No atual cenário de juros elevados e restrição de crédito, poucas instituições conseguem traduzir essa adversidade em vantagem competitiva. Para falar sobre o tema, Nelson Leite, vice-presidente de Pagamentos da RecargaPay, aponta que o diferencial da empresa está na conjugação de eficiência operacional e capacidade de transformar crédito em produto recorrente com baixa inadimplência.
Na perspectiva do executivo, essa combinação, sustentada por modelos próprios de machine learning e uso intenso de dados, posiciona a RecargaPay com vantagem para capturar valor mesmo em ambientes financeiros mais adversos.
Contudo, o que mais pode chamar a atenção de investidores é o lançamento recente dos CDBs da RecargaPay com rentabilidade de até 120 % do CDI, aplicáveis a partir de R$ 50 — com garantia do FGC — iniciativa que marca sua entrada no mercado de investimentos.
A estratégia da organização possibilita a diversificada de fontes de captação, reduz dependência de crédito externo e engaja sua base de clientes com produto financeiro atrativo.
Ainda que invoque a relevância estrutural da evolução do Pix — especialmente com o novo Pix Parcelado — para ampliar o mix de receitas da RecargaPay, foi justamente a virada audaciosa em direção ao mercado de capitais que mais chama atenção. O ecossistema de pagamentos já demonstra sinais de ruptura: o Pix tem capturado parcela crescente das transações e, com o crédito embutido no meio de pagamento, pode corroer participação de cartões.
Com isso, lançar um produto de investimento competitivo enquanto se expande no núcleo de pagamentos confere à RecargaPay um trunfo que tende a ressoar entre investidores e operadores do mercado financeiro — porque une potencial de crescimento com pista de monetização clara.
Confira a entrevista na integra:
No cenário atual, como você vê o custo de capital para fintechs nos próximos 12-18 meses?
Como a taxa Selic continua em patamares altos, o custo de captação tende a permanecer elevado para o setor como um todo. O diferencial está em quem consegue transformar crédito em produto recorrente com menor inadimplência. A RecargaPay é uma fintech consolidada que já oferece esse tipo de serviço há alguns anos e que tem histórico de alta eficiência operacional. Com o uso intensivo de dados para mitigar riscos aplicando modelos proprietários de machine learning, temos uma inteligência e tecnologia proprietária que nos apoia na análise e construção do crédito para nossos clientes. Ou seja, é preciso saber combinar eficiência operacional – que nós temos – com um produto que ofereça uma experiência superior e completa aos brasileiros.
Considerando o ciclo econômico brasileiro, qual impacto você antecipa para o volume de transações via Pix?
Segundo os dados do relatório da Nuvei, o Pix já responde por quase metade das transações de pagamento no Brasil e deve alcançar 50% do e-commerce até 2027. A tecnologia teve uma forte adesão da população e os players passaram a oferecer novos serviços com ela. No caso da RecargaPay, fomos pioneiros no lançamento do Pix com cartão e a rápida adoção é um forte indicativo de que as pessoas estão atentas às novidades e buscando alternativas para realizar seus pagamentos.
Na Índia, o UPI (sistema similar ao Pix) cresceu mesmo em 2020 durante a recessão, pois oferecia conveniência e menor custo. Aqui, mesmo com o consumo mais fraco, o Pix mantém um crescimento estrutural e já supera 4 bilhões de transações mensais. Agora, o que muda é o mix: deve crescer o uso de Pix como substituto de boleto/carnê com Pix Automático, a utilização do Pix no varejo com o Pix por aproximação e agora como crédito via Pix Parcelado.
A tecnologia adiciona uma camada de crédito, de forma padronizada pelo Banco Central, que vai servir de alternativa para facilitar e estimular o consumo. Ainda, pode servir também como uma alternativa a quem não tem cartão. Para a RecargaPay, isso implica em um mix de receita mais diversificado, com maior margem em operações de crédito e mais ofertas para nossos mais de 10 milhões de clientes.
Como a RecargaPay posiciona sua vantagem competitiva frente a players já consolidados?
A RecargaPay se diferencia por ser uma plataforma financeira completa onde os clientes podem investir, pagar, financiar e ganhar dinheiro de forma simples e segura, além de ter sido pioneira no lançamento do Pix com cartão e diversos outros serviços e produtos. Já com 15 anos de mercado, o app vem acompanhando as tendências do setor e disponibilizando serviços financeiros que sejam convenientes, seguros e fáceis de usar.
Atendemos hoje mais de 10 milhões de clientes pelo Brasil, e queremos ser uma ferramenta que dê a eles autonomia para escolher como querem lidar com suas finanças, sejam pessoas físicas ou empreendedores. Inovamos continuamente para diferenciar a experiência para o consumidor: seja com soluções de crédito, cobrança ou investimento, buscamos sempre estar à frente para oferecer conveniência, segurança e autonomia financeira. Foi assim com Pix no cartão, pioneirismo que virou referência de mercado.
