Quando o Pix foi lançado em outubro de 2020, muitas pessoas esperavam que os bancos fossem afetados pela ferramenta, pois ela implicaria em uma descentralização de poder e redução do lucro das instituições financeiras brasileiras. Neste ano, ao contrário do imaginário popular, os bancos têm mostrado cada vez mais força e estão registrando balanços históricos.
Em 8 de agosto, o tradicional Itaú Unibanco (ITUB4) anunciou que o lucro recorrente entre abril e junho somou R$ 7,6 bilhões, alta de 17% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Um dia depois, o banco BTG (BPAC11) registrou seu melhor trimestre da história. A empresa apresentou lucro líquido ajustado de R$ 2,175 bilhões entre abril e junho, tendo alta de 26% em comparação com o mesmo período do ano passado.
Em 10 de agosto, foi a vez do Banco do Brasil (BBAS3): a estatal registrou lucro líquido ajustado de R$ 7,8 bilhões entre abril e junho, representando uma alta de 54,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
Três bancos diferentes, três balanços históricos. A pergunta que fica é: por que a popularização do Pix não conseguiu atrapalhar o desempenho dos bancos? De acordo com analistas consultados pelo BP Money, grande parte da receita dos bancos está concentrada no crédito, área fora do alcance do Pix.
Bancos mostram que Pix não afeta maior parte da receita, apontam analistas
Segundo Gabriel Gracia, analista da Guide Investimentos, a maior parte da receita dos bancos é oriunda da margem de crédito, logo o Pix não representa grande ameaça para o desempenho monetário dessas instituições. Ele ainda lembra que o Pix não é isento para pessoa jurídica, fato que beneficia os bancos.
“A maioria da receita do banco vem de crédito. Além disso, o Pix continua sendo cobrado pela pessoa jurídica, logo o Pix não representou uma perda tão grande de valor para os bancos”, afirmou.
Ricardo Julio Rodil, líder de Capital Markets, acredita que o Pix não afetou os bancos por conta da grande variedade de serviços prestados pelas instituições financeiras. Para Rodil, os bancos têm voltado mais olhares para as fintechs e menos para a ferramenta Pix.
“Os bancos têm uma variedade enorme de serviços. Segundo me confidenciou recentemente um ex-diretor do Banco Boston, a implantação do Pix “não fez nem cócegas” na estrutura de receita dos bancos. Pessoalmente acredito que os bancos estejam prestando mais atenção à evolução das ‘fintechs’, mesmo que os resultados destas tenham se mostrado pífios até agora”, contou.
Assim como Rodil, Enrico Cozzolino, head de análise Levante Investimentos, compartilha a ideia de que os bancos possuem outras preocupações que vão muito além do Pix.
“Apesar da parte de Ted estar sofrendo um pouco com o Pix, grande parte do resultado dos bancos vem da parte de crédito, dos cartões, de seguros. Acredito que os bancos têm estado mais preocupados com a inadimplência, por causa da pandemia”, explicou.
Além de não atrapalhar, Pix pode beneficiar bancos
Segundo Rodil, o Pix apresenta vários prós na visão dos bancos. Ele acredita que, apesar da ferramenta afetar uma parte das receitas, o Pix faz com que as empresas apresentem menos custos administrativos.
“Acredito que o impacto seja neutro. Por um lado, os bancos perdem a receita da tarifa cobrada em transações como TED e DOC. Por outro lado, a transferência via Pix, não pode ser estornada. Assim, os bancos economizam em burocracia interna, o que pode levá-los a diminuir custos administrativos”, explicou.
Gracia também crê que o Pix pode ajudar os bancos. Como o Pix da pessoa jurídica continua sendo cobrada, as intuições financeiras podem se beneficiar com a cobrança de taxas.
“Com o Pix, houve um aumento da velocidade das transações, que pode vir aumentar também o volume de transações feitas por meio do banco, substituindo o dinheiro e até o cartão de crédito. Com um maior volume, maior a receita do banco, pois como o Pix da pessoa jurídica continua sendo taxado, a instituição pode acumular um maior ganho em taxas”, explicou.
Cozzolino acredita que a ideia de que o Pix iria prejudicar os resultados dos bancos é fantasiosa, pois, além da receita dessas instituições serem oriundas do crédito, eles sempre se adaptam à tecnologia.
“Essa ideia do Pix descentralizar o poder dos bancos é muito agressiva. Primeiro: não há descentralização porque grande parte do poder e receita dos bancos vem do crédito. Quem empresta dinheiro, realiza financiamento e dispõe de linhas de créditos são os bancos. Segundo: os bancos são gigantes e são ‘tech’”, afirmou.
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Mesmo com a popularidade do Pix estar cada vez mais em alta, Rodil afirma que a moda não irá afetar os grandes bancos no futuro, apesar da ferramenta já ter representado uma perda de R$ 2 bilhões nos cofre dos quatro maiores bancos do País (Itaú, Banco do Brasil, Santander e Bradesco).
“Apesar dos quatro maiores bancos do País terem perdido no ano passado ao menos R$ 2 bilhões com as transferências instantâneas via Pix, não acredito que os executivos dos bancos estejam preocupados com esse aspecto. O impacto da perda de receita causada pelo Pix teve um efeito marginal nos resultados dos bancos, amplamente compensadas pelos aumentos no spread, operados em paralelo com os aumentos da Selic”, justificou.
Gracia também partilha da ideia de que, no futuro, o Pix ainda não terá força de atrapalhar o balanço dos maiores bancos do Brasil.
“O Pix não é uma coisa que vai mudar tanto a receita do banco e seu futuro, pois a receita vem da margem de crédito. A grande questão dos bancos não é propriamente as transferências e serviços bancários”, afirmou.