A notícia de que o Nubank (ROXO34) pretende entrar no segmento de Telecom (telecomunicações) foi recebida pelo mercado com ceticismo e muito receio.
O entendimento geral é que o movimento do Nubank (ROXO34) pode transformá-lo em um “cisne roxo”. O termo se refere ao “cisne negro”, ou seja, é improvável de acontecer, mas, se ocorrer, terá grandes consequências.
Todo o alarde em torno da empresa começou após a XP divulgar um relatório que dizia que a novidade representava “uma ameaça real”.
Segundo o documento, “após um breve período de calmaria no mercado de Telecom, vemos uma ameaça com a esperada entrada do Nubank como operadora móvel virtual”.
A XP trouxe o alerta após a fintech receber a aprovação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para se tornar uma MVNO (operadora móvel virtual). Para isso, segundo o texto, a empresa utilizará a da infraestrutura da Claro para se tornar uma MVNO.
Procurado pelo BP Money, o Nubank disse que não se pronunciaria sobre o caso.
Nubank (ROXO34) tem 22% do mercado de recargas
A XP aponta que o Nubank (ROXO34) já possui 22% do mercado de recargas. Com isso, a empresa de MVNO não começará do zero.
Este fato, combinado com uma obsessão pelo baixo custo do serviço, deverá permitir ao banco apresentar ofertas atrativas.
“Como resultado, nossas análises de sensibilidade indicam que o banco poderia atingir cerca de 11 milhões de usuários pré-pagos e 7,5 milhões de usuários pós-pagos em três anos”.
Ou seja, a participação de mercado da companhia seria de cerca de 7%. Isso resultaria em um VPL (Valor Presente Líquido) de US$ 655 milhões para o Nubank.
“Para a TIM e a Vivo, o impacto poderia ser significativo, com potencial perda de participação de mercado e redução do ARPU devido à entrada de um player com preços agressivos”.
Analista diz que a fintech não tem capital para ‘bancar’ a operação
Para Pedro Afonso Gomes, presidente do CORECON-SP (Conselho Regional de Economia da Segunda Região), o Nubank (ROXO34) “não tem capital para bancar esse tipo de coisa”. “O ramo de telecomunicações exige investimentos a longo prazo”.
“O Nubank mal entrou no segmento de varejo, pessoas físicas e jurídicas. Se ele quiser atirar para todos os lados e entrar em todos os mercados possíveis, pode quebrar a cara em todos eles”, comentou Gomes.
No último dia 12 de março, a fintech anunciou uma parceria, no México, com a rede de supermercados Soriana, conforme informações do “Brazil Journal”.
Mas mesmo com todo o ceticismo, o economista acredita que, caso a fintech consiga investidores de longo prazo, a entrada da empresa no segmento seria possível. Contudo, ele ressaltou que essa seria uma realidade distante.
Com um olhar mais credível, o analista da Levante, Matheus Nascimento, aponta que o mercado de telecomunicações possui uma alta concentração em poucos players — Vivo (VIVT3), Tim (TIMS3) e Claro.
Além disso, Nascimento acrescenta que as maiores organizações no segmento de telecomunicações possuem carteiras de crédito operando de forma reduzida em seu portfólio. Porém, elas aproveitam o nível de informações dos clientes para ofertar crédito.
“O movimento do Nubank tem sido o inverso ao iniciar as operações no segmento. Entendemos que existe espaço para operar, de fato, especialmente no nicho de clientes atendidos pelo Nubank”, comentou.
Ele acredita que, caso a fintech tenha êxito, existe uma fatia de mercado a ser capturada, o que destrava o valor do banco.
Por outro lado, Nascimento aponta que nem tudo são flores e o movimento pode afetar possíveis lucros futuros.
“O risco do Nubank entrar em um segmento não core deve demandar capex, o que tende a comprimir as margens do banco, podendo segurar os resultados esperados nos próximos trimestres”, concluiu.