iFood ameaçado?

Keeta, gigante do delivery, estreia em novembro no Brasil

Marca chinesa acelera planos para início da operação de rua e quer 100 mil entregadores

Foto: Keeta/ Divulgação
Foto: Keeta/ Divulgação

A maior empresa de delivery de restaurantes do mundo, a Meituan vai começar sua operação no Brasil no mês de novembro, por meio da Keeta, sua marca internacional. A empresa abre o escritório em São Paulo no penúltimo mês do ano e começa a rodar com os primeiros entregadores na cidade antes da virada do calendário, apurou o jornal Pipeline.

A marca chinesa tem a meta de se lançar em 15 regiões metropolitanas do Brasil até junho de 2026 e atingir o número de mil municípios atendidos até o fim da década, com ambição para 100 mil entregadores na rede. Para isso, anunciou um investimento estimado em US$ 1 bilhão.

Experiência em outros mercados

Os planos da nova rival do iFood e Rappi estão sendo desenhados por Tony Qiu, que já foi CEO da 99, em São Paulo, e foi chefe da divisão internacional da Kwai, rival do TikTok. A Keeta já opera em Hong Kong e Arábia Saudita, onde Qiu também foi responsável pela estruturação.

A Keeta está com mais de 100 vagas abertas para cargos no Brasil, desde jurídico e RH a produto e vendas.

Apps de entrega declaram guerra ao iFood com taxa zero e novas estratégias

O mercado de delivery de comida no Brasil vive uma revolução silenciosa – mas poderosa. Com direito a boicote organizadoconcorrência internacional e investimentos bilionários, os principais rivais do iFood estão se movimentando para romper o domínio do aplicativo líder.

Nos últimos dias, Rappi99 e a chinesa Keeta lançaram ofensivas ousadas: zeraram as taxas cobradas de restaurantes, anunciaram grandes aportes e passaram a se posicionar como alternativas viáveis ao iFood.

E o barulho já chegou aos ouvidos das entidades do setor – algumas, inclusive, convocando boicotes abertos.

Taxa zero: apps de entrega adotam nova estratégia para atrair restaurantes e consumidores

A disputa agora é por quem entrega mais, cobra menos e fideliza melhor. 99 Food, que havia saído do mercado em 2023, volta com tudo: sem taxas de comissão e mensalidade por dois anos.

O plano faz parte de um investimento de R$ 1 bilhão da controladora chinesa Didi Chuxing, que quer transformar o app 99 em um superaplicativo.

Pouco depois, o Rappi contra-atacou: também anunciou isenção total de taxas, por tempo indeterminado, para novos restaurantes na modalidade full service (quando o app gerencia toda a logística da entrega).

Além disso, ambas as empresas miram no coração dos empreendedores gastronômicos que hoje convivem com altas comissões cobradas pelo iFood – que chegam a 23% por pedido, além de mensalidades entre R$ 130 e R$ 150.

Keeta: gigante chinesa aposta R$ 5,6 bilhões no mercado de delivery brasileiro

Quem também chega para disputar essa fatia é a Meituan, um dos maiores conglomerados de tecnologia da Ásia. Avaliada em mais de R$ 600 bilhões na Bolsa de Hong Kong, a empresa entra no Brasil com a marca Keeta, já usada em países do Oriente Médio e Ásia.

A estreia da Keeta ainda não tem data oficial, mas o plano de longo prazo é ambicioso: R$ 5,6 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos.

Setor de bares e restaurantes declara boicote ao iFood

A tensão escalou ainda mais quando a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp) anunciou um boicote oficial ao iFood, acusando a empresa de práticas abusivas.

Entre as queixas estão:

  • Taxas consideradas abusivas
  • Falta de transparência no credenciamento de estabelecimentos
  • Ausência de exigência de alvará sanitário ou de funcionamento

A Fhoresp afirma que tentou negociar com o iFood, sem sucesso, e agora denuncia que a plataforma “faz com que os restaurantes trabalhem para ela”.

iFood rebate críticas, nega monopólio e muda posicionamento

Em meio à ofensiva, o iFood lançou no dia 7 de maio uma campanha de reposicionamento: quer ser visto como plataforma de conveniência multicategoria, e não só de comida.

A empresa quer ampliar sua atuação em farmácias, supermercados, pet shops e outros segmentos.

Sobre as críticas, o iFood afirma que o setor é “altamente competitivo e pulverizado” e nega deter 90% do mercado – número frequentemente citado por entidades do setor. De acordo com a empresa, 65% dos pedidos de comida ainda são feitos fora das plataformas, como por telefone e WhatsApp.

Apesar da nota oficial, o iFood não respondeu às acusações de falta de critério na entrada de restaurantes nem disponibilizou porta-voz para entrevista.

Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), embora reconheça o domínio do iFood – a entidade já citou que a empresa detém 86% do market share em processos no Cade – não apoia a ideia de boicote.

“O diálogo com o iFood é excelente, mas se houver práticas anticompetitivas, vamos agir”, afirmou Paulo Solmucci, presidente-executivo da associação. Em suma, ele também destacou que acompanhará de perto a entrada da KeetaRappi e 99 Food, para garantir que não haja barreiras de entrada.