Multinacional de eletrodomésticos

Electrolux investe R$ 700 mi no Brasil e não teme tarifaço

Localizada em São José dos Pinhais (PR), a nova fábrica da companhia sueca vai inaugurar a produção de ventiladores e liquidificadores

Leandro Jasiocha: CEO do Electrolux Group na América Latina. Foto: Electrolux/Divulgação.
Leandro Jasiocha: CEO do Electrolux Group na América Latina. Foto: Electrolux/Divulgação.

Não há um setor que não esteja nervoso com as tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, aos produtos brasileiros. O setor de eletrodomésticos não escapa dessa tensão comercial. 

Por outro lado, a multinacional sueca Electrolux mostrou disposição para enfrentar esse momento turbulento ao inaugurar nesta sexta-feira (22), uma nova fábrica no Brasil, com o intuito de nacionalizar seus principais produtos e ganho de market share (fração do mercado controlado por ela), sobretudo em um momento de forte competição.

A unidade industrial, lançada no município de São José dos Pinhais (PR), marca a maior expansão da gigante dos eletrodomésticos na América Latina, ao investir cerca de R$ 700 milhões. A fábrica da empresa no Brasil foi projetada para dar a luz a fabricação local de duas linhas de produtos que eram, até então, importados: ventiladores e liquidificadores. E a expectativa é que esse seja o trunfo da empresa para se consolidar no setor.

“É o nosso maior investimento no Brasil. É um passo essencial para nosso plano de expansão. A empresa vem crescendo bastante nos últimos anos. Atingimos a liderança no setor de eletrodomésticos no país, estamos em mais de 70% dos lares e vendemos mais de 15 milhões de produtos por ano”, disse o CEO do Grupo Electrolux na América Latina, Leandro Jasiocha em entrevista à revista EXAME.

A projeção é que, a partir de 2027, a unidade paranaense se torne capaz de fabricar 5 milhões de produtos por ano, o que representará 25% do faturamento de eletroportáteis da empresa no Brasil. Para dar um gás nesta missão, ele conta que foram investidos R$ 37 milhões em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos.

“O investimento de R$ 700 milhões é coerente com as necessidades locais, mas precisamos crescer para garantir que o negócio se pague. Em dois meses, já fabricamos mais de 100 mil produtos. O projeto está começando a dar frutos e temos confiança de que logo vamos entregar o retorno aos acionistas da Electrolux”, disse o CEO.

Sem medo do tarifaço

Apesar dos temores de muitos empreendedores dos mais diversos setores com os efeitos das tarifas de 50% aplicadas pelo governo americano ao Brasil, o CEO da América Latina da Electrolux afirma que a medida não causará danos à companhia. A Electrolux do Brasil não realiza exportações para os EUA, tanto que a empresa conta com a Frigidaire para manter presença no mercado norte-americano. Diante deste cenário, ele reforça que as disputas entre as marcas tendem a aumentar.

“As tarifas não vão impactar diretamente nossa operação no Brasil e em outros países da América Latina. Como o mercado americano está se fechando e dificultando as possibilidades de negócios para as empresas, a tendência é que as vendas e os volumes de produtos antes focados nos EUA sejam redirecionados a outros mercados. E como consequência, haverá oportunidades para novas marcas ganharem espaço”, pontua Leandro Jasiocha. “O momento que passamos gera incertezas e medo, mas acredito muito no potencial do Brasil.”

A operação brasileira não exporta bens manufaturados em larga escala em razão dos custos de logística. A pequena parcela reservada a este propósito é direcionada a países como México, Peru, Colômbia, Equador e Porto Rico, que segundo o CEO acompanha as normas comerciais dos EUA. Mesmo assim, ele se sente seguro. “Hoje o índice de exportação das fábricas no Brasil é relativamente pequeno, em torno de 5%. Então, o objetivo da expansão em São José dos Pinhais é atender o mercado local”.

Origem e impacto da Electrolux

Nascida em 1919, em Estocolmo, na Suécia, a companhia vende mais de 40 milhões de produtos anualmente em 120 países. Em 2024, suas vendas globais alcançaram US$ 14,2 bilhões. A América Latina representa cerca de 25% da receita total do grupo, porém a multinacional não divulga dados sobre o resultado da operação brasileira.

A Electrolux tem fábricas e centros de desenvolvimento na Europa, América do Norte, América Latina, Ásia e Oceania. No Brasil, a empresa celebrará 100 anos em 2026 e opera atualmente com fábricas em três lugares: Curitiba (PR), São Carlos (SP) e Manaus (AM). Na última localidade, a empresa produz desde refrigeradores e lavadoras até micro-ondas e aparelhos de ar-condicionado.

Cerca de 40% dos produtos da Electrolux vendidos na América Latina são provenientes de fornecedores asiáticos, que prestam dois serviços à companhia: OEM (Original Equipment Manufacturer, fabricante de equipamento original) e ODM (Original Design Manufacturer, fabricante de design original). Mas, com a nova fábrica no interior paranaense, a proposta é lançar mais produtos “made in Brazil”.

Essa tática livra a empresa de custos como fretes marítimos e traz perspectivas de preços mais atraentes aos consumidores no varejo, o que pode contribuir para o incremento de seu market share. Segundo levantamento da consultoria Mordor Intelligence, o mercado de eletrodomésticos no Brasil deverá movimentar US$ 2,14 bilhões até 2029. Neste cenário, a Electrolux e a americana Whirlpool (dona das marcas Brastemp e Consul) detém participações significativas no mercado brasileiro, superando as coreanas LG e Samsung.