Apesar de parecer um conceito novo no mercado, o embedded finance já acumula uma longa história. Desde casos como o Mercado Pago, que atua como solução do Mercado Livre (MELI34) desde 2014, até uma compra em aplicativos como Ifood, a estratégia de possuir soluções financeiras “dentro de casa”, segundo especialistas, pode até dobrar o valor de mercado de um negócio. Além disso, a “nova” onda dá aos bancos tradicionais mais uma opção de venda de produtos e a chance de surfar num movimento que é, para especialistas, inevitável.
Segundo Carlos Netto, CEO da Matera, empresa de tecnologia líder em soluções e produtos financeiros, os bancos tradicionais têm duas opções: fingir que nada está acontecendo, o que, para ele, em geral não dá muito certo, a exemplo da Kodak, ou entender que é um movimento inevitável e fazer parte desse cenário. “Os bancos precisam apostar e apoiar esse movimento, porque no momento que um banco ajuda a criar um embedded finance em uma empresa, eles se tornam parceiros”, apontou o CEO.
Nesse cenário, segundo Netto, o banco ganha um aquário para vender seus produtos bancários. “Por outro lado, o banco perde a conta do cliente, porque, muitas vezes, a conta corrente passa a ser da empresa, e é isso que está criando uma certa crise existencial nos bancos”, explicou o especialista. Para ele, alguns bancos já estão topando, e na corrida por mais espaço no mercado, são esses que vão ganhar.
Fernando Nunes, co-fundador da Transfeera, entende que o setor, hoje, já trabalha em cooperação, uma vez que no início das fintechs, temia-se uma competição. “Os bancos são os grandes beneficiados pelo embedded finance. Por serem os provedores, estão se movimentando para que isso aconteça. E ainda, esse movimento faz com que mais pessoas sejam bancarizadas”, explicou.
Segundo ele, grandes bancos como Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) já entenderam esse movimento, proporcionando novas soluções e agindo tecnologicamente para fornecer infraestrutura, seja para fintechs ou para instituições que não são financeiras.
Embedded finance toma força com BC e pandemia
O embedded finance nada mais é do que “embutir” um banco em uma empresa. “Montar um banco é buscar uma sinergia entre a empresa-mãe e o embedded finance, que tem objetivos reais e concretos para o qual ela está embarcando”, explicou Netto.
Para Nunes, o embedded finance permite que empresas não financeiras possam atuar nesse mercado e se aproveitar dos benefícios desse setor, como o rendimento, trazendo inovação nos seus negócios. “Hoje em dia isso é muito corriqueiro. Quando usamos o Ifood, por exemplo, fazemos um pedido e o lanche chega na nossa casa. Nem pensamos que naquele pedido houve uma transação financeira”, apontou.
Segundo o co-fundador da Transfeera, esse é um processo que traz benefício para o mercado financeiro como um todo, porque permite que a transação seja transparente e que as pessoas parem de se preocupar sobre quando e como vai acontecer uma transação.
Mas nem toda empresa precisa ou deve ter uma embedded fintech, ou um banco embutido. Netto entende que não é porque uma empresa atinge um número grande de pessoas que ela precisa criar uma wallet. Para ele, o embedded finance funciona para negócios que precisam pagar e cobrar muita gente, ou seja, que precisam de muito crédito. “Dessa forma, a ideia é estruturar melhor as transações financeiras, de forma que os usuários possam obter juros mais baratos e adquirir cartões mais baratos”, apontou.
É nesse cenário que empresas como Ebay e Mercado Livre se inseriram, com as soluções do Mercado Pago e do Paypal, respectivamente. No Brasil, Netto comentou o caso do Grupo Martins, que criou o Tribanco. “Esse case se aproxima mais de algo que cobre a jornada financeira do cliente, no caso o pequeno varejista”.
Mesmo assim, segundo ele, o Mercado Pago é, ainda, o maior case de sucesso de embedded finance. “O mérito é deles porque até o Banco Central se inspirou para fazer as regulamentações. Foi um caso que quebrou paradigmas, e chamou a atenção do regulador”.
E é claro que o BC tem participação ativa na evolução desse cenário no Brasil. “O Banco Central quer que a competição aconteça. Nesse sentido, o BC buscou a competição para que o custo do dinheiro no Brasil fosse reduzido, e o resultado disso são mais empresas no setor”, explicou Nunes.
“Antes, abrir um banco era incrivelmente caro, não era para qualquer um”, apontou Netto. No cenário atual, segundo ele, abrir uma instituição de pagamento não é mais um bicho de sete cabeças. “Então, empresas de menor porte começam a viabilizar isso também. O BC, com as regulações do Pix e das instituições de pagamento, democratizou o que antes só gente muito grande conseguia fazer”.
Além disso, outros pontos apoiaram essa evolução do embedded finance: a transformação digital e até a pandemia de Covid-19. “A pandemia foi um momento que acelerou o embedded finance e a digitalização do dinheiro”, finalizou Nunes.