No setor aéreo, a Azul (AZUL4) e a Gol (GOLL4) devem divulgar seus números em 9 de maio. Por isso, especialistas procurados pelo BP Money esperam resultados fracos da Gol e crescimento nos indicadores da rival para o 1TRI24.
Apesar de, às vezes, trazer surpresas amargas, ou doces, ao mercado, o consenso frequentemente aponta uma direção que parece razoável aos especialistas. No caso da Azul, o consenso aponta para o crescimento do Ebitda – lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização.
Segundo Marlon Glaciano, gestor e especialista em investimentos, a projeção é de cerca de R$ 6,5 bilhões, superando a projeção anterior de R$ 6,3 bilhões. Enquanto Pedro Marinho Coutinho, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, afirmou que o avanço deve ser de 8%, com margem próxima aos 25%.
“O câmbio e seus desdobramentos no preço do combustível ainda são desafios para ambas”, observou Coutinho.
Em outra linha, para a Gol, que enfrenta um processo de Chapter 11 (recuperação judicial), nos EUA, as estimativas não são animadoras. Glaciano lembra que a companhia pediu um empréstimo de US$ 1 bilhão durante o processo.
Coutinho foi mais além e indicou que, segundo análises divulgadas, o ASK (Assentos Oferecidos por Quilômetro) deve ter queda em torno de 6%, na base anual, referente à atividade doméstica. Para as operações internacionais espera-se estabilidade.
Em paralelo, a receita, ainda na comparação anual, deve vir 5% menor, com um Ebitda estável. Já a taxa de ocupação da Gol deve fechar próxima aos 80,5%, segundo Coutinho.
“A empresa ainda deve apresentar prejuízo financeiro líquido no trimestre”, afirmou.
Entre os indicadores da Azul, o ASK e o RPK (Receita por Passageiro por Quilômetro) devem fechar o 1TRI24 em 3% e 2% ao ano, respectivamente. Isto ao passo que a taxa de ocupação deve chegar aos 79%, com queda de 10% na receita, comparado ao trimestre anterior.
“Cabe falar também sobre o Gol que a empresa encerrou o trimestre passado com crescimento de 6,7% na receita líquida, que chegou a 5,04 bilhões de reais e com o processo de sua aquisição pela Azul, o mercado entende uma ótima situação para os seus credores”, frisou Glaciano.
Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4): a aquisição é benéfica para ambas?
Em abril, a indicação de uma possível aquisição da Gol pela Azul ganhou mais força. O que entra em discussão é que a dona da Gol, Abra Group, contribua com ações da Azul em troca de uma parte na empresa combinada.
Caso o negócio ocorra de fato, a nova companhia aérea representaria 60% do mercado brasileiro, se tornando, então, a maior do País.
Ambos os especialistas consultados pelo BP Money ressaltaram que o negócios pode oferecer riscos ao setor. O principal deles, disse Coutinho, seria a concentração de mercado, que poderia passar de 80% em algumas regiões.
Segundo ele, esse market share não seria facilmente aprovado pelos órgãos reguladores. No entanto, o negócio já teria recebido aval do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após reunião com a Azul em abril, segundo a “Revista Oeste”.
Para Glaciano, a aquisição seria um “belo benefício” para os credores da Gol, por conta da recuperação judicial. Já para a Azul seria um bom negócio pela concorrência do mercado.
“Os principais riscos são elevação do valor das tarifas e uma possível piora no fornecimento de serviços uma vez que o mercado perderia uma bela fatia de concorrência prejudicando os consumidores”, reforçou ele.
Participação de mercado
Até o momento, a Latam se mantém como líder do setor aéreo, com 41% de participação, ante 29,5% da Azul e 29% da Gol.
Glaciano que uma aquisição entre a segunda e terceira colocadas no ranking deixaria o mercado mais equilibrado, sendo necessário ainda acompanhar e entender as mudanças no programa de relacionamento com os clientes.
A Azul tem demonstrado planos firmes para melhorar seu desempenho e participação no mercado, tendo, inclusive, investido R$ 3 bilhões em modelos 195-E2 da Embraer, em abril.
“A real expectativa é de aumentar a capacidade em aproximadamente 11% em 2024 em comparação com 2023”, disse Glaciano.
A expectativa da aérea é de um crescimento de resultado impulsionado pela demanda mais forte, indicou Coutinho.
“A compra de modelos da Embraer é parte integrante deste plano, com a transformação da frota como um dos pilares para aumentar a capacidade e chegar aos R$6,5 bilhões de Ebitda projetados”, explicou ele sobre a Azul.