Black Friday mais fraca confirma ano desafiador a varejistas

Quarto trimestre deve ser tímido para empresas do varejo, seguindo tendência do terceiro tri, segundo analistas

Dados de empresas de consultoria confirmaram que a Black Friday de 2022 foi mais fraca do que a de 2021, ao menos no segmento de e-commerce – braço forte de grandes varejistas da bolsa de valores de São Paulo (B3). Para analistas consultados pelo BP Money, a desaceleração nas vendas era esperada, devido ao cenário macroeconômico, e confirma o cenário desafiador para o setor varejista. 

Para a analista Paolla Mello, da GTI, as vendas da Black Friday foram piores do que o esperado, o que confirma o cenário desafiador para o varejo. Entretanto, as vendas abaixo do ano anterior no e-commerce não devem impactar, significativamente, o último trimestre de 2022 das empresas do setor na bolsa. 

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“O maior evento que mexe com o trimestre dessas empresas é o Natal. No consumo menos discricionário, vimos mercado e farmácia com números muito bons, mas é uma parte que não me surpreende muito, porque às vezes a pessoa só antecipa o consumo da semana seguinte. Na parte de bens mais duráveis, principalmente eletrônicos, telefonia, já era esperada a queda”, disse Mello, comentando sobre o números de supermercados e farmácias, que foram destaques nesta Black Friday.

A analista da GTI destacou que o mercado já está vendo a desaceleração do varejo há algum tempo, por conta do cenário macro. 

“Ouvimos os consumidores falando que teve menos promoções. Isso já mostra que uma parte do balanço das empresas já está mais leve, então não tinha excedente de produto para queimar com margem baixa, isso acaba sendo até uma boa notícia do ponto de vista do balanço dessas varejistas”, afirmou Mello. 

Segundo Mello, a Black Friday deste ano “deu o tom” do que vai ser o quarto trimestre para as varejistas. “Esperamos um trimestre mais tímido. Acho que vai ser mais do mesmo do que a gente viu também no terceiro trimestre deste ano”, acrescentou Mello. 

De acordo com dados da consultoria NielsenIQ|Ebit, o faturamento bruto do e-commerce teve queda de 23% na Black Friday, realizada na última sexta-feira (25). Já os dados da Neotrust e da ClearSale mostraram que houve queda de quase 30% nas vendas do varejo online. Esta foi a primeira queda nas vendas desde 2010, quando aconteceu a primeira Black Friday no Brasil. 

A mudança no hábito de consumo (influenciada pela Copa do Mundo) também foi apontada como um possível fator para a alteração no foco de gastos dos consumidores nesta Black Friday. 

Para Luan Alves, analista chefe da VG Research, o resultado da Black Friday não deve ser olhado de maneira isolada, já que, no Brasil, a Black Friday ocorre em semanas ou durante um mês e não especificamente em um só dia.

“As empresas tendem a aproveitar o período para lançar uma Black Week ou até mesmo Black Month. Diversas varejistas se anteciparam e desde setembro já estão realizando diversas promoções para itens específicos como, por exemplo, televisores. A Copa do Mundo é um grande impulsionador para as vendas de televisores e deve ajudar bastante as vendas da Via, Magazine Luiza e Americanas”, disse Alves.

O analista destacou que as pesquisas divulgadas pelas consultorias consideram apenas o dia 25 de novembro deste ano, o que pode passar dados que não condizem 100% com a realidade das empresas listadas, que fizeram campanhas e promoções durante semanas ou o mês inteiro de novembro.

“Outro ponto que pode pesar a favor das varejistas é o fato de que historicamente elas crescem acima da média do mercado. Com isso, há expectativa também de que os números das varejistas da bolsa sejam melhores do que os apresentados de maneira setorial pelas consultorias Neotrust, NielsenEbit e ICVA Cielo”, afirmou Alves. 

Alves também reforçou que o momento atual é de cautela para o setor varejista e o quarto trimestre ainda é incerto, em relação ao sucesso das vendas dessas empresas. 

“No cenário macroeconômico, a inflação e taxa de juros ainda elevada devem impactar na demanda, além da confiança do consumidor que está em queda”, disse Alves.

“É difícil prever qual será o desempenho de cada varejista da Bolsa no 4T22, isso porque existem muitos fatores macroeconômicos e eventos em conjuntos que atrapalham a visibilidade. Além disso, é importante citar que a Black Friday e o quatro tri não estão fortemente no radar do investidor. Essas empresas estão respondendo muito mais pelas expectativas em relação ao cenário macroeconômico do ano de 2023”, completou Alves.

Consumo discricionário ficou de lado na Black Friday 2022

De acordo com pesquisa realizada pelo Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), o  segmento que mais se destacou na Black Friday 2022 foi o de Drogarias e Farmácias, com crescimento de 25,9% nas vendas. Em seguida, Turismo e Transporte, com alta de 25,1% e Cosméticos e Higiene Pessoal, subindo 22,2% em relação ao ano passado, foram os destaques da última sexta-feira (25).

Segundo Rodrigo Fraga, analista da Guide Investimentos, a performance das lojas físicas pode ter recompensado, em alguma parcela, a queda do e-commerce na Black Friday deste ano. Estima-se vendas com mais promoções para o Natal.

“Até que ponto essa queda no e-commerce foi compensada por vendas em lojas físicas ainda é uma incerteza, mas o que eu diria que seria o bottom line dessa dinâmica toda é que eu acho que as empresas talvez precisem manter o ambiente promocional por um prêmio um pouco maior de tempo, talvez aproveitar festas de final de ano para tentar escoar um pouco do estoque que foi montado para Black Friday, que acabou, de certa forma, não se convertendo em vendas”, disse Fraga.