Com a aquisição da refinaria de Mataripe (BA) em 2021, o Mubadala se viu em uma situação muito complexa no mercado brasileiro. Aparentemente, após vender a refinaria, a Petrobras (PETR4) passou a pressionar o fundo para que ele devolvesse a refinaria.
A situação complexa envolvendo o Mubadala e a Petrobras (PETR4) se dá especialmente pelo fato de a refinaria possuir uma espécie de dependência da estatal.
Recentemente a notícia de que a estatal poderia recomprar a fatia total na refinaria de Mataripe veio a tona.
Mesmo após a venda, a refinaria se manteve cliente da estatal, que fornece óleo cru, o insumo básico. Além disso, a petroleira domina cerca de 80% da capacidade de refino do Brasil, determinando os preços do produto no mercado nacional.
Diante do contexto, em 2023, a Acelen, empresa que, até então, controla a refinaria de Mataripe, criada pelo Mubadala Capital, chegou a emitir uma nota que gerou receios.
Em nota, a Acelen declarou que apresentou ao Cade evidências de que a Petrobras estaria repassando petróleo para suas refinarias a “preços inferiores aos que ela pratica para as refinarias de seus concorrentes”. Logo, como a refinaria de Mataripe estava sob controle de iniciativa privada, a refinaria estava comprando mais caro.
“Entendemos que, tendo em vista a posição amplamente dominante que a Petrobras detém na produção de petróleo no Brasil, isso não é admissível, devendo a Petrobras manter uma política única e isonômica de preços para petróleo”, dizia a nota.
A Petrobras pediu o arquivamento do caso ao Cade. A estatal apontou que a Acelen tentava exigir a comercialização de petróleo cru por um valor mais barato.
Segundo a petroleira, o movimento era “em razão de expectativa que alegadamente teria sido criada durante as negociações para a venda da refinaria”, conforme informações da “epbr”.
Na época, a Petrobras destacou que nunca fechou um acordo dessa natureza com a Acelen.
‘Petrobras dificultou a vida do Mubadala’, disse analista
Diante de todo esse cenário, que levanta mais dúvidas sobre os “maus bocados” passados pela refinaria, o BP Money ouviu uma série de analistas que entendem do assunto e do setor.
O analista de Equity Research da Ativa, Ilan Arbetman, disse que, ao longo desses três anos desde que a estatal vendeu a refinaria, a “Petrobras dificultou a vida do Mubadala”.
“Foi muito difícil para a refinaria de Mataripe concorrer com a Petrobras. E isso pode se revelar também em termos de preço”, disse o analista.
Além disso, Arbetman ainda sinalizou que essa transação não traz tantos retornos para a estatal.
Nesse sentido, o analista apontou um cenário bem claro: de um lado, a vocalidade da estatal em investir no setor de refino. Do outro, a dificuldade do Mubadala em ser um player independente “num setor que é praticamente controlado quase que por completo pela Petrobras”.
Isso porque, segundo o analista, existem ativos que geram uma margem extra em torno de 70%. Os ativos no refino geram uma margem extra de cerca de 10%.
Já com uma visão mais otimista, o especialista da Valor Investimentos, Virgilio Lage, acredita ser positivo, pelo fato de a refinaria de Mataripe concentrar cerca de 14% da capacidade de refino brasileiro. “É um movimento que deve sim gerar bons retornos, mas o ideal é observar ainda no primeiro momento”.
“Em um curto prazo, na verdade, vai reduzir caixas da empresa, vai gerar bons retornos por conta da refinaria, coisa que é um problema grande na Petrobras”, acrescentou Lage.
Contudo, ele pontuou ser preciso que mais informações sobre a operação sejam divulgadas. Isso possibilitará ter uma visão mais ampla e concreta de retornos futuros.