Por último, é importante reforçar a densidade de talentos que temos na companhia. Nós conseguimos oferecer um produto com a melhor experiência do mercado com uma equipe, em alguns casos, até 10 vezes mais enxuta. Portanto, nossa vantagem competitiva passa por oferecer o melhor produto financeiro, que resolve dores reais do cliente, com um time altamente capacitado, adoção de inteligência artificial e combinando as melhores práticas de operação e segurança disponíveis no mercado global.
Com a recente evolução regulatória, quais novas oportunidades de receita você espera explorar?
A conquista da licença foi um marco significativo para a RecargaPay e fortaleceu a nossa oferta de serviços financeiros, o que nos tornou um app financeiro verdadeiramente completo. Com a aprovação do BC para atuar como financeira, pretendemos ampliar as nossas linhas de crédito e emitir novos produtos financeiros. Além dos empréstimos diretos a consumidores e microempreendedores, e dos cartões de crédito Black e Platinum, também pudemos colocar no mercado nossos primeiros produtos de investimento: no app, os clientes podem investir nos nossos CDBs com valores a partir de R$ 50 com rentabilidade de até 120% do CDI. Esses novos produtos visam oferecer condições mais vantajosas para os clientes, com benefícios práticos e reais, como os cashbacks de 1,5% nos cartões e o acesso rápido aos empréstimos.
O Pix Parcelado promete mudar o comportamento de pagamento. Que tipo de cliente deve ser maior beneficiário?
O Pix Parcelado é uma solução que cria valor em toda a cadeia: o cliente amplia seu poder de compra e o comerciante recebe à vista. Há oportunidade para todos que estejam incluídos no sistema financeiro, visto que o serviço fica disponível para toda a população.
O Pix Parcelado é mais uma opção de pagamento que une o Pix ao crédito, de forma padronizada e fácil entendimento para o consumidor. Ao escolher pagar com esse método, o consumidor pode consultar as ofertas da sua instituição financeira e entender se aquele empréstimo pode ser útil para seu momento financeiro. Ainda, com o Open Finance, o compartilhamento de dados entre instituições e a busca pela melhor oferta ficam ainda mais fáceis para o consumidor.
Dados mostram que 68% da população de baixa renda já tem chave Pix, mas só 40% têm cartão de crédito. O Pix Parcelado pode facilitar o acesso imediato a compras parceladas e crédito justamente a essa parcela da população. Os lojistas, por sua vez, ganham o benefício de receber liquidez instantânea, reduzindo inadimplência e custo operacional. É um ganho para todo o ecossistema.
Qual você espera que seja o impacto do Pix Parcelado no ecossistema de cobrança?
O Brasil é um país grande e com muitos cenários, então acredito que há espaço para outros métodos de cobrança, ainda que o Pix tenha ganhado uma boa parcela da população. Nosso papel é dar liberdade de escolha ao cliente. Na RecargaPay, acreditamos que o importante é dar autonomia para ele escolher o que funciona melhor para o seu bolso, seja pagando à vista, no Pix tradicional, Parcelado, ou da forma que quiser. A transição não é sobre substituir meios, mas integrar soluções em um só app. Assim, capturamos valor como hub financeiro completo, que conecta conveniência para o consumidor e liquidez para o lojista.
O Pix Parcelado é mais uma opção para o consumidor. Com a chancela do Banco Central, os consumidores vão poder visualizar de maneira fácil as ofertas que têm disponíveis para escolher o que melhor se encaixa no seu orçamento.
Como você enxerga que a evolução do Pix tem moldado ou vai moldar os produtos e a experiência do cliente dentro do app?
O Pix já é o meio de pagamento mais utilizado no Brasil e entra em uma fase em que vai muito além da transferência instantânea. O Pix Parcelado oferece ao consumidor a possibilidade de ampliar seu poder de compra, ao mesmo tempo em que garante liquidez imediata para o lojista, tornando-se uma alternativa competitiva ao parcelamento no cartão. Já o Pix Automático, outro lançamento do Bacen, promete transformar cobranças recorrentes, como contas e assinaturas, em experiências sem fricção. Com a padronização do Banco Central, o Pix se consolida como a base da experiência financeira do brasileiro.
A RecargaPay quer ajudar os brasileiros a lidar com seu dinheiro de forma simples e segura, e o Pix faz parte desse ecossistema. Além de ser uma solução econômica, rápida e prática, também nos permitiu ampliar a nossa oferta de serviços. Qualquer inovação que chegue para melhorar a vida dos clientes é bem-vinda para nós. Buscamos dar ao consumidor o poder de escolher como quer pagar e lidar com o seu dinheiro, e a chegada do Pix Parcelado dá mais uma opção para os brasileiros.
Temos um histórico de oferecer uma experiência fluida, clara e transparente, e com o Pix Parcelado não será diferente. Entendemos que ele fará parte da jornada do cliente, seja pagando uma conta, comprando um produto ou carregando seu cartão de transporte.
Vamos continuar desenvolvendo nossa plataforma para atender todas as necessidades financeiras dos brasileiros, seja com o Pix, o Open Finance ou o que mais pudermos. Vemos o Pix Parcelado como mais um passo para a democratização dos meios de pagamento no Brasil, uma vez que simplifica pagamentos e amplia o poder de compra dos brasileiros.