Eletrobras (ELET3) na mira: Citi mantém compra com alvo em R$ 53
Fonte: Divulgação/ Eletrobras

Três anos após a privatização, a Eletrobras anunciou, na véspera desta quinta-feira (23), a mudança de seu nome para Axia Energia, o que consequentemente também levou à substituição de seu ticker ELET3 para AXIA3. Na avaliação de especialistas, a mudança marca um reposicionamento da empresa três anos após a privatização, o que também deve gerar, nesse primeiro momento, um volume de compra maior quando a alteração for efetivada.

A alteração nas negociações na B3 (B3SA3) está prevista para o dia 10 de novembro deste ano.

“A migração de código para ‘AXIA3’ (com as ações preferenciais equivalentes ‘AXIA5/AXIA6’ e ADRs na NYSE) a partir de 10/11/2025 gera um ‘evento de mercado’ que pode impulsionar volume de negociação e liquidez em torno da data da mudança”, comentou Leonardo Andreoli, analista da Hike Capital.

Ao BP Money, Andreoli explicou que é possível que investidores aproveitem a atenção extra, o rebalanceamento de carteiras ou as atualizações de roteamento de corretoras.

Por outro lado, especialistas apontam que a mudança do ticker, por si só, não deve alterar o perfil de acionistas ou a liquidez de forma sustentável. O que importa é se a empresa for incluída em novos índices, se o free float aumentar e se houver maior presença de investidores estrangeiros ou fundos internacionais.

Ou seja, há uma grande possibilidade de haver um efeito pontual de liquidez. Contudo, o perfil acionário só mudará se a alteração do nome for acompanhada de mudanças estruturais.

Efeito para as ações da Eletrobras no curto prazo

No curto prazo, observa-se a possibilidade de uma volatilidade pontual nos papéis. Segundo Eduardo Castano, MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela Fundação Getulio Vargas (FGV), isso seria “reflexo de ajustes automáticos, arbitragem e atualizações de índices, como já se observou no anúncio de 22 de outubro, quando o papel teve apenas uma leve oscilação intradiária típica de uma notícia corporativa neutra a levemente positiva”.

Já os custos de transição — que envolvem comunicação, autorização de materiais institucionais, site de relações com investidores e sistemas internos — são pontuais e com impacto reduzido diante do porte da empresa. Com isso, o efeito real sobre o valuation tende a ser irrelevante, ficando a reação de médio prazo condicionada à consistência do guidance e à capacidade de entrega operacional.

Andreoli acredita que podem ser esperados dois vetores opostos:

“Por um lado, uma notícia de rebranding pode gerar um ‘efeito de entusiasmo’ ou realocação de investimento. Alguns investidores podem antecipar que a empresa está mudando para melhor, o que pode levar a aumento de demanda momentânea e subida no preço das ações.”

“Por outro lado”, observa ele, “existem riscos de transição: a necessidade de comunicar a mudança, atualizar sistemas, mudar ticker, possíveis confusões de roteamento de ordens, distração da gestão e custos (embora pequenos para uma empresa desse porte). Além disso, se for visto como algo ‘light’ (sem substância), pode gerar desapontamento.”

Ou seja, o preço pode apresentar uma alta no curto prazo, mas o movimento não assegura a manutenção da valorização.

Reposicionamento como Axia Energia

Segundo Antonio Pavesi, economista, especialista em investimentos e MBA em Finanças pela Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças, o termo Axia vem do grego e significa “valor” ou “eixo”. Ele explica que o nome remete à ideia de “sustentar” ou “gerar movimento”.

Para Pavesi, a antiga Eletrobras — agora Axia — é uma companhia de energia, ou seja, geradora de movimento. “Quanto à percepção dos investidores, acredito que a mudança de nome possa desvincular a empresa de seu passado estatal”, acrescentou.

No mesmo sentido, especialistas ouvidos pelo BP Money reforçam que, por meio do rebranding, a companhia busca se afastar da imagem de estatal.

“Para investidores domésticos, isso pode sinalizar uma nova era de menor risco político e maior disciplina operacional, o que pode aumentar o apetite por parte de investidores institucionais brasileiros”, disse Andreoli.

Já para investidores estrangeiros, o movimento deve eliminar parte das dúvidas quanto à interferência governamental.

“Se o mercado entender que a Axia Energia está mais ‘privada’, com governança mais robusta e risco regulatório menor, isso pode levar a spreads menores em dívida e a múltiplos de equity mais favoráveis”, comentou Andreoli. “Por outro lado, agências de rating avaliam principalmente métricas financeiras e não apenas o branding, então sem melhorias concretas o impacto será limitado”, acrescentou.

Ou seja, analistas reforçam que essa nova roupagem só trará resultados efetivos se for acompanhada de mudanças estruturais.

Nova identidade e riscos regulatórios

Apesar dos benefícios da mudança, alguns riscos não podem ser ignorados e devem ser acompanhados de perto. Especialistas ouvidos pelo BP Money apontaram que o risco regulatório segue relevante no setor elétrico nacional, com revisões tarifárias, mudanças nas regras de transmissão e geração e possíveis impactos de decisões políticas sobre o ambiente de negócios.

Outro fator apontado foi o crédito: diante de eventuais choques hidrológicos ou de demanda que possam afetar o fluxo de caixa. Além disso, a exposição cambial e os custos de insumos importados ainda podem pressionar o custo de capital da companhia.

“O mercado deve avaliar esses fatores observando indicadores de alavancagem, cobertura de dívida, eficiência operacional e qualidade da governança, considerando também o histórico de execução em um setor sensível à regulação e às condições macroeconômicas”, explicou Castano.

Além disso, questões climáticas também seguem no radar, especialmente porque boa parte da geração é hidrelétrica — e a variabilidade hídrica continua sendo um fator relevante.

“Os investidores devem avaliar esses riscos monitorando os indicadores financeiros (alavancagem, cobertura de juros, fluxo operacional), as mudanças regulatórias no setor elétrico brasileiro, os índices de geração hídrica e o grau de transparência e governança da nova marca”, concluiu Andreoli.