários a serem feitos por Sergio Rial à carta do senhor Miguel Gutierrez. O economista, que agiu como denunciante de boa-fé ao comunicar as inconsistências contábeis da Americanas em 11 de janeiro de 2023, aguarda as providências cabíveis para a responsabilização dos autores da fraude bilionária a partir das delações já homologadas e da continuidade das investigações em curso.”

Americanas (AMER3)

“A Americanas refuta veementemente as argumentações apresentadas pelo senhor Miguel Gutierrez à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na véspera da apresentação do relatório final. A companhia reitera que o ex-dirigente da Americanas não contestou em nenhum momento os documentos e fatos apresentados à Comissão no dia 13 de junho, que demonstram a sua participação na fraude.

A Americanas reitera que o relatório apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito em 13/06, baseado em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, além de documentos complementares identificados pela Administração e seus assessores jurídicos, indica que as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas, capitaneada pelo senhor Miguel Gutierrez.

A Americanas confia na competência de todas as autoridades envolvidas nas apurações e investigações, reforça que é a maior interessada no esclarecimento dos fatos e irá responsabilizar judicialmente todos os envolvidos.”

LTS Investments

“As palavras assinadas pelo Sr. Miguel Gomes Pereira Sarmiento Gutierrez, proferidas quase oito meses após a divulgação do fato relevante que informava as inconsistências contábeis na Americanas SA (11/1) e depois de divulgado relatório da CPI sobre o caso na Câmara dos Deputados, não trazem qualquer prova de suas alegações nem refutam evidências de sua participação na fraude.

As ilações de uma pessoa que deixou o país depois de ter tido um requerimento de participação à CPI aprovado não têm coerência com os fatos até agora expostos pelas autoridades, tampouco nenhuma prova apresentada pela companhia há três meses foi questionada até o presente momento.

Os acionistas de referência sempre atuaram com o máximo de zelo e ética sobre a companhia, observando rigorosamente as normas e a legislação aplicável. Ainda assim, todos os acionistas da Americanas foram enganados por uma fraude ardilosa cujos malfeitores serão responsabilizados pelas autoridades competentes.”