Dona da Penalty, Cambuci SA (CAMB3) reverte placar e vê lucro crescer 600%

Covid na China prejudicou marcas importadas e alavancou as vendas da Cambuci SA (CAMB3); empresa espera crescimento de 60% no ano

Após ficar com as fábricas paralisadas por três meses, em decorrência da crise sanitária provocada pela covid-19, em 2020, a Cambuci SA (CAMB3) – dona da marca esportiva multinacional Penalty – montou uma estratégia para retomar os bons resultados no ano passado. Deu certo. Segundo Roberto Estefano, fundador e presidente do Conselho Administrativo da Cambuci S.A, a retomada da empresa foi “muito forte e rápida” e isso se deu, em parte, pelo investimento em “novos processos, tecnologias e produtos” durante a pandemia.

A empresa viu o lucro líquido do segundo trimestre de 2022 ter uma alta de 620,7% para R$ 15,1 milhões. Com isso, conseguiu reverter o prejuízo de R$ 2,9 milhões registrado no mesmo intervalo de 2021. 

“O que nos ajudou bem foi a procura dos clientes por fornecedores com produção mais próxima do consumo. Então a dependência de produto importado ficou complicada com a covid na China e agora com a guerra da Ucrânia, então existe de fato uma procura de descentralização de fornecimento da Ásia para algum outro lugar e o Brasil entra nessa mudança. A gente sente fortemente a necessidade dos clientes que dependiam de produtos importados comprando da gente”, afirmou Estefano em entrevista ao BP Money. 

Durante a pandemia, a dona da Penalty teve que fechar suas fábricas por três meses. Estefano explicou que a empresa teve que utilizar todos os benefícios oferecidos pelo governo para, posteriormente, pensar em uma retomada. Em 2020, a Cambuci teve um prejuízo líquido de R$ 7,7 milhões. Já no ano passado, a empresa viu o resultado melhorar e apresentou um lucro líquido, sem eventos não recorrentes, de R$ 27,6 milhões. 

“O pico da pandemia foi terrível. Ficamos três meses com as fábricas fechadas e sem produção e tivemos que utilizar férias antecipadas e outras ferramentas que o governo disponibilizou”, disse Estefano. 

O executivo da Penalty explicou que o fato da empresa trabalhar com esporte coletivo atrapalhou ainda mais os planos de retomada nos números. 

“Foi um período realmente complicado e foi se estendendo até meados de 2021, porque tivemos um repique no segundo trimestre de 2021, mas aí já estávamos escolados com as soluções e a partir do segundo semestre de 2021, a coisa começou a retomar com uma velocidade importante para nós. Foi realmente muito rápido e veio muito forte a retomada”, complementou Estefano.

Vai mudar: entra ESG e sai o patrocínio aos clubes do Brasileirão

Durante a entrevista ao BP Money, o fundador da Penalty citou que o diferencial da marca frente às gigantes do setor, como Nike e Adidas, está no custo benefício oferecido ao cliente. Estefano destacou que a marca sempre preza por entregar o melhor produto com um preço mais acessível. 

No cenário doméstico, a empresa se destaca de concorrentes, como a Topper, por ser uma produtora e ter tecnologia própria, segundo o executivo. 

“Temos fábrica própria e somos o principal player no segmento. A Topper é um licenciador de marca, não tem fábrica própria”, disse Estefano.

Em relação ao ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), a Penalty enxergou uma maneira de entrar, na prática, neste mercado, fornecendo bolas com a tecnologia “ECOKNIT”, feita a partir da reciclagem de quatro garrafas pet. 

A sigla ESG tem deixado de ser apenas um conceito sobre boas práticas empresariais. Hoje em dia, muitos investidores só investem em empresas alinhadas aos padrões ESG. Se uma companhia consegue integrar esse conceito ao seu negócio quer dizer que tem capacidade de arcar com compromissos relacionados ao meio ambiente e a sociedade. 

