El Salvador torna-se primeiro país a ter bitcoin como moeda oficial

Entretanto, pesquisas mostram que a maioria dos salvadorenhos discordam do uso do bitcoin

El Salvador deve se tornar nesta terça-feira (7) o primeiro país do mundo a usar o bitcoin como moeda oficial, mas a população parece pouco confiante na mudança e deve continuar preferindo o dólar, como faz há 20 anos.

Pesquisas realizadas pela Universidade Centro-Americana (UCA) e pelo jornal La Prensa Gráfica, divulgadas na quinta-feira (2), mostram que a maioria dos salvadorenhos indicaram que discordam do uso do bitcoin.

“Um total de 82,8% [da população] têm pouca ou nenhuma confiança no bitcoin, e 95,9% consideram que o uso do mesmo deve ser voluntário”, declarou o reitor da UCA, Andreu Oliva, durante a apresentação do estudo.

O levantamento, com margem de erro de 2,7%, entrevistou 1.281 pessoas de todo o país entre 13 e 20 de agosto.

Outra pesquisa, feita pelo La Prensa Gráfica, perguntava: “Você aprova ou desaprova que o bitcoin seja uma moeda de uso legal em El Salvador?”. Um total de 65,7% desaprovam muito ou pouco, 8,5% aprovam fortemente e 14,4% aprovam parcialmente. Outros 11,5% não responderam.

O Congresso de El Salvador, um pequeno país da América Central com 6,45 milhões de habitantes (pouco mais da metade da cidade de São Paulo), aprovou em junho a lei que converterá o bitcoin em moeda legal a partir de 7 de setembro, com o objetivo de dinamizar a economia do país, dolarizada há 20 anos.

Trata-se de uma iniciativa do presidente do país, Nayib Bukele, cuja gestão tem alta aprovação pública.

Questionados sobre a moeda que irão usar, 71,2% dos entrevistados responderam na pesquisa da UCA que estão interessados apenas no dólar, 23,1% disseram que usariam bitcoin e dólar igualmente, 3,7% disseram que usariam apenas o bitcoin e 2% não responderam.

“Encontramos pela primeira vez uma divergência importante entre a população e decisões que estão sendo tomadas pela Assembleia Legislativa e o presidente da República”, comentou o reitor da universidade.

A adoção do bitcoin como moeda oficial foi alvo de críticas pelo FMI. Em junho, logo após a decisão do Congresso salvadorenho, o Fundo Monetário Internacional disse que a medida pode criar riscos e desafios regulatórios.

A Lei Bitcoin, com apenas 16 artigos, determina que a taxa de câmbio entre o bitcoin e o dólar americano “será estabelecida livremente pelo mercado”.

A novidade respingou em Honduras (9,75 milhões de habitantes), que estreou na semana passada seu primeiro caixa eletrônico de criptomoedas. Investidores locais de bitcoin buscam estimular a demanda por ativos virtuais após o país vizinho torná-lo moeda legal.

A máquina, batizada de “la bitcoinera”, permite que usuários comprem bitcoin e ethereum usando a moeda local lempira (1 lempira equivale a cerca de R$ 0,22) e foi instalada em um prédio de escritórios na capital Tegucigalpa pela empresa hondurenha TGU Consulting.

Juan Mayen, 28, executivo-chefe da TGU, liderou a operação para levar o caixa eletrônico a Honduras, na tentativa de educar as pessoas sobre ativos virtuais. Até agora, não havia no país maneira automatizada de comprar criptomoedas, disse.

“Você tinha que fazer peer-to-peer, procurar alguém que estivesse disposto, encontrar com ele pessoalmente e carregar uma quantidade x de dinheiro, o que é muito inconveniente e perigoso dado o ambiente em Honduras”, disse.

El Salvador e Honduras formam, com a também vizinha Guatemala, o chamado Triângulo do Norte, região com altos índices de criminalidade que responde por cerca de 4,5% dos homicídios em todo o mundo, apesar de concentrar apenas cerca de 0,5% da população mundial.

Na sexta-feira (3), um ethereum era negociado por US$ 3.237 (R$ 16.728), e uma bitcoin, por US$ 48.140 (R$ 248.783). Se o serviço for popular, Mayen disse que espera instalar mais unidades.

Para fazer uma compra, os usuários precisam escanear a identificação oficial e colocar dados pessoais.

Muitos desenvolvedores de software em Honduras já são pagos em criptomoedas, disse Mayen, acrescentando que também seria uma opção mais barata para enviar remessas.

Em 2020, hondurenhos no exterior –principalmente nos Estados Unidos– enviaram US$ 5,7 bilhões (R$ 29,46 bilhões), cerca de 20% do produto interno bruto de Honduras (PIB) em remessas ao país.

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