Abrir o próprio negócio é o sonho de muitos brasileiros. O problema é que, logo de cara, é preciso lidar com a burocracia da abertura de empresa e tudo o que engloba os serviços de contabilidade, o que acaba (muitas vezes) desestimulando os pequenos empresários. A saída, há pouco menos de uma década, eram os escritórios de contabilidade, que cobravam caro pelo serviço (em média um salário mínimo). Hoje, entretanto, a tecnologia é a grande responsável por automatizar grande parte dos trâmites contábeis, através de sistemas como o da Contabilizei. Apesar de existirem outros serviços parecidos com o dessa startup, a empresa aposta na escalabilidade do seu sistema operacional e em novas soluções para se destacar no mercado e expandir suas operações no cenário doméstico.
Em entrevista ao BP Money, Guilherme Soares, vice-presidente de Growth da Contabilizei, disse que um dos principais diferenciais da empresa está no seu operacional, graças ao time de tecnologia da empresa, que conta com 250 profissionais.
“A gente investe muito em tecnologia, e não é fácil operar no Brasil. Cada cidade tem a sua política fiscal, cada imposto tem sua regra, e a gente conseguiu desenvolver um modelo para mais de 50 cidades que é super escalável. Não é fácil construir isso, então a gente consegue ter um ganho de escala e repassar esse ganho para o empreendedor. Acho que o nosso sistema proprietário é um dos nossos diferenciais”, disse Soares.
Outro diferencial citado por Soares é o portfólio variado de soluções. A companhia tem, atualmente, cinco planos disponíveis para os empreendedores, que vão desde o mais simples (para empresas com faturamento de até R$ 25 mil mensais) até o mais completo (para companhias com faturamento mensal de até R$ 300 mil) e oferece alguns serviços adicionais, importantes na geração de receita para a startup.
“A gente oferece um menu para o consumidor, que pode se adaptar de acordo com o negócio dele. Temos mais opções para o empreendedor escolher. Além disso, a gente entendeu que o empreendedor tem muito mais necessidade do que só contabilidade e abertura de empresa. Empreender no Brasil traz outros desafios e complexidades”, afirmou Soares.
Todos os planos disponibilizados pela Contabilizei, hoje, oferecem serviço de contabilidade completo, processo de abertura grátis e “abertura sem sair de casa”, além do atendimento via chat e e-mail.
“A gente tem hoje uma conta corrente CNPJ atrelada à contabilidade para facilitar essa gestão fiscal. Não só o cliente precisa de uma conta corrente no CNPJ como a gente já linka na contabilidade. A gente oferece plano de saúde, assessoria para fazer fluxo de caixa, e um sistema de cobrança de seus clientes. A gente agregou diversos outros serviços que o empreendedor precisa na jornada dele em um só lugar”, completou.
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Uma pesquisa recente realizada pela Global Entrepreneurship Monitor (GEM) junto ao Sebrae mostrou que houve um crescimento, em 2021, de quase 20% no número de novas micro e pequenas empresas frente ao número registrado em 2020. Foram cerca de 4 milhões de novos CNPJs abertos no ano passado.
Segundo o executivo de Growth da Contabilizei, a pandemia teve um reflexo positivo (considerando apenas a sua parte de negócios) para as empresas de contabilidade, já que houve um impulsionamento no movimento de procura por esse tipo de serviços oferecidos online.
“De 2020 para 2021 a empresa cresceu quase duas vezes. O ano passado foi bom para a empresa . O sonho do brasileiro agora não está em ter um emprego CLT, e sim em ter um negócio próprio e ter mais autonomia, do seu tempo, do seu investimento, então o mercado de abertura de CNPJs (não MEI) cresceu bastante esse ano. Nesse sentido, puramente econômico e de mudança de comportamento, a pandemia deixou um cenário positivo”, disse Soares.
Ele destaca que existem cerca de 9 milhões de empreendedores que utilizam contador e têm negócios mais complexos. Por isso, a empresa ainda não tem planos de expansão mirando o cenário internacional, por exemplo.“Tem muita coisa que precisa ser feita para ajudar o empreendedor brasileiro. A expansão desse serviço aqui no País é a chave”, destacou Soares.
Segundo o executivo, a pandemia forçou um processo de digitalização e fez com que esses empresários enxergassem a oportunidade de prestar serviços a distância.
“A pandemia aumentou a busca por serviços online não só de quem já ia abrir empresa/CNPJ, como aumentou o número de pessoas que foram para esse caminho”, reiterou.
Valuation da Contabilizei e formas de rentabilizar o negócio
A Contabilizei é cotada, em diversos sites, como um dos próximos unicórnios brasileiros (empresa avaliada em US$ 1 bilhão). O executivo de Growth da empresa, entretanto, preferiu não abrir informações que envolvem valores sobre a companhia.
