O economista-chefe da Itaú Asset, Thomas Wu, comentou recentemente sobre os riscos que rondam a economia global. Em sua avaliação, o chamado “tarifaço” do presidente Donald Trump terá um forte impacto na confiança internacional nos EUA.
“Esse vai e volta constante das tarifas afeta diretamente a atividade econômica e, de maneira menos visível, mas mais profunda, corrói a credibilidade institucional dos Estados Unidos”, afirmou Wu durante o episódio 161 do programa Outliers, do InfoMoney, onde foi entrevistado pelos analistas da XP, Clara Sodré e Fabiano Cintra.
“Esse efeito intangível, de perda de soft power, é o que começa a custar caro para os EUA”, acrescentou Wu.
O executivo apontou que a instabilidade causada pela retórica comercial imprevisível de Trump — apelidada no mercado de TACO (Trump Always Chickens Out) — pode não resultar em recessão, mas limita investimentos e desacelera o crescimento do país. “Se as empresas percebem que o cenário é incerto, elas não vão contratar, não vão expandir. Isso paralisa a economia”, afirmou.
Além disso, Wu destacou que o comportamento de Trump enfraquece o dólar como reserva global. “Quando ele começa a colocar tarifas de 50% aleatoriamente, mesmo sem violar acordos, ele mina a confiança dos parceiros. Isso afeta a decisão dos investidores de manter grandes volumes em dólar.”
‘Déficit gêmeo’ e a economia dos EUA
Outro fator que chamou atenção foi o chamado “déficit gêmeo” dos EUA — termo que se refere à contração simultânea nas contas externas e nas finanças públicas. No momento, os EUA operam com déficits que, juntos, superam 11% do PIB.
“Esse patamar só é sustentável porque o dólar é visto como moeda de reserva. Mas esse status está sendo questionado”, declarou.
O especialista explicou que, historicamente, os EUA conseguiam se financiar com facilidade por serem percebidos como o pagador mais confiável do mundo. Contudo, esse cenário já não é mais realidade. “A Moody’s rebaixou a nota dos Estados Unidos, e não só pela dívida, mas pela instabilidade política. O investidor começa a se perguntar: será que ainda é seguro manter tudo em dólar?”, pontuou.
Nesse sentido, ele destacou que Trump não é a causa, mas o sintoma de uma mudança mais ampla na sociedade norte-americana. “Talvez parte da população não veja mais valor nesse papel hegemônico. E isso é muito relevante, porque, quando o país mais importante do sistema internacional começa a ser visto com desconfiança, o impacto é global”, concluiu.