O dólar apresentava uma leve alta frente ao real nas primeiras horas de negociação desta sexta-feira (20), acompanhando seu fortalecimento em relação à maioria das principais moedas globais e emergentes.
Em contramão com a última sessão desta semana, o dólar apresentou queda durante sete pregões consecutivos. Os investidores no Brasil faziam ajustes em suas posições após as seguidas de desvalorização da moeda norte-americana no país.
Nos últimos meses, a moeda norte-americana tem oscilado, sem conseguir romper o patamar de R$ 5,70, gerando dúvidas sobre a possibilidade de ultrapassar esse valor.
A sócia da Matriz Capital e especialista em mercado de capitais, Aline Rosa explica que o Brasil tem se beneficiado de um cenário de forte fluxo de capital estrangeiro, em parte impulsionado pela resiliência da bolsa brasileira, que atrai investidores em busca de retornos em um momento de volatilidade global.
O que mantém o dólar abaixo de R$ 5,70?
O país se tornou um destino atrativo devido ao desmonte de operações de “carry trade” em outros mercados emergentes, como o México. Além disso, a postura do Banco Central, com uma política monetária mais conservadora, focada no controle da inflação, ajudou a evitar uma depreciação significativa do real.
Outro ponto importante, segundo Rosa, é o aumento da taxa Selic para 10,75% ao ano, que reforça a atratividade do Brasil para investidores, contribuindo para a valorização do real frente ao dólar.
Ela destaca que esse aumento pode continuar, caso a inflação persista, mantendo a moeda americana sob controle, pelo menos temporariamente.
Fatores que podem impulsionar o dólar para além de R$ 5,70
Para Daniel Toledo, consultor de negócios e advogado especializado em Relações Internacionais, eventos tanto no Brasil quanto no exterior podem desencadear uma alta expressiva do dólar. Ele aponta que a política monetária do Federal Reserve (Fed), caso opte por cortar ou aumentar as taxas de juros de forma abrupta, pode gerar uma migração de capitais de volta para os EUA, desvalorizando o real.
No cenário interno, Toledo alerta para o risco de incertezas fiscais e políticas no Brasil, o que afastaria investidores e pressionaria o dólar para cima.
Toledo também menciona que uma queda nos preços das commodities, combinada com crises econômicas globais ou regionais, poderia desencadear uma valorização do dólar frente ao real, superando a barreira dos R$ 5,70 e até chegando a níveis mais altos, como os temidos R$ 6,00.
Impactos nos setores econômicos
Caso o dólar ultrapasse os R$ 5,70, os setores mais impactados seriam aqueles que dependem de insumos importados.
Aline Rosa ressalta que a indústria automobilística, de tecnologia e eletrônicos, além dos setores químico e farmacêutico, seriam os mais prejudicados, pois veriam seus custos de produção aumentarem significativamente, o que, por consequência, afetaria o consumidor final.
Por outro lado, Toledo destaca que setores voltados para exportação, como o agronegócio e a mineração, seriam beneficiados com um dólar mais forte, tornando seus produtos mais competitivos no mercado internacional.
Estabilidade temporária ou estrutural?
A questão que ainda paira é se a atual estabilidade do dólar abaixo de R$ 5,70 é algo estrutural ou temporário.
Ambos os especialistas concordam que, embora existam melhorias nos fundamentos econômicos do Brasil, como o arcabouço fiscal e a atração de investimentos, é mais provável que essa estabilidade seja conjuntural, dependente de fatores externos e internos. Reformas econômicas mais profundas seriam necessárias para garantir uma mudança estrutural definitiva na economia brasileira.
Assim, enquanto o cenário atual oferece uma certa estabilidade, eventos globais ou domésticos inesperados podem mudar rapidamente a trajetória do câmbio, com implicações significativas para a economia do país.