Após passar os últimos dois anos desenvolvendo o banco digital do BTG Pactual, empresa do qual era sócio, o empresário Glauber Mota é agora o responsável pelo desembarque do Revolut no Brasil.
Entre os bancos digitais, o britânico é o segundo mais valioso do mundo, atrás do brasileiro Nubank.
Com 18 milhões de clientes em 35 países, a marca foi avaliada em US$ 33 bilhões (R$ 155 bilhões) na sua última rodada de investimento, no meio do ano passado. Já o banco brasileiro bateu os US$ 41,5 bilhões (R$ 231,45 bilhões, na época) na sua abertura de capital na Bolsa de Nova York, mas hoje vale cerca de US$ 37 bilhões (R$ 173,8 bilhões).
A comparação é inevitável, mas Mota diz que a ideia, ao menos nesse início, não é ser um Nubank.
“O Nubank é abrangente, vai na base da pirâmide”, afirma. “Eu diria que vou ser muito mais comparável a um C6 do que a um Nubank no longo prazo.”
Ainda assim, a marca projeta o Brasil como seu quinto maior mercado. Para isso, a estratégia não é começar atacando o crédito, por exemplo, setor que o seu principal concorrente domina, mas oferecer outros serviços que a empresa julga diferenciais.
O carro-chefe é a conta global, que vai competir com as casas de câmbio -hoje principal ferramenta do brasileiro que compra moedas estrangeiras ao viajar. Por meio de diferentes carteiras para cada uma das 28 moedas disponíveis no aplicativo, os atuais 6,38% do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) caem para 1,1%, já que passa a ser uma transferência internacional de recursos entre contas com a mesma titularidade.
O caminho é semelhante com o próprio nascimento do Revolut na Europa, em 2015, quando era apenas um produto de viagem.
Após expandir para países como Austrália, Japão, Singapura e Estados Unidos, a marca chegou na Índia há seis meses e chega ao Brasil ao mesmo tempo em que desembarca no México.
Aqui, o Revolut carrega o peso de outros bancos digitais estrangeiros que patinam para conseguir se estabelecer e competir com as empresas que já estão nos celulares dos brasileiros.
Para Mota, “há algumas vantagens em estar chegando um pouco depois no mercado”.
O fato de grande parte dos brasileiros já ter uma conta em um banco digital, por exemplo, é vista pelo empresário como uma barreira de entrada a menos. Além disso, a marca não prioriza a exclusividade dos correntistas.
“Não tem problema o cliente ter outros bancos. Eu não preciso ser o único. Eu preciso ser o que ele usa mais ou o que ele gosta de usar. Se, porventura, se transformar no único, melhor ainda”, afirma. “Eu prefiro ter um número menor de clientes muito satisfeitos e engajados do que ter uma base muito maior, mas que transaciona menos.”
Assim como o Nubank, a empresa investe na desburocratização e na experiência do usuário para crescer -apostando nas recomendações de pessoa para pessoa em detrimento do marketing. “Esse mercado em que a Revolut é mais forte, de viagem e câmbio, é muito mal-servido no Brasil ainda.”
Apesar do desafio de um ano de eleição, com muita volatilidade, Mota diz que é um bom momento para entrar no mercado brasileiro. “Em termos regulatórios, o Brasil está em vantagem”, afirma.