Gigante da fast fashion

Shein deixa bolsa de Londres e vai para Hong Kong

Negativa de entrada da Shein na bolsa de Londres pode estar ligada a questão de direitos humanos.

(Foto: reprodução/Le Monde Diplomatique)
Shein entrou com um pedido para um IPO em Londres há 18 meses, mas não recebeu a aprovação regulatória (Foto: reprodução/Le Monde Diplomatique)

A Shein protocolou na última semana (discretamente) um pedido de oferta pública inicial de ações (IPO) na bolsa de Hong Kong, após um embate com o regulador da bolsa de Londres, que era sua referência de estreia.

Não há confirmação de que a empresa tenha desistido da Europa, mas a Shein pode se tornar um nome para engrossar a lista de saídas da LSEG, dizem o Pipeline e o Neofeed. No último ano, 88 empresas fecharam suas negociações no Reino Unido.

De acordo com fontes do Financial Times, o processo de entrada na bolsa de Hong Kong é uma forma de pressionar os britânicos, que já estão sofrendo com o esvaziamento dos mercados de capitais.

A Shein entrou com um pedido para um IPO em Londres há 18 meses, mas não recebeu a aprovação regulatória; os reguladores de ambos os países não conseguiram concordar qual linguagem utilizar na divulgação de riscos do prospecto.

Aparentemente, um dos principais problemas estava na relação da Shein com sua cadeia de suprimentos, instalada na região de Xinjiang. A China tem sido acusada de violações de direitos humanos contra a população indígena uigur na localidade. Contudo, a FCA (Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido) aprovou uma versão do prospecto da Shein no início de 2025, mas ela não foi aceita pela CSRC (Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China).

Diante desse cenário, a listagem em Hong Kong surfe como uma forma de pressionar os reguladores do Reino Unido, já que a negociação da Shein poderia ter sido a maior oferta pública inicial feita no mercado londrino em anos. Após a aprovação do Brexit, a captação de recursos por IPOs em Londres atingiu o menor nível em 30 anos em 2025.

O “aperto de mente”, contudo, tem poucas chances de funcionar. No início do ano, o presidente da comissão parlamentar de negócios e comércio do Reino Unido, Liam Byrne, reforçou as dúvidas sobre a integridade da cadeia de suprimentos da Shein, após um funcionário da empresa se recusar a responder se suas roupas tinham algodão vindo de Xinjiang.

A empresa de fast fashion não irá enfrentar esse tipo de problema em Hong Kong, já que a bolsa de lá é vista como mais “tolerante” quanto à forma como as empresas chinesas descrevem seus riscos políticos, disse o Neofeed. Além disso, existe um incentivo de Pequim a empresas nacionais, que pretendiam abrir capital fora da China, a priorizarem Hong Kong.

Caso a listagem seja aprovada em Hong Kong, será colocado um ponto final no processo de IPO que já dura três anos. Ao longo desse período, a Shein tentou negociar suas ações em Wall Street – onde foi barrada pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) – que levou em consideração as questões geopolíticas para tomar a decisão.

Apesar de a Shein ter cerca de US$ 12 bilhões em caixa, os números de 2024 não estão animando o mercado. Com o valuation estimado em US$ 66 bilhões, a empresa viu suas vendas aumentarem 19% ao longo do ano, atingindo US$ 38 bilhões. O problema, porém, está no lucro líquido, que caiu quase 40% no período, para US$ 1 bilhão.