Banco Inter (BIDI11) vai aos EUA para ser banco do imigrante; legislação deve ser desafio

Aquisições e parcerias recentes devem ajudar o banco, mas cenário econômico global deve servir de alerta

O movimento de expansão internacional das fintechs brasileiras tem crescido, recentemente. Enquanto o Nubank anunciou que tomou uma linha de crédito de US$ 650 milhões para ampliar sua atuação em outros países, o Banco Inter (BIDI4;BIDI11) informou que quer se tornar o ‘banco do imigrante’ nos EUA, mas especialistas destacam que as legislações financeiras de cada país podem ser um impasse às ambições da fintech.

Segundo Fabrício Gonçalvez, CEO da gestora Box Asset Management, um dos maiores desafios do Inter em relação a sua internacionalização será o procedimento adotado para lidar com as taxas de diferentes países. 

“A legislação financeira é particular de cada país, sempre existem diferenças. Os bancos operam no mercado nacional com spread (diferença entre juros pagos pelo banco em produtos oferecidos por ele e os juros que a instituição cobra nos empréstimos ou financiamentos) compatível com a taxa de juros vigente, inadimplência e outros fatores de riscos do Brasil. No exterior, será preciso adequar a realidade local”, destacou Gonçalves. 

De acordo com o analista, a expansão da empresa nos EUA deverá servir de oportunidade para ampliar a base de clientes, desenvolver novos serviços e diversificar o portfólio de receitas. 

“Os desafios existem, sobretudo num setor com forte concorrência. O banco precisará se adaptar à nova realidade, e aos mercados desenvolvidos”, disse o especialista.

O presidente do Conselho de Administração do Banco Inter, Rubens Menin, afirmou, em entrevista recente ao “Estadão” que, além dos Estados Unidos, o banco também planeja adentrar ao mercado europeu através de aquisições.

O executivo espera que até 2025 a base de clientes nos EUA seja maior do que a do banco no cenário doméstico. Atualmente, o banco conta com uma base de cerca de 18,6 milhões de clientes no Brasil. Até o fim deste ano, o Inter planeja chegar a 1 milhão de clientes nos EUA.

Para facilitar a atuação nos mercado norte-americano, o Inter fez a aquisição da fintech global USend, em 2021, que possui licença para atuar em mais de 43 estados nos EUA. Além disso, a companhia também fez uma parceria estratégica com a Apex, para ter um home broker internacional dentro da sua plataforma. 

“Essa aquisição da USend não é uma aquisição sem pensar. A USend trabalha bastante com imigrantes dentro dos EUA e o Inter vai se aproveitar disso, para se tornar o banco desses imigrantes e, com isso, vai oferecer também benefícios do seu ecossistema para esses clientes”, disse Victor Bueno da Nord Research.

“Então os clientes que eram apenas da USend estarão sob o guarda chuva do Inter, que oferece uma gama muito maior de serviços, produtos, marketplace, interinvest… vai ser o famoso ‘ganha ganha’, tanto para os clientes da USend, que agora serão clientes do Inter quanto para o Inter que vai ganhar uma base de clientes nos EUA”, explicou Bueno.

“A conta em parceria com a Apex permite que o cliente faça investimentos nos EUA, em ações e outros ativos, então são movimentos que aceleram o processo pro Inter se tornar uma empresa global”, complementou Bueno. 

Banco Inter retoma processo de migração para a Nasdaq

Para além da ida aos EUA para buscar clientes, o Inter também quer capturar o investidor norte-americano. Em comunicado realizado na última sexta-feira (15), o Inter informou que está retomando sua migração para a Nasdaq. Com a repercussão da notícia nesta segunda-feira (18), as units da instituição (BIDI11) encerraram o dia em alta de 4,42%.

“Pensando a longo prazo, a ideia (de levar o Inter à Nasdaq) é ter acesso a uma nova base de investidores. Lá fora, a gente precisa reconhecer que, no geral, são investidores mais sofisticados, que estão mais familiarizados com empresas de tecnologia, que é o caso do Inter”, afirmou João Arthur, CIO da Suno Wealth.

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Apesar de parecer um bom negócio para os bancos, devido aos ganhos em operações de mercado (com um maior spread em operações de crédito), a alta de juros tem um impacto maior para as companhias que possuem fluxo de caixa de longo prazo (como é o caso do Banco Inter). Por isso, segundo Arthur, a transição para o mercado norte-americano deverá ser um grande desafio para a empresa.

“O banco tentou fazer esse movimento (de ida à bolsa dos EUA), e não conseguiu. Agora, eles devem vir mais estruturados. Outro desafio é fazer isso em um momento de volatilidade dos mercados e de alta de juros nos EUA, que prejudica principalmente esse tipo de empresa, mais focada em crescimento, que tem seu resultado mais a frente”, disse o analista.

Mesmo com uma base de clientes grande no Brasil, o setor de atuação do Inter no mercado  está acirrado. Isso porque os bancos tradicionais estão disputando a mesma base de clientes com os bancos da nova era, como o Nubank e o Banco Inter. 

“Além do desafio do crescimento, tem o desafio da monetização. Não basta você crescer, ainda mais com essa alta de juros, e com o crescimento perdendo um pouco de tração, o mercado começa a questionar cada vez mais quando é que vai vir e como vai vir a monetização desses clientes”, disse Arthur sobre o Banco Inter.

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