Americanas (AMER3): novo CEO mudará cultura da varejista, dizem analistas

A Americanas anunciou a saída de Miguel Gutierrez para a entrada de Sérgio Rial, que assume o cargo em 2023

A Americanas (AMER3) terá um novo CEO em 2023. Na última sexta-feira (19), a companhia anunciou a saída de Miguel Gutierrez para a entrada de Sérgio Rial, atual presidente do conselho de administração do banco Santander no Brasil, tornando-se a primeira grande troca da varejista em 20 anos. De acordo com Priscila Araújo, da Macro Capital, a mudança é super positiva, principalmente na “nova fase” do e-commerce e do Omnichannel.

“A importância que o e-commerce tem atualmente no mercado, assim como a omnicanalidade, que ficou ainda mais forte após a pandemia, mostra que estamos vivendo um novo mundo, uma nova fase. A empresa já vinha num processo de reestruturação, então a decisão de trazer uma pessoa tão experiente, como o Rial, com uma capacidade de conseguir navegar nesse novo mundo, é um grande passo. É uma surpresa super positiva, e mostra que a Americanas está pronta”, afirmou Araújo ao BP Money.

Omnichannel é uma estratégia de conteúdo entre canais que as organizações usam para melhorar sua experiência do usuário e conduzir melhores relacionamentos com seu público nos pontos de contato.

Para Daniel Carraretto, especialista em finanças e influenciador de investimentos do canal Meu Dinheiro Ativo, a mudança para Rial busca rentabilizar o negócio.

“Essa troca representa que a empresa deverá aumentar a diversificação dos seus negócios para além do varejo, que é um setor muito competitivo. Muito disso foi mostrado a partir das aquisições que a companhia fez no segmento financeiro, e que agora com Rial deverá buscar rentabilizar e transformar em um grande ecossistema de negócios online e offline”.

O movimento está sendo encarado como uma espécie de ruptura em termos de perfil e modelo de liderança na Americanas, com expectativa de efeitos sobre a cultura de uma empresa historicamente avessa à entrada de executivos seniores de fora no primeiro escalão.

“Vários acionistas pediam essa mudança há muito tempo. Eles sempre foram uma espécie de esfinge, pois não conseguia tirar nada de lá. Foi uma surpresa, pois ninguém falava nada. É um nome que, atualmente, é super bem conceituado. As últimas posições dele, especialmente no banco, e ele teve um desempenho super positivo. A companhia está precisando de uma chacoalhada e esse é um bom nome para isso”, disseram fontes do mercado ouvidas pelo BP Money. 

Rial conta com um histórico de recuperação e uma ampla experiência no mercado financeiro. O anúncio causou surpresa não só porque não estava no radar do mercado a hipótese de Rial ir para um cargo executivo em outro segmento no Brasil, mas especialmente pela sinalização que a Americanas passa agora. 

“Rial é um gestor experiente e capacitado com muita experiência no setor alimentício e financeiro, especificamente de bancos. Deixa o Santander com ótimos resultados e mostra que a empresa deve buscar expandir o seu braço financeiro. Ao meu ver foi uma escolha ousada mas que pode trazer a mudança de direção e cultura que a companhia espera”, avaliou Carraretto.

O mercado reagiu bem à novidade. Nesta segunda-feira (22), os papéis da Americanas dispararam, chegando a subir mais de 20%. No ano, o papel acumula queda de 58%. 

“A Americanas nos últimos dez anos foi um fiasco. Parou no tempo. Esse é o principal motivador dessa mudança. O Rial assume um transatlântico que está mega engessado, então o desafio dele é achar essas pessoas corretas. Ele tem um grande ativo na mão e seu desafio é fazer com que esse ativo se valorize e o mercado passe a dar valor para ele. Hoje subiu 20%, mas, se fizer as mudanças necessárias, a tendência é de subir muito mais”, pontuaram fontes do mercado.

“O mercado mostrou muito otimismo em relação ao anúncio, mas cabe ressaltar que apenas a mudança do CEO não é suficiente para destravar valor, portanto pode ser uma reação exagerada. Recomendo cautela ao investidor”, salientou Carraretto.

Rial assume a Americanas, mas seguirá no Conselho do Santander

Apesar de assumir este importante cargo na Americanas, Rial continuará no conselho do Santander. O executivo também é membro do conselho da Vibra. O detalhe é que a empresa é sócia da Americanas numa joint-venture em lojas de conveniência desde o início deste ano, com gestão e governança próprias.

Antes do Santander, Rial trabalhou nos bancos ABN Amro e Bear Sterns e nas empresas de alimentos Cargill e Marfrig.

Com toda essa experiência, o esperado é que Rial dê outra “cara” a Americanas, melhorando principalmente a comunicação com o mercado. Esse papel acabou sendo deixado de lado nos últimos trimestres justamente por conta da sua volatilidade e problemas de comunicação, no qual acabou subindo o preço. 

“Rial foi e é um CEO muito fora da curva, que conseguiu transformar a cultura de um ‘banco gringo’. Ele pode impactar a cultura da Americanas como o Jean [Jereissati, CEO] da Ambev também conseguiu impactar, de uma empresa que focava muito na eficiência operacional e passou para uma pegada mais preocupada com o consumidor”, afirmou Carlos Rodrigo Lima, Head da Equipe de Análise da Athena Capital. 

Rial poderá dar outro ritmo ao Ame

O Ame Digital, lançado em 2018, é uma fintech que nasceu no conceito mobile first – ou seja, totalmente pensado para ser um aplicativo.

O pilar de negócio, inicialmente pautado em uma carteira digital (que permite realizar compras, transferir dinheiro entre contas Ame, pagamento de boletos e recargas de celular), vem tendo seu escopo ampliado e hoje é uma das principais apostas da Americanas.

“Eles têm um ativo muito valioso na mão. Se tem um potencial de destravamento de valor muito grande dentro desse ativo de carteira digital que é a Ame”, salientou Priscila Araújo.

Com um imenso fluxo de clientes, é esperado que Rial dê um outro ritmo à plataforma, que avançou com Anna Saicali. 

“Toda sua experiência de anos no Santander traz um conhecimento muito grande para conseguir desenvolver e expandir o serviço da Ame”, avaliou a gestora de Renda Variável da Macro Capital. 

O aplicativo já comercializa seguros (de vida, residencial, de celulares); planos (pet e dental); empréstimos (pessoal com e sem garantia, consignado ou para empresas) e oferece um cartão de crédito próprio, que é lastreado pelo Banco do Brasil.

A Lojas Americanas já existe há 92 anos. Seus modelos de negócio mudaram, assim como a composição de acionistas. Nem sempre foram bons momentos, mas a marca sempre esteve forte junto ao consumidor brasileiro. Rial chega para mudar a cultura da varejista, trazendo toda sua experiência no mercado financeiro.