A State Grid, gigante chinesa presente no Brasil desde 2010, adquiriu o maior lote disponibilizado no leilão de linhas de transmissão de energia elétrica realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica na B3, nesta sexta-feira (15).
A oferta contempla uma Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 1,937 bilhão, representando um deságio de 39,9% em relação ao teto estabelecido pela agência reguladora.
Vale destacar que, a State Grid, ao arrematar o lote, prevê a construção de 1.468 quilômetros (km) de linhas de transmissão em corrente contínua, atravessando os estados de Maranhão, Tocantins e Goiás. O prazo estipulado para a conclusão do projeto é de 72 meses, marcando o período mais extenso já concedido pela Aneel devido à magnitude e complexidade do empreendimento.
Suspeita de favorecimento
Concorrentes da State Grid no leilão reclamaram que os termos do edital favoreceram os chineses desde o início. “O lote 1 [o maior dos três colocados à venda] foi desenhado para os chineses ganharem,” disse ao site Brazil Journal um investidor que acompanha o setor.
“Os termos do edital impunham um tipo de tecnologia, e o único fornecedor dessa tecnologia no Brasil são empresas chinesas”, acrescentou a fonte.
Um terço de todo o capex do lote 1 — que demandará investimentos de mais de R$ 18 bilhões — terá que ser gasto num sistema de corrente contínua conhecido como HVDC (high voltage direct current). Mas o sistema escolhido pela ANEEL foi uma tecnologia de HVDC antiga, que quase não é mais usada nos novos projetos de transmissão.
“Todos os novos projetos, com exceção dos chineses, estão migrando para uma nova tecnologia de HVDC que tem fornecedores globais como a Siemens e a Hitachi,” disse um dos participantes.
“Mas, por algum motivo, a ANEEL optou por essa tecnologia mais antiga. Se eles tivessem optado por outra, certamente haveria mais competição.” Segundo este participante do leilão, essa tecnologia de HVDC mais antiga é fornecida basicamente por empresas chinesas no Brasil — e todas pertencem à State Grid.
O consórcio Olympus XVI — composto pela Alupar e a Perfin — também fez uma oferta. Segundo uma fonte próxima ao consórcio, isso só foi possível porque o consórcio conseguiu ontem a noite a garantia de um grupo japonês para o fornecimento da tecnologia por um preço-teto.
Ainda assim, como a garantia veio de última hora, “eles não tinham muita precisão dos números e não conseguiram ser mais agressivos,” disse a fonte.
O leilão foi o maior da história da ANEEL, somando R$ 21,7 bilhões de investimentos em três lotes (a maior parte no lote 1). Para efeito de comparação: no último leilão, de junho, o capex foi de R$ 15,7 bilhões.
Gigante chinesa no Brasil
Atualmente, a State Grid possui no Brasil uma extensão de mais de 16 mil quilômetros de linhas de transmissão, seja por meio de parcerias com outras empresas ou como única responsável pelo projeto. Este abrange quase 30 mil torres distribuídas em 13 estados brasileiros, representando investimentos na ordem de R$ 28 bilhões.
Em média, o leilão foi encerrado com um deságio médio de 40,85%, prevendo investimentos totais de R$ 21 bilhões nos três lotes. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, celebrou os resultados, destacando que esses empreendimentos representam um passo significativo para viabilizar o amplo potencial de energia renovável do país. Ele acrescentou que, até o momento, mais de R$ 40 bilhões já foram mobilizados em projetos de transmissão ao longo deste ano.
Além da State Grid, o consórcio Olympus XVI, composto pelas empresas Alupar e Mercury Investments, conquistou o lote 2 com um deságio de 47,01%, enquanto o lote 3 foi arrematado pela Celeo Redes Brasil, superando a Eletrobras ao apresentar um desconto de 42,39% na fase de viva-voz.