Analistas avaliam

Temu é realmente uma ameaça para varejistas no Brasil?

Analistas ouvidos pelo BP Money confirmaram que a chegada da Temu reforça um cenário competitivo, mas a nova taxação pode mitigar os efeitos

Foto: Temu/Divulgação
Foto: Temu/Divulgação

A chegada da plataforma chinesa Temu no Brasil tem gerado uma série de receios. O movimento também é observado como um verdadeiro desafio para as varejistas que já atuam no País.

Analistas ouvidos pelo BP Money confirmaram que a chegada da Temu reforça um cenário competitivo. Contudo, apontam que, possivelmente, o imposto de 20% aprovado na Câmara pode atenuar “essa chegada”.

A Temu é propriedade da asiática PDD Holdings e está sendo intitulada por parte do noticiário como um “fenômeno global”.

Com isso, a analista de varejo Carol Sanchez apontou que a empresa deve fomentar um cenário de competitividade já observado no varejo nacional.

Segundo ela, essa competitividade de estende tanto se tratando de lojas físicas quanto em relação ao e-commerce. “Principalmente por Shein e Shopee terem caído no gosto do consumidor brasileiro”, acrescentou Sanchez.

Observando um cenário macro, no exterior, conforme informações do “Valor”, a Temu chegou ao México há alguns meses e já conseguiu superar o Mercado Livre (MELI34). O Brasil, a Argentina e o México são os países que mais geram receita para o Mercado Livre.

Além disso, a analista de varejo destacou que players nacionais que atendem a média e baixa podem ser impactados. “Então, a gente deve realmente ver um impacto, principalmente pensando em players como o Magazine Luiza e Casas Bahia”, disse Sanchez.

Aprovação de ‘taxação das blusinhas’ pode mitigar efeito da chegada da Temu

Ainda segundo a economista, esses impactos podem ser atenuados com a sanção do imposto de 20% sobre as compras internacionais inferiores a US$ 50,00.

A medida recebeu a aprovação na Câmara dos Deputados, mas aguarda sansão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Então, tanto para Temu quanto para outras varejistas do e-commerce chinês que cresceram muito no Brasil, essa questão do imposto deve mitigar um pouco, mas ainda assim não resolve completamente”, comentou Sanchez.

Nesse sentido, segundo um estudo do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), para haver uma isonomia tributária, seria necessário que esse imposto fosse de pelo menos 60%.

Analista fala que varejistas com lojas físicas podem precisar se adaptar

Já o analista da Benndorf Research, João Lucas Tonello, disse que a adpatação será necessária. A afirmativa se referiu as empresas que atuam com muita força no varejo com lojas físicas do mesmo segmento da Temu.

Assim, ele elencou alguns tópicos para abordar o tema, como concorrência, preço-qualidade, mudanças no comportamento do consumidor, adaptação à tecnologia, pressão competitiva, entre outros.

Concorrência preço-qualidade:

A Temu já é conhecida por oferecer produtos com preços extremamente competitivos. Sendo assim, poder haver pressão para varejistas com lojas físicas. Elas podem ter de reduzir seus preços ou melhorar a qualidade de seus produtos.

A título de exemplo, Tonello mencionou a Magazine Luiza (MGLU3), que pode precisar ajustar suas estratégias de precificação ou até mesmo “oferecer promoções mais frequentes para competir com os preços agressivos”.

Mudança no comportamento do consumidor:

É de conhecimento geral que boa parte dos consumidores tem optado por aderir ao e-commerce devido à conveniência.

“Lojas como a Renner ou C&A podem perceber uma redução no fluxo de clientes, especialmente se a Temu conseguir captar a atenção dos consumidores com ofertas de moda acessível e conveniente”, disse Tonello.

Pressão competitiva:

A chegada da Temu, além de pressionar as empresas que atuam no e-commerce nacional, também atinge as companhias que têm maior domínio em lojas físicas. Com isso, as organizações podem se sentir obrigadas a “inovar” para reduzir custos, mas manter as margens de lucro sustentáveis.

“A Americanas S.A. (antiga B2W Digital), dona de marcas como Submarino e Shoptime, pode sentir a necessidade de investir mais em inovação, logística e atendimento ao cliente para competir com a Temu”, comentou o analista.

Logística de distribuição:

Além disso, Tonello apontou que empresas de