B3: enquanto um movimento protesta, outro bebe da fonte

O especialista Bruno Perini destacou relembrou a captação de R$ 17,5 milhões do MST com a emissão de um CRA.

O Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MTST) realizou um protesto na Bolsa Brasileira (B3) na quinta-feira (23), em que, por meio de cartazes, alegou que o mercado de ações é responsável pela miséria do país (veja aqui). Em contrapartida, um outro movimento que também é de extrema importância bebe da fonte do mercado financeiro.

O especialista do mercado, Bruno Perini, relembrou através de suas redes sociais a captação de R$ 17,5 milhões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com a emissão de um CRA.

O criador de cursos sobre investimentos e empreendedor salientou como o mercado “é lindo” e abraça a todos.

 

“Movimentos Sociais” protestando na B3 pouco depois do MST ter emitido um CRA que captou R$ 17,5 milhões…

Isso mostra como o mercado de capitais é lindo! Não discrimina nem quem o ataca. pic.twitter.com/m0ks5tVDfv
— Bruno Perini (@PeriniBruno) September 23, 2021

As duas entidades estão ligadas, mas aparentemente não possuem as mesmas ideias em relação aos investimentos.

O Certificado de Recebíveis do Agronegócio, ou CRA, emitidos pelo movimento, teve um impacto socioambiental inédito no país. Os recursos beneficiaram cerca de 13 mil agricultores.

Além desta emissão, em 2020, o MST havia entrado no mercado financeiro lançando um fundo de investimentos chamado Finapop. No mesmo ano ele conseguiu captar R$ 1 milhão.

Considerando os pontos levantados, a declaração do analista questiona o fato de o MTST fazer afirmações acusatórias, mesmo com uma frente social ligada a ele conseguir levantar recursos por meio do mercado financeiro.

Entretanto, durante o protesto, o coordenador do MTST, Felipe Vono, declarou: “Tivemos a duplicação do número de bilionários no país. Gente que recebe dinheiro de maneira fácil, não investe no crescimento do país. Isso decorre da política de Bolsonaro de privilegiar o setor financeiro às custas da miséria do povo. Isso é o que viemos denunciar “.

Desta forma é notável que o entrave para o crescimento do país, segundo o coordenador, não necessariamente o mercado, mas a política vigente que “não é equilibrada” e privilegia o setor.

“Estamos acompanhando a situação calamitosa do país, 19 milhões de pessoas passando fome, 15 milhões de desempregados, inflação nos produtos básicos, na gasolina, no botijão de gás”, continuou.

Segundo o relatório “Vírus da Fome se Multiplica”, até julho deste ano, mais de 20 milhões de pessoas foram parar em níveis extremos de insegurança alimentar. Contudo, contrapondo essa informação, o Brasil é o segundo maior exportador de alimentos do mundo, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC).

A inflação no país segue uma crescente que não é acompanhada pelo poder de compra da população, o aumento no preço de bens materiais, energia elétrica e combustíveis vem pressionando famílias a reduzirem o consumo de produtos destinados a sanar suas necessidades básicas.

Além disso, o índice de preços ao consumidor do Brasil deve ficar entre um dos maiores do mundo, de acordo com projeção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgada na terça-feira (21).

Vale lembrar que, com o efeito da pandemia da Covid-19, houve uma redução considerável do número de empregados no país, mesmo com os esforços do Governo Federal de implementar medidas para que não ocorressem demissões.