Banco Master: bastidores não explicados por trás da crise

Antes de o BC (Banco Central) anunciar a liquidação do Banco Master, a implosão da instituição já vinha sendo escrita. Ela se desenrolava nos bastidores, entre decisões apressadas, relações políticas convenientes e operações financeiras difíceis de justificar.

A crise do Master forma um quebra-cabeça que, quando montado, é possível ver como pressões externas tentaram moldar decisões que deveriam ser exclusivamente técnicas.

Quando o BRB (Banco de Brasília) manifestou interesse em adquirir parte do Banco Master, a iniciativa foi apresentada como um resgate estratégico.

Porém, o detalhe de que Vorcaro continuaria como controlador, mesmo após a operação, gerou estranheza entre especialistas e dentro do próprio setor público. Apesar disso, a Câmara Legislativa do Distrito Federal aprovou a compra em ritmo acelerado, ignorando alertas sobre o risco envolvido.

Essa pressa contrasta com a gravidade das informações que já circulavam nos bastidores sobre a real situação do Master.

Investimentos que não se explicam

Enquanto a instituição dava sinais de desgaste, fundos de previdência de estados e municípios despejavam quase R$ 2 bilhões no banco.

Não há clareza sobre quem autorizou esses aportes, nem sobre quais fundamentos técnicos justificavam a aplicação de recursos previdenciários em uma instituição que, àquela altura, já inspirava desconfiança no mercado.

Crescimento sustentado em promessas difíceis de bancar

Parte do avanço do Master foi construída sobre produtos com remunerações muito superiores às praticadas pelo mercado. Esse retorno elevado era acompanhado da garantia, tecnicamente verdadeira, mas explorada ao limite, de que o FGC (Fundo Garantidor de Crédito) cobriria eventuais perdas até R$ 250 mil por CPF.

Além disso, o banco apostou somas bilionárias na compra de precatórios, cujos pagamentos podem levar décadas ou simplesmente não ocorrer.

Era uma estratégia que, somada à agressividade na captação, colocava o futuro do banco em um terreno extremamente instável.

Indícios de fraude em operações bilionárias

A deterioração não se explica apenas por decisões imprudentes. Há suspeitas sólidas de que a instituição tenha apresentado ao BRB R$ 12 bilhões em carteiras de crédito que nunca existiram.

Se confirmado, esse seria o centro de um esquema que buscava dar aparência de solidez a um banco já fragilizado.

Tentativa de aprovar projeto de lei para pressionar BC

A figura de Daniel Vorcaro transitava por Brasília com desenvoltura. Relações com políticos de diferentes partidos, patrocínio de eventos importantes e acesso a autoridades de alto escalão faziam parte de sua rotina.

Esse círculo de influência ajuda a explicar por que havia tantas pessoas interessadas em evitar que o banco fosse exposto e por que houve tentativas de pressionar órgãos reguladores no momento em que a venda ao BRB estava em análise.

A articulação de um projeto de lei no Congresso que permitiria demitir diretores do Banco Central, justamente quando o BC resistia à operação, é um desses pontos que merecem investigação detalhada.

Movimentações internas que despertam suspeita

Outro episódio pouco esclarecido foi a troca de integrantes do comitê de auditoria do BRB pouco antes da reunião que aprovou a aquisição.

A substituição, feita em cima da hora, levanta dúvidas sobre o real objetivo da mudança e sobre a disposição de contornar obstáculos internos para viabilizar o negócio.

Um caso que ainda está longe de ser totalmente compreendido

A queda do Banco Master deixou um rastro de perguntas. Algumas envolvem decisões administrativas internas; outras, articulações políticas externas; e há ainda as suspeitas de manipulação de ativos e tentativa de encobrir prejuízos bilionários.

O desfecho jurídico e institucional virá com o tempo, mas o episódio já serve como alerta sobre a interseção perigosa entre finanças, poder e falta de transparência.