Ainda vai emplacar ‘Gol’?

Azul (AZUL4): RJ pode influenciar no preço das passagens e afetar possível fusão

A notícia repercutiu negativamente no mercado, fazendo os papéis da companhia fecharem com queda de 3,74% na quarta-feira

Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4)
 Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4) / Divulgação

O recente anúncio de que a Azul (AZUL4) ingressou com pedido de recuperação judicial nos EUA, pode gerar impactos tanto nos preços das passagens aéreas da companhia quanto na possível fusão com a Gol (GOLL4). A avaliação é de especialistas de mercado ouvidos pelo BP Money.

A notícia repercutiu negativamente no mercado, fazendo os papéis da companhia fecharem com queda de 3,74% na quarta-feira (28).

Na avaliação de Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, a recuperação judicial pode gerar um aumento nos preços das passagens, principalmente se houver uma redução na oferta de voos, com menos assentos disponíveis. “A tendência é que a demanda pressione os preços para cima”, comentou.

Adicionalmente, o atual cenário econômico já contribui para o encarecimento do crédito e a elevação dos custos operacionais das empresas do setor. Esses fatores podem ser repassados ao consumidor final na forma de tarifas mais altas. No exterior, a estabilidade dos juros nos EUA e a valorização do dólar também afetam os custos das companhias aéreas brasileiras, que detêm parte significativa de seus gastos atrelados à moeda norte-americana, como leasing de aeronaves e combustíveis.

Vale lembrar que a recuperação judicial da companhia pode pressionar ainda mais um setor já fragilizado. As companhias ainda não se recuperaram plenamente da pandemia da Covid-19. “Com a redução da frota, a capacidade operacional da empresa será significativamente afetada, o que pode levar a um aumento nas tarifas aéreas devido à menor oferta de voos”, pontuou Patzlaff.

Fusão entre Azul e Gol

Diante das incertezas, um fator que chamou atenção: o impacto sobre a possível fusão com a Gol — que também está em processo de recuperação judicial.

Os receios com a saúde da Azul e o futuro do setor no Brasil se refletiu na forte queda das ações da companhia. A avaliação é do especialista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima.

Em relação à operação entre Gol e Azul, a expectativa é que o negócio seja postergado — ou até mesmo cancelada — diante do novo cenário. O desfecho deve depender de futuras decisões estratégicas e regulatórias.

O tema “fusão” entre as companhias ganhou destaque em janeiro de 2025, quando a Azul e a holding Abra (controladora da Gol e da Avianca) assinaram um memorando de entendimento não vinculante para explorar uma possível união de negócios. Se concretizada, a operação dará origem a uma empresa que abocanhará cerca de 60% do mercado nacional.

A fusão, por si só, envolve operações extremamente complexas, como integração de rotas, manutenção de aeronaves e unificação de sistemas de precificação. Além disso, ambas as organizações possuem altos níveis de endividamento, o que pode resultar em uma companhia ainda mais vulnerável em termos de financiamento.

Entenda a recuperação judicial

O pedido de recuperação judicial da Azul na legislação norte-americana busca reestruturar uma dívida superior a R$ 34,7 bilhões (cerca de US$ 6,9 bilhões). Assim, a aérea pretende eliminar aproximadamente US$ 2 bilhões em empréstimos e reduzir os passivos relacionados a contratos de leasing.

Além disso, faz parte dos planos da empresa levantar US$ 950 milhões em capital próprio após a reestruturação, incluindo uma oferta de ações de US$ 650 milhões. Também há possibilidade de venda adicional de até US$ 300 milhões em ações para a American Airlines e a United Airlines.

Uma dúvida que surgiu no mercado foi: por que a companhia não entrou com pedido de recuperação judicial no Brasil?. O entendimento é a maioria dos credores e investidores da Azul está localizada nos EUA, e, por isso, a opção pelo Chapter 11 é mais estratégica.

O sócio e fundador do escritório Bruno Boris Advogados, Bruno Boris, explicou que o pedido de recuperação “possui essa função: suspender as cobranças para que haja uma negociação com mais tranquilidade por parte do devedor junto aos credores”.