Berkshire (BERK34) retoma convenção depois de dois anos; saiba como foi

O CEO Warren Buffett e outros executivos da companhia se reuniram para responder questões de investidores

Todos os anos, uma multidão de investidores ruma a Omaha, no estado de Nebraska, nos Estados Unidos, para a assembleia anual da Berkshire Hathaway (BERK34). Em 2022, os acionistas aguardavam ansiosamente pelo encontro, o primeiro após dois anos de suspensão por conta das restrições provocadas pela pandemia da Covid-19. Entre os nomes mais ilustres, estavam o CEO do JP Morgan Chase & Co, Jamie Dimon, e o ator norte-americano Bill Murray, apontou a “Reuters”. 

Muitos liberaram o sábado (30) de compromissos para ouvir qual seria o futuro de seu dinheiro aplicado com a gestora. Antes da abertura dos portões às sete horas da manhã, milhares de pessoas já se aglomeravam sob a chuva e do lado de fora da arena que abrigaria a reunião. A expectativa da Berkshire era de um índice de abstenção maior do que em 2019, e, de fato, cerca de 10% a 15% dos assentos do estádio, que costumava lotar antes da pandemia, estavam vazios, apontou a agência de notícias. 

Neste ano, as tensões vêm se amontoando nos mercados globais em decorrência da escalada da guerra na Ucrânia e a volta dos surtos de coronavírus na China. Por isso, o CEO Warren Buffett e seu sócio, o vice-presidente, Charlie Munger, tiveram muito a responder nas cinco horas que abriram para questões de investidores durante a convenção. 

Começaram a por os pingos nos “i”s. Após a apresentação de resultados e da desaceleração no programa de recompra de ações para US$ 3,2 bilhões no primeiro trimestre, um recuo de 53%, lembraram que “dependemos de ativos mal precificados para ganhar dinheiro”, disse Buffett. 

Ambos criticaram os excessos em Wall Street, a que chamaram de uma “jogatina desenfreada”. Em fevereiro deste ano, na carta anual a acionistas, Buffett lamentou a falta de oportunidades de investimentos no mercado. 

Por muito tempo acusado de segurar o capital, o CEO rebateu que no primeiro trimestre a Berkshire impulsionou suas participações na Chevron, para US$ 25,9 bilhões, e comprou 9,5% de fatia da Activision Blizzard, a produtora de jogos eletrônicos responsável pelo game “Call of Duty”. O movimento da gestora seguiu a aquisição da companhia pela Microsoft, por US$ 68,7 bilhões.   

Indagado por um dos presentes sobre a mudança abrupta de postura, já que os investimentos bilionários foram anunciados apenas semanas após a publicação da carta, Buffett alegou que muitas oportunidades apareceram de forma abrupta. No caso da compra da seguradora Alleghany, um negócio de US$ 11,6 bilhões, a ponte foi feita pelo CEO da companhia, Joseph Brandon, amigo do investidor e ex-funcionário da Berkshire, que apresentou o relatório anual da empresa e, assim, convenceu Buffett.

Já sobre a compra de 14% da Occidental Petroleum, o CEO foi ainda mais direto. Explicou que foi uma decisão de investimento tomada depois de ler o relatório de analistas sobre a companhia.

Guerra nuclear é uma ameaça constante desde 1945, segundo Buffett

O CEO da Berkshire e Ajit Jain, vice-presidente de operações de seguros, foram mais reticentes quando questionados sobre a escalada da guerra no leste europeu e possíveis consequências para a companhia. Os riscos de eclosão de um conflito nuclear e de ordem global aumentou com as ameaças de Putin na última semana, em reação ao crescente apoio de países ocidentais à Ucrânia. 

Buffett acredita que os riscos de um ataque nuclear são baixos, embora reconheça que o cenário ainda seja muito instável para trazer essas respostas. “O mundo está jogando cara ou coroa todos os dias”, disse. Munger, por sua vez, reiterou que não há qualquer atitude que a Berkshire possa tomar no caso de um conflito entre o Kremlin e os Estados Unidos. “Não há nenhuma forma de nos protegermos de um ataque nuclear”, declarou.

O CEO lembrou que o mundo vive sob essa ameaça desde agosto de 1945, quando os EUA lançaram bombas nucleares no Japão, no episódio de ataque contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki. “Existe o risco e não há nada que a Berkshire possa fazer. Algumas pessoas fazem coisas horríveis e só podemos esperar que não afetem o mundo inteiro.”

Bitcoin é carta fora do baralho para Buffett e Munger

Os executivos reiteraram seu posicionamento contra os investimentos em bitcoin. Para Buffett, os riscos de apostar em um ativo que não produz nada são muito grandes. “Se oferecessem 1% ao nosso grupo de fazendas ou de ativos imobiliários, eu assinaria um cheque. Mas para comprar bitcoin, não. A única coisa que eu poderia fazer com um bitcoin seria vendê-lo de volta”, defendeu.

Munger foi além, recobrando a fala de Nancy Reagan de que, se um conselheiro recomendar por toda sua aposentadoria em bitcoins, “simplesmente diga ‘não’”. O vice-presidente da Berkshire, ainda deu créditos ao presidente da China, Xi Jinping, por banir as criptomoedas do país. “Eu tento evitar coisas estúpidas, ruins ou que me fazem parecer mal, e o bitcoin faz as três coisas”, declarou. 

Com mais de 90 anos, executivos tranquilizaram acionistas sobre sucessão da Berkshire

Grandes nomes do mercado financeiro, reconhecidos como os maiores investidores dos EUA, Buffet, aos 91 anos, e Munger, com 98 anos, tranquilizaram os acionistas da companhia sobre o processo sucessório e a continuidade dos negócios. “A Berkshire é uma construção eterna”, disse.

Na ausência de Buffett, o executivo Greg Abel, atual vice-presidente da divisão de operações não relacionadas a seguros, assumiria a cadeira de CEO. Durante a convenção, os acionistas rejeitaram propostas para nomear um nome independente para assumir a sucessão. Mario Gabelli, presidente da Gamco Advisors e um investidor proeminente da companhia, se opôs ao fim da presidência de Buffett. “Não faz sentido, no caso da Berkshire Hathaway, porque esse homem fez um trabalho fantástico por 50 anos”, disse.

Da sua parte, Buffett fez questão de lembrar que há outros gestores por trás da empresa. “Vejo manchetes todos os dias falando que Buffett está comprando alguma coisa, quando é a Berkshire que fez isso. Algumas vezes eu nem sei do que se trata”, disse. 

Investidores também derrubaram as propostas para que a Berkshire Hathaway divulgasse mais informações sobre como seus negócios promovem a diversidade ou como a empresa aborda os riscos com as mudanças climáticas. 

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