Na BRF (BRFS3), desafio de novo CEO está na redução de despesas

Empresa passou a ter Miguel Gularte como CEO, após renúncia de Lorival Luz; veja o que muda

Com a saída de Lorival Luz e a entrada de Miguel Gularte como CEO (diretor-presidente) da BRF (BRFS3), a companhia do ramo alimentício ganha um novo olhar do mercado sobre sua gestão. Gularte era CEO da Marfrig (MRFG3) e possui uma ampla experiência no setor. De acordo com analistas consultados pelo BP Money, a mudança no comando está ligada a uma estratégia de linha de produção e de crescimento. Contudo, a BRF terá na redução de despesas o seu maior desafio.

De acordo com o analista Flávio Conde, da Levante, um dos maiores empecilhos da BRF está em diminuir custos com ração para suínos e aves. 

“Gularte tem uma experiência muito rica e bem sucedida como diretor-presidente da Marfrig e está indo para uma empresa que precisa de uma chacoalhada. Primeiro, ele tem que fazer a companhia entrar em um ritmo mais forte, com a redução de despesas operacionais e também elevação de margem”, disse Conde.

“Elevação de margem é uma coisa difícil na BRF. Muitos já tentaram, mas o fato deles comprarem milho e soja, no preço do mercado, praticamente todo mês, isso daí deixa eles à mercê de uma coisa que eles não controlam. Falta esse controle de margem e acho que o preço é uma coisa importante. Acho que a BRF tem que se concentrar mais em margem do que em volume”, complementou o analista da Levante.

Em junho de 2021, a Marfrig anunciou que passou a deter 31,66% do capital social da BRF, que até então era sua concorrente. Já em 2022, a empresa aumentou sua posição para 33,25%. O movimento acendeu um alerta para o mercado, que especulou a possibilidade de uma fusão. Esse rumor voltou a ser especulado, com a notícia de que Gularte sairia da Marfrig para assumir o comando da BRF. 

Apesar de ter sido negado pela companhia em comunicado ao mercado, Conde, analista da Levante, acredita que a troca no comando pode, sim, facilitar uma futura fusão. 

“Apesar da BRF ter negado, a mudança no comando facilita uma eventual fusão entre Marfrig e BRF lá na frente, já que a Marfrig é o principal acionista da empresa junto com o Molina, então isso eu acho que, não necessariamente vai acontecer no curto prazo, em 1 ou 2 anos, mas pode acontecer em 4 ou 5 anos, e eles teriam diversas sinergias”, destacou Conde.

Segundo o analista da Levante, as duas empresas poderiam formar uma forte companhia do setor alimentício. “A Marfrig é forte na América do Sul e nos EUA e é fraca no Brasil, na parte de consumidor, enquanto a BRF é forte no Brasil, na parte de consumidor, e forte em Ásia, Oriente Médio e um pouco de Europa e não está, praticamente, em Estados Unidos e América do Sul, então acho que uma fusão lá na frente seria muito interessante”, pontuou Conde.

Em contrapartida, o analista e CEO da Harami Research, Alexandre Milen, afirmou que não vê possibilidade de fusão com esse movimento. “Percebemos mais uma estratégia de desenvolvimento da empresa, do que uma tática de fusão. É mais uma estratégia de linha de produção e de crescimento mesmo”, disse Milen.

Mesmo com uma possível junção entre as empresas, BRF e Marfrig ainda ficariam atrás de JBS, em valor de mercado. De acordo com informações do “Valor Empresas360”, consultadas pelo BP Money nesta quarta-feira (31), o valor de mercado da JBS é de R$ 67,7 bilhões, enquanto Marfrig e BRF valem R$ 9,25 bilhões e 17,38 bilhões, respectivamente. 

BRF não quer perder marketshare

Com o prejuízo reportado segundo trimestre de 2022, de R$ 468 milhões, a BRF poderia ter passado a imagem, de acordo com Raphael Voltolini, Head da Monet Investimentos SP, para alguns do mercado, de que estaria abrindo mão de seu marketshare, da sua posição no mercado. A troca no comando, segundo Voltolini, mostra o contrário. 

“Com essa troca, entrando Gularte, dá uma resposta de que a BRF não está querendo perder seu posicionamento, não está querendo deixar de lado seu marketshare e mostra que a empresa pretende fazer um ajuste em algumas áreas”, disse Voltolini. 

“O que se espera do Miguel Gularte é que ele traga a experiência que ele tem no mercado bovino para melhorar a forma como a BRF vem trabalhando no seu mercado, trazendo mais eficiência, rigor e gestão”, complementou o Head da Monet Investimentos. 

Para Alexandre Milen, analista e CEO da Harami Research, com a entrada da Gularte na BRF, a empresa deve apresentar um crescimento, mas não no curto prazo. “A curto prazo, é melhor esperar. Em resumo, seria pela competência dele (Gularte), a agilidade na linha de produção, as ideias de exportação e talvez um crescimento da empresa mais a longo prazo, mas a curto prazo temos uma posição de neutralidade em relação a BRF”, disse Milen.

O CEO da Box Asset Management, Fabrício Gonçalvez, também afirmou que a mudança na BRF é, de uma certa maneira, positiva. “O papel de Gularte vai ser tirar a BRF da inércia. O que pode mudar é a filosofia da empresa. Gularte trabalhava no setor de bovinos. Ele conhece a maneira de trabalhar da Marfrig”, disse Gonçalvez.

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