A temperatura caiu nesta segunda-feira (6) no mercado financeiro depois que a Empiricus, uma das maiores casas de análise de investimentos no País, demitiu 12% da sua equipe. Braço do banco BTG Pactual, o grupo protagonizou mais um episódio de demissões em massa, que se tornaram comuns no mercado desde abril – período que marcou a apresentação de resultados do primeiro trimestre e evidenciou a virada de cenário para os investimentos de risco. Este, aliás, é um dos principais motivos que teriam levado a companhia a reduzir seu quadro de funcionários.
A Empiricus alega que o enxugamento da operação faz parte de um processo planejado, motivado pelas sinergias do quadro em diferentes áreas da empresa e a um crescente interesse do mercado em renda fixa (leia o posicionamento na íntegra ao fim da reportagem). A estimativa é que a redução tenha atingido cerca de 70 pessoas, considerados os últimos números divulgados pela companhia, de que teria em torno de 600 funcionários.
O grupo Empiricus é composto pelas equipes da Empiricus Research, Vitreo, Real Valor, Money Times e Seu Dinheiro, empresas de conteúdo, tecnologia, gestão e outras soluções para o mercado financeiro.
Com a alta dos juros no Brasil, com a Selic em 12,75% hoje, e a projeção do Banco Central de que a taxa básica deve encerrar o ano em 13,25%, segundo o último boletim Focus, o mercado tenta sobreviver à fuga do capital dos investimentos de risco. O investidor – institucional e varejista – está tentando se abrigar da tempestade que se formou sobre o setor financeiro correndo para os ativos de renda fixa, movimento que vem drenando as bolsas de valores e impactando, consequentemente, a demanda pelos produtos e serviços no setor, como os oferecidos pela Empiricus.
No LinkedIn, ex-funcionários começaram a se manifestar sobre os cortes, reforçando o discurso de que a piora do cenário teria levado à decisão. “Teve uma demissão em massa para redução de custos e extinguiram a equipe de IAML (Inteligência Artificial e Machine Learning)”, contou uma das usuárias em post na rede. Boa parte fazia parte de equipes de análise de dados e de tecnologia. “Infelizmente, como algumas empresas do mercado, dentro da Empiricus se observou a necessidade de uma reestruturação organizacional”, escreveu outro usuário.
Segundo fontes ouvidas pela “Bloomberg Línea”, o anúncio das demissões aconteceu por uma plataforma de videoconferência e em chamada coletiva. A princípio convocados para uma reunião para “alinhamento de junho”, em que discutiriam os temas para o mês, os participantes foram informados sobre seu desligamento, reportou a agência de notícias. O grupo Empiricus foi adquirido há um ano pelo BTG por R$ 690 milhões. À época, a companhia tinha 425 mil clientes e R$ 11 bilhões em custódia na gestora Vitreo.
Demissões em massa se alastram no mercado e analistas apontam “virada de cenário” como principal fator
Os episódios de demissões em massa vêm se intensificando desde abril. Só no setor de tecnologia e de startups, mais de dez empresas – lista que inclui QuintoAndar, Loft, Vtex e Olist – realizaram grandes cortes nas suas equipes. De acordo com dados consolidados na plataforma Layoffs Tracker, mais de 1,5 mil pessoas foram atingidas pelos enxugamentos de operações nessas empresas. Mas a conta está subestimada, porque não soma os desligamentos que vêm acontecendo em outros setores, casos do TGroup e da própria Empiricus.
Em comum, as empresas afirmam passar por revisão dos planos de negócios, o que inclui as projeções de crescimento para o ano. Nas startups, há uma crescente pressão por entregas de resultados mais “saudáveis” na operação, conforme o mercado perde liquidez e os custos de expansão começam a ficar altos demais para se sustentarem. Muitas dessas empresas vêm de um cenário de acelerada expansão do ano passado, que incluiu aquisições de empresas menores e o aumento dos investimentos em marketing e em tecnologia.
Leia na íntegra o posicionamento da Empiricus sobre as demissões desta segunda-feira (06):
Nesta segunda-feira, o Grupo Empiricus anunciou um corte planejado de 12% de pessoal. A redução do quadro foi motivada, principalmente, pela identificação de sinergias entre as equipes que compõem o grupo (Empiricus Research, Vitreo, Real Valor, Money Times e Seu Dinheiro). O momento atual, de maior interesse em renda fixa, também ajudou a balizar a decisão.