
Em meio à busca por um novo presidente, o Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) anunciou dois movimentos estratégicos para reforçar seu caixa e reorganizar as finanças: uma redução expressiva nos investimentos previstos para 2026 e a renegociação de R$ 15 bilhões em contingências federais junto à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.
As ações do grupo cairam 2,11% até o início da tarde desta quinta-feira (5), após a divulgação dos planos.
Segundo o diretor-presidente interino Rafael Russowsky, cerca de 70% das contingências referem-se a multas e juros, cujas cobranças podem variar de 75% a 150% do valor principal. “Estamos empenhados em buscar uma solução para isso”, afirmou, destacando que os passivos são heranças de gestões passadas, período em que o controle era exercido pelo grupo francês Casino.
Atualmente, o maior acionista é a família Coelho Diniz, com 24,6% das ações.
Corte drástico nos investimentos
O GPA confirmou que irá reduzir em mais da metade os investimentos em 2026, com previsão de desembolsar entre R$ 300 milhões e R$ 350 milhões, ante R$ 700 milhões aplicados até setembro deste ano.
A medida consolida uma tendência já sinalizada em agosto, quando o grupo suspendeu o plano de abrir 300 novas lojas. Russowsky explicou que a decisão reflete uma readequação à nova realidade da companhia, cujo faturamento anual gira em torno de R$ 20 bilhões, bem abaixo dos R$ 80 bilhões registrados em períodos anteriores.
“Estamos ajustando o tamanho dos investimentos à escala atual do GPA”, afirmou o executivo. Do total previsto, R$ 200 milhões a R$ 250 milhões serão destinados à manutenção e cerca de R$ 50 milhões a novos projetos.
Nova mentalidade sob influência da família Diniz
Russowsky destacou ainda a proximidade com o conselho, que agora conta com André Coelho Diniz, herdeiro da família controladora. Segundo ele, a nova liderança trouxe uma mentalidade mais operacional, com foco em eficiência e redução de custos.
“Temos uma mudança de paradigma daqui para frente. O André trouxe a mentalidade de barriga no balcão, ele mergulhou nos detalhes da operação, questionando desde decisões logísticas até o custo de frota própria, o que ajuda a repensar nossos paradigmas.”
Plano de eficiência e cortes de despesas
Além dos ajustes de investimento, o GPA apresentou um plano de eficiência que deve reduzir despesas operacionais em pelo menos R$ 415 milhões já no próximo ano.
Desse montante, R$ 140 milhões virão de cortes de pessoal e despesas administrativas, R$ 100 milhões de revisões em contratos de consultorias e logística, e R$ 180 milhões da internalização de serviços e revisão de escopos de trabalho.
Russowsky afirmou que cerca de R$ 90 milhões já foram economizados nos últimos dois meses, principalmente com redução de quadro de funcionários.
Com um cenário desafiador, o GPA tenta reconstruir sua base financeira e recuperar a confiança do mercado, combinando austeridade nos gastos com a renegociação de passivos históricos, enquanto segue em busca de um novo comando para liderar a próxima fase de sua reestruturação.