“Desde que implantamos essa tecnologia, já retiramos do meio ambiente mais de 350 mil garrafas pets. É um número bem legal, isso deu uma projeção para a marca. Hoje somos o principal player no grupo de trabalho de sustentabilidade e bola de alta performance na Fifa. A gente coordena isso em um grupo na Fifa, o que dá protagonismo para uma empresa brasileira em um órgão mundial”, comunicou a Penalty ao BP Money.

De acordo com Estefano, todas as empresas “têm que estar nessa onda” [do ESG]. “Somos a primeira empresa a lançar bola 85% sustentável. A Fifa pediu para que os fornecedores homologados trabalhassem em uma bola sustentável e fomos a primeira empresa a ter uma bola sustentável aprovada pela Fifa, que é a bola utilizada nos campeonatos regionais do Brasil hoje (Carioca e Paulista) e fora isso temos toda uma linha de calçados sustentáveis e roupa sustentável. A tendência é que a médio prazo a gente transforme grande parte da produção em produtos sustentáveis”, disse o fundador da Penalty. 

A Penalty já foi muito famosa por patrocinar grandes clubes do cenário nacional. Hoje, entretanto, a marca não atua mais nos campeonatos nacionais, como fornecedora de clubes. O motivo seria a complexidade para atender os grandes clubes.

“É muito difícil você lidar com os problemas, o clube te vê como uma solução financeira para ele, mas você não é, então você não consegue ter um relacionamento de parceria efetiva com o clube. O clube sempre precisa de dinheiro e você é o elo que eles acham que pode resolver o problema deles”, disse Estefano.

Entre as grandes equipes do futebol nacional, a Penalty já foi patrocinadora de todas, exceto Palmeiras, Flamengo e Internacional. 

“Fora esses três, todos os outros já patrocinamos. No momento, o que estamos esperando é uma solução para o problema da Liga. O problema dos clubes que estão se transformando em empresas. Quando isso tudo estiver estabelecido, a gente vai trabalhar para retornar para alguns clubes”, afirmou o fundador da Penalty.

Apesar de não estar na elite do futebol nacional, a Penalty é uma grande protagonista no mundo do futsal. A companhia já patrocinou a Seleção Brasileira de futsal e foi a fornecedora do material esportivo em quatro mundiais em que o Brasil se sagrou campeão. Atualmente, a empresa patrocina o Magnus Futsal, que possui dois títulos da Liga Nacional.

“O futsal é mais estruturado. As equipes são administradas por empresas. A coisa flui com mais facilidade. O relacionamento no futsal é realmente de parceria. Para nós, funciona muito bem. A maior parte da nossa receita vem do futsal e society (dividido). Em termos de volume de vendas, tende a ser mais para society e futsal do que para futebol”, finalizou Estefano.

Efeito da Guerra da Ucrânia sobre insumos da Penalty

A Penalty, atualmente, conta com uma produção “98% nacional”, segundo o executivo. Por isso, a empresa não tem visto tanto o efeito negativo da guerra da Ucrânia, por exemplo, em seus resultados. O repasse no valor final ao consumidor acaba sendo mitigado, já que a empresa usa grande parte dos insumos do mercado nacional.

“A gente traz alguma coisa de fora. 95% dos insumos são do Brasil, é pouca coisa que vem importada. Grande parte da nossa matéria prima é dependente de petróleo. Fio de nylon, fio de poliéster, laminado de PVC, entre outros, a maioria é dependente do petróleo, mas o preço no mercado interno deu uma estabilizada. Não houve uma escalada de aumento. Não existe mais nenhuma pressão inflacionária dentro do segmento das matérias primas”, explicou Estefano. 

“Estamos montando um projeto para expansão forte na exportação. Essa necessidade da descentralização de fornecimento da ásia vai propiciar muitas oportunidades aqui dentro do País e a gente quer aproveitar essa chance”, concluiu o executivo da Penalty. 

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