Relatório 'No happy hour'

Brinde amargo: XP corta Ambev por Ozempic e rivais fortes

Entre os motivos estão o inverno rigoroso, o avanço da concorrência e mudanças no comportamento do consumidor

Brinde amargo: XP corta Ambev por Ozempic e rivais fortes

Mesmo diante de uma possível recuperação de participação de mercado em 2025, a XP decidiu rebaixar a recomendação das ações da Ambev de ‘neutra’ para ‘venda’, apontando um cenário desafiador para a companhia. Entre os motivos estão o inverno rigoroso, o avanço da concorrência — especialmente da Heineken — e mudanças no comportamento do consumidor.

No relatório intitulado “No happy hour”, a corretora reduziu o preço-alvo do papel de R$ 13,40 para R$ 10,90, projetando um potencial de queda de 12% em relação ao último fechamento.

Os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak avaliam que a empresa deve enfrentar uma pressão combinada de custos, clima e competição, que deve comprimir suas margens nos próximos anos.

A XP estima que o volume de cerveja vendido no terceiro trimestre deve cair 6,1% na comparação anual, reflexo do clima mais frio registrado em 2025 — um dos invernos mais intensos das últimas décadas em São Paulo.

“As vendas do ano passado foram positivamente impactadas por condições climáticas favoráveis. Resultado: o desempenho de 2025 é afetado por uma base de comparação difícil,” escreveram os analistas.

Disputa com Heineken aperta margens da Ambev, diz XP

Além da queda nas vendas, os custos da Ambev devem aumentar com a inflação de insumos como milho e alumínio, o que, segundo a XP, deve elevar o custo por hectolitro entre 5,5% e 8,5% neste ano.

Na frente competitiva, a disputa com a Heineken tende a se intensificar com a entrada em operação de uma nova fábrica da cervejaria holandesa ainda este ano.

Apesar de a Ambev poder ganhar até 130 pontos-base de market share por conta da crise no Grupo Petrópolis, a corretora acredita que esse avanço virá às custas de margens mais apertadas.

O impacto disso aparece nas projeções da XP para os próximos anos: a margem EBITDA da Ambev deve cair de 32,5% em 2025 para 31,0% em 2026, chegando a 30,7% em 2027, sinalizando uma deterioração gradual da rentabilidade.

Outro ponto de atenção está na precificação da ação: para os analistas, não faz sentido a Ambev estar negociando a 14 vezes o lucro estimado para 2026, o maior múltiplo desde meados de 2023.

A XP lembra que, até dois anos atrás, a empresa era negociada com 20% de desconto em relação à AB InBev, algo que não ocorre mais. “Isso abre espaço para que a ação tenha um desempenho inferior no curto prazo,” afirmam os analistas.

Uso de Ozempic reduz também o consumo de álcool, diz XP

Além do cenário macro e competitivo, tendências de consumo também preocupam. Estudos citados pela corretora mostram que apenas 45% da Geração Z consome bebidas alcoólicas, e embora o consumo de cervejas sem álcool tenha crescido no Brasil, ele ainda não compensa a queda nas vendas das linhas tradicionais.

Há ainda outro fator emergente: os medicamentos da classe GLP-1, como Ozempic e Mounjaro, vêm mudando os hábitos dos consumidores. A XP cita pesquisas indicando que usuários desses remédios não apenas comem menos, como também reduzem em até 50% a ingestão de álcool.

Nos últimos 12 meses, os papéis da Ambev acumulam queda de 5%, e a companhia está avaliada em R$ 195 bilhões na B3.