Em março deste ano, a empresa de serviços de contabilidade recebeu um aporte de R$ 320 milhões, liderado pelo Softbank. A rodada também contou com a participação do Goldman Sachs e do Pruven Capital.
“Não abrimos o valuation, é um acordo que temos com nossos investidores, como o SoftBank, etc. As reportagens que saem citando a gente não são com dados internos, são pesquisas e opiniões de analistas. Para nós, o milestone (marco significativo para um negócio) de US$ 1 bilhão de valuation é tão importante quanto o milestone de US$ 10 milhões, como vai ser o de US$ 500 milhões, porque mostram que os investidores acreditam no que estamos fazendo”, explicou o executivo.
A Contabilizei tem um modelo simples de negócio, em relação às formas de gerar receita. De acordo com Soares, toda receita da empresa provém do cliente. Os pacotes de serviços de contabilidade são o carro-chefe, mas a empresa também ganha em serviços extras, ligados à área contábil.
“A receita vem do serviço de contabilidade, que você vê no site (planos). Uma outra linha de receita é quando o cliente precisa de algum serviço mais ligado à contabilidade. Ele pode precisar, por exemplo, de um histórico contábil para conseguir um empréstimo. São várias necessidades que entram como serviço adicional. A ideia não é ter superlucro nesta segunda frente, mas obviamente quando sai da rotina contábil, a gente tem uma linha de receita secundária”, contou Soares.
Uma terceira linha de receita da empresa, segundo o executivo, são os produtos que a Contabilizei passou a oferecer recentemente. Todas as soluções construídas pela empresa representam parte de seu ganho na receita. Quando um cliente faz alguma transação de conta corrente ou float, por exemplo, a companhia ganha um determinado percentual em cima disso.
Como surgiu a ideia de criar a Contabilizei
Soares conta que a ideia da empresa surgiu em 2013, com Vitor Torres (CEO da companhia) e Fábio Bacarin (CTO). Como empreendedor, antes de fundar a Contabilizei, Torres “sentiu na pele” a dificuldade em contratar serviços de contabilidade alinhados ao seu perfil, e notou que os serviços neste ramo eram muito manuais frente ao aumento dos serviços digitais na época, puxados pelos setores de bancos e delivery.
“O Vitor se juntou ao Bacarin e viu que era um serviço que tinha uma grande oportunidade. Decidiu então montar um processo com menos operações manuais e com uma interação mais digital até para o cliente, facilitando e ganhando eficiência”, contou Guilherme Soares.
Segundo Soares, a Contabilizei conseguiu trazer mais eficiência para todos os processos manuais, chegando a reduzir erros que podem acontecer em uma interação manual.
Além disso, a companhia conseguiu oferecer serviços por um preço abaixo dos escritórios de contabilidade. Dessa forma, o empreendedor que já tinha facilidade em atuar com a plataforma digital virou alvo da Contabilizei.
“A gente cresceu e se tornou líder nesse mercado com esse propósito. De certa maneira, eu gosto de comparar isso com o mercado imobiliário, com o Quinto Andar, especificamente. Acho que são 40 mil corretores de imóveis no Brasil. Era um processo mais manual, você tinha que ir até uma corretora e ela te apresentava um catálogo. O Quinto Andar já entrou com catálogo online, contrato online, interface com o inquilino toda online, etc. Eu acho que são setores que estavam em momento parecidos e a solução de digitalizar, tanto a comunicação quanto os processos que acontecem no back office, foi acertada”, disse.
Após conquistar o público do digital, a Contabilizei começou, em 2019, a lançar mais produtos para atender outras necessidades dos clientes.
“Por exemplo, tem o médico que tem uma agenda mais corrida e precisa de atendimento até 22h, então a gente lançou atendimento por telefone e Whatsapp em um outro plano. Tem gente que não tem tempo para emitir nota fiscal online ou não tem facilidade com o mundo online, então a gente lança um produto com o assessor, assim o cliente não precisa nem usar a plataforma”, contou Soares.
Com o negócio ganhando cada vez mais corpo, a Contabilizei busca, no longo prazo, a expansão de seus serviços, migrando até para a área educacional. “Talvez treinar empreendedor em onde abrir seu negócio, daqui a pouco a gente está ajudando empreendedor até em uma parte mais de educação ao empreendedor, então a gente vai expandindo em que temas a gente está ajudando o empreendedor e, obviamente, a gente tem o nosso esforço com a nossa área jurídica, até para tentar aumentar a padronização e digitalização de cidades e estados para que a gente possa também crescer para mais lugares no Brasil”, concluiu o executivo.