
O mercado de construção civil vive um dos momentos mais restritivos da última década. Dados recentes revelam que a combinação de juros elevados, escassez de crédito e aumento dos custos de insumos vem redesenhando o ritmo dos lançamentos e pressionando margens de construtoras em todo o país. No primeiro semestre de 2025, o financiamento imobiliário proveniente da poupança caiu 54%, totalizando R$ 9,1 bilhões. Ao mesmo tempo, o volume financeiro do setor imobiliário no mercado de capitais cresceu 5%, passando de R$ 649 bilhões em dezembro de 2024 para R$ 681 bilhões em junho de 2025.
O levantamento mostra ainda que 52% das incorporadoras consideram o crédito bancário mais difícil de contratar neste ano, e 34% o classificam como muito difícil. Além disso, 54% das empresas do setor acreditam que a solução é buscar os recursos no mercado de capitais e em estruturas de crédito alternativas.
“O cenário atual tornou os financiamentos bancários mais caros e burocráticos. As exigências aumentaram, as garantias ficaram mais rígidas e os prazos de liberação se alongaram. Isso tem forçado muitas construtoras a adiar lançamentos e rever cronogramas de obra”, explica Volnei Eyng, CEO da Multiplike.
Ele destaca que o impacto se estende também ao comprador final. Com as prestações mais caras, a demanda recua e o fluxo de caixa das empresas perde força. A engrenagem do setor desacelera como um todo, o que afeta desde a absorção de unidades até a contratação de mão de obra e o investimento em novos projetos. Nesse contexto de restrição bancária, o crédito estruturado passou a ocupar espaço estratégico na cadeia da construção. Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), antecipações de recebíveis e operações híbridas com garantias imobiliárias se tornaram instrumentos fundamentais para manter obras em andamento e dar fôlego a construtoras e incorporadoras.
Essas estruturas permitem liberar capital de forma escalonada, conforme o avanço físico das obras, e substituem a dependência de bancos por soluções mais rápidas e customizadas. Segundo Volnei Eyng, após as novas regras da Caixa Econômica, houve uma migração intensa das construtoras para os FIDCs. Entre janeiro e setembro deste ano, o volume de operações de construtoras na Multiplike ultrapassaram R$ 400 milhões de reais, um crescimento de 122,28% em relação ao mesmo período do ano passado, quando atingiu R$ 180 milhões.
Para o total do ano de 2025, a previsão é liberar R$ 1 bilhão de crédito voltado à construção civil. “Temos casos em que construtoras conseguiram retomar obras paralisadas por falta de recursos, utilizando operações FIDC ou antecipação de recebíveis, liberando capital para pagar fornecedores e mão de obra. Em um exemplo recente, uma construtora com várias frentes de obra utilizou crédito estruturado da Multiplike para dar andamento em empreendimentos que ainda estavam em estágio inicial, alguns com apenas 10% a 15% de execução, conseguindo evitar paralisações e reajustar o cronograma de entrega”, conta Volnei.
A lógica por trás desse movimento é simples: previsibilidade e agilidade. Ao captar via estruturas alternativas, as empresas conseguem antecipar etapas, pagar fornecedores e ajustar desembolsos sem depender das demoradas aprovações bancárias. Além disso, essas operações permitem preservar liquidez, reduzindo o risco de paralisação de obras e garantindo a continuidade dos empreendimentos. Em muitos casos, o crédito estruturado tem sido a diferença entre entregar um projeto dentro do prazo ou deixá-lo parado no canteiro. O crédito disponibilizado pela Multiplike prioriza operações com prazos entre 12 e 36 meses, adaptadas ao ciclo de execução de cada obra, e garantias baseadas em recebíveis, estoques ou vendas futuras.