“Só fundos que têm, na sua política discricionária, essa aptidão para comprar esse tipo de risco”, disse o economista da Corano Capital, Bruno Corano, em relação às empresas do setor aéreo.
A afirmação veio após o especialista comentar sobre como os papéis do setor são ativos muito peculiares e específicos de algumas poucas casas. Nesse contexto, recentemente, o Goldman Sachs anunciou que via um potencial de alta de 64% para as ações da aérea Azul (AZUL4).
Contudo, a casa cortou o preço-alvo da companhia de R$ 20,10 para R$ 12,20. A redução é de cerca de 40%.
A Azul detém uma dívida que soma cerca de R$ 28,1 bilhões, de acordo com os dados divulgados no seu balanço do segundo trimestre de 2024.
“Ações de companhias aéreas se tornaram um ativo muito particular e específico de algumas poucas casas. Em geral, não é um produto de aceitação ampla, porque ele é, além de muito volátil, muito suscetível a problemas jurídicos e existenciais”, disse o especialista.
Além disso, Corano acrescentou que as projeções para o terceiro trimestre das aéreas ainda estão em um grau de imprevisibilidade. Isso porque o mercado tem receios de um novo conflito geopolítico, que possa impactar os preços do petróleo e, consequentemente, elevar o custo dos combustíveis.
Mesmo com todos esses fatores, algumas casas de análise aguardam que o prejuízo seja reduzido “porque elas estão tomando ações para que isso aconteça”, disse o analista.
O setor aéreo brasileiro, exceto pela Latam — que tem melhor perspectiva para o setor no Brasil — está passando por uma desvalorização considerável.
Além da Azul, outra companhia que se destaca no segmento é a Gol (GOLL4), que também está enfrentando uma situação delicada. No terceiro trimestre de 2024, a empresa registrou um prejuízo líquido de R$ 3,9 bilhões.
Custo de operação das aéreas brasileiras é elevado, diz especialista
As operações das companhias aéreas brasileiras possuem um custo muito elevado. Ou seja, boa parte do faturamento é usado para custear operações do dia a dia, como combustível, folha de pagamento, etc.
Assim, como disse a especialista em mercado de capitais e finanças, Tcharla Bragantin, o lucro fica muito menor em relação ao custo operacional.
O cenário internacional também é um fator que impacta as aéreas nacionais. Em relação aos EUA, o dólar tem forte impacto na formação de preços de combustíveis, que responde a aproximadamente 40% do custo operacional das empresas aéreas.
“É importante destacar, e o que justifica a situação econômico-financeira dessas empresas, são ainda os reflexos vivenciados durante o período de pandemia, quando o setor teve uma baixa significativa no número de viagens e, mesmo assim, precisou manter parcialmente os serviços”, disse Bragantin.