A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) decidiu abrir processo contra dois ex-executivos da resseguradora IRB Brasil Re por divulgação de informações falsas e manipulação de mercado em episódio que gerou a maior crise da história da companhia, no início de 2020.
José Carlos Cardoso e Fernando Passos ocupavam a presidência e a diretoria financeira da companhia quando disseram, em reunião com analistas, que o fundo de investimentos Berkshire Hathaway havia comprado participação relevante na empresa, levando as ações a subir 6,6% no dia seguinte.
A informação, porém, foi desmentida pelo fundo do megainvestidor Warren Buffet, que disse nunca ter participado e nem ter o interesse de participar da empresa, detonando uma onda de desconfiança em relação à gestão da companhia.
A reportagem ainda não conseguiu o contato de Cardoso e Passos. O IRB não quis comentar o assunto.
Cardoso e Passos renunciaram em meio à crise. Investigação contratada pela gestão que os substituiu detectou irregularidades no pagamento de cerca de R$ 60 milhões em bônus a diretores e colaboradores nos anos anteriores.
A investigação da CVM concluiu que Cardoso falhou em seu dever de diligência ao divulgar informação falsa ao mercado. Passos, por sua vez, é acusado de perpetrar a irregularidade de manipulação de preços no mercado de valores mobiliários.
Os problemas começaram no fim de 2019, depois que a corretora de valores Squadra questionou suposta maquiagem nos lucros da companhia, e se agravaram com o pedido de renúncia do presidente do conselho de administração, Ivan Monteiro, em fevereiro.
A notícia da compra de ações pelo Berkshire Hathaway foi dada logo depois a analistas e ao jornal O Estado de S. Paulo com o objetivo de reverter as desconfianças sobre a gestão da empresa.
O IRB tinha um agressivo programa de bônus para executivos, que premiava a diretoria também pela valorização das ações em bolsa. Entre 2017 e 2019, a companhia teve valorização de 200%, a terceira maior da Bolsa de São Paulo.
Além de detectar os responsáveis pela divulgação de informações falsas, as investigações da seguradora concluíram que entre fevereiro e março de 2020 a empresa recomprou um volume de ações maior do que as quantidades autorizadas pelo conselho de administração, processo que ajuda a valorizar os papéis.
Após o escândalo, o IRB Brasil Resseguros decidiu republicar o balanço de 2019, reduzindo em R$ 550 milhões o lucro líquido realizado durante o ano. A empresa anunciou ainda queda de 92,2% no lucro do primeiro trimestre.
O IRB disse, na época, que reavaliações dos resultados anteriores “confirmaram que uma série de registros contábeis conduzidos pela antiga diretoria estavam efetivamente incorretos e recomendavam ajustes”.