Ebanx demite 340 funcionários e assume reestruturação para focar no "core business"

Em comunicado à imprensa, a startup confirmou os cortes e associou a decisão ao foco em pagamentos internacionais. Além das demissões, projetos foram descontinuados e os planos para IPO nos Estados Unidos devem sair do radar neste ano

A startup de sistemas de pagamentos Ebanx demitiu 340 funcionários, cerca de 20% do quadro com 1,7 mil colaboradores, nesta terça-feira (21). Não é a primeira e dificilmente será a última notícia de demissões em massa neste ano. A persistência e o acentuamento da crise global enxugou as fontes de capital no mercado, o que vem provocando medidas drásticas, especialmente no setor de startups. A surpresa da notícia, no entanto, vem da brusca mudança de tom nas empresas.

Os desligamentos foram realizados na manhã desta terça-feira (21). Um a um, os funcionários foram chamados para reuniões de anúncio sobre os desligamentos. A notícia, informa uma fonte ouvida pelo BP Money, estaria ligada a “mudanças nas regras de negócio”, como teria sido alegado pela startup curitibana. O Ebanx emitiu um comunicado à imprensa confirmando os cortes e associando a decisão a uma “revisão em sua operação, reforçando o foco no que sempre foi seu core business: pagamentos internacionais.” 

A reestruturação provocou o descontinuamento de alguns projetos, além da demissão de 20% do quadro de funcionários na companhia. “A decisão foi tomada com base no cenário atual do mercado de tecnologia como um todo, impactado de forma profunda e veloz pelo ambiente macroeconômico. O Ebanx mantém o compromisso com sua sustentabilidade e crescimento, seguindo na missão de gerar acesso entre consumidores e empresas globais”, continuou a startup por meio de posicionamento, que pode ser lido na íntegra ao fim desta reportagem.

Brusca mudança de tom no mercado está ligado ao arrochar das condições de acesso a capital de terceiros

Faz pouco mais de um ano que o Ebanx recebeu um aporte de US$ 400 milhões do fundo de investimentos Advent. Era, até então, o segundo maior valor levantado por uma startup brasileira. Mas 2021 foi um ano profícuo para o setor, então a lista engordou. De junho passado até dezembro, o aporte série C do Ebanx caiu para a quarta posição desse ranking.

À sua frente já estava um aporte de série G do Nubank em janeiro, também no valor de US$ 400 milhões. Depois, vieram os investimentos de US$ 425 milhões na Loft e, em seguida, mais uma rodada de US$ 750 milhões liderada por Berkshire Hathaway e Verde Asset, entre outros, para a maior fintech da América Latina, ainda no mês de junho.

Um ano de dinheiro farto para os unicórnios (startups cujo valor de mercado ultrapassa US$ 1 bilhão), o que levou a um ritmo de aquisições recordes no setor. 

Na trilha do Nubank, o Ebanx tinha no seu horizonte fazer o IPO nos Estados Unidos dentro de 12 meses. Planos que pouco depois foram postergados, até saírem do radar 2022 adentro. Em entrevista à “Época Negócios” em abril deste ano, a presidente de pagamentos globais da startup, Paula Bellizia, explicou que a companhia estava bem financeiramente e não tinha pressa para a abertura de capital, então acompanharia a evolução das condições de mercado para definir uma nova janela. 

Poucos meses antes, em dezembro, o Ebanx tinha realizado a maior aquisição da sua história com a compra da plataforma de transferência de dinheiro Remessa Online por R$ 1,2 bilhão. O recurso vinha do caixa conquistado junto ao fundo norte-americano, que desde então havia virado sócio minoritário no negócio. 

À época do aporte da Advent, o Ebanx informou que o capital levantado seria destinado a quatro frentes: expansão para a América Latina, contratação de novos talentos, aquisições e a abertura de capital na Nadasq. 

Aí vem a virada do jogo. Pelo mais recente anúncio do Ebanx, a empresa, ao voltar ao fundamento do negócio, deve ter uma operação focada em uma frente, deixando a expansão para o segundo plano. Dos novos talentos, muitos se foram na onda de cortes desta terça-feira (21). E tampouco deve-se ter esperança para outras grandes aquisições num futuro próximo, porque o momento é de preservar caixa e trabalhar com os recursos à mão. 

Por fim, sobre os planos para o IPO, pelo rumar do cenário, não há qualquer indicativo de que a pauta volte à mesa de negociação tão cedo. 

Há menos de uma semana, o Fed (banco central norte-americano) anunciou a elevação da taxa de juros nos EUA em 0,75 ponto percentual e endureceu o tom sobre as suas políticas para conter a inflação. Mais do que isso, a tese sobre uma possível recessão no País vem ganhando cada vez mais força no mercado.

Por aqui, a situação não está muito melhor. O Copom reconheceu na ata publicada nesta terça-feira (21) que o patamar de juros no Brasil deve se manter por mais tempo que o esperado, colocando o cenário de referência para a Selic na casa dos 10% ao ano para 2023. Podemos esperar, portanto, uma realidade de taxa básica de juros ainda mais alta, segundo a própria entidade, dada a resistência do cenário inflacionário global.

As condições interferem no mercado a partir do momento que o investidor foge do risco para travar seu capital na renda fixa. Não à toa, as demissões em massa se multiplicaram em todo o mercado e nos negócios intrinsecamente ligados a ele, casos da Empiricus e do Grupo Primo, mais recentemente. Foi também o que gerou um “resfriamento” nas empresas afetadas pelo inverno cripto. 

O volume dos aportes deve ficar mais modesto – especialmente na comparação com o que uma vez foram -, enquanto a cobrança deve ser cada vez maior. Não só está mais difícil arranjar uma fonte de financiamento para os ativos de risco, como está mais caro também. 

Neste cenário de menor competitividade entre os fundos de private equity, os (raros) investidores têm um poder de negociação muito maior. 

Não está claro ainda a interferência da Advent, conhecida no mercado pelo envolvimento em intensas reestruturações nos ativos sob seu controle, como fez nos casos de Walmart Brasil, Yduqs (à época, Grupo Estácio) e mais para trás, quando estava no comando do Grupo Kroton, hoje Cogna. 

De qualquer forma, o diálogo com os fundos e acionistas está com certeza mais duro, e os acordos, mais difíceis de digerir. Isso tem levado a movimentos desesperados nas startups e em outras empresas, como as demissões em massa, o cancelamento de projetos já bem avançados e reestruturações profundas nos negócios.

Ninguém, muito menos o Ebanx, quer passar os próximos anos sem uma boa rede de proteção. Por isso, hoje os gestores estão dispostos a sacrificar muito mais. 

Leia o posicionamento do Ebanx sobre as demissões desta terça-feira (21).

Hoje o EBANX anuncia uma revisão em sua operação, reforçando o foco no que sempre foi seu core business: pagamentos internacionais. Estruturas foram reformuladas, alguns projetos estão sendo descontinuados e houve uma redução de cerca de 20% do quadro de mais de 1.700 funcionários do grupo EBANX. 

A decisão foi tomada com base no cenário atual do mercado de tecnologia como um todo, impactado de forma profunda e veloz pelo ambiente macroeconômico. O EBANX mantém o compromisso com sua sustentabilidade e crescimento, seguindo na missão de gerar acesso entre consumidores e empresas globais.

Os funcionários impactados por essa reestruturação receberão, juntamente com a sua rescisão, um pacote diferenciado de benefícios que inclui valores adicionais e extensão do plano de saúde, além do computador de trabalho. Fundado no Brasil em 2012, o EBANX processa pagamentos internacionais em 15 países da América Latina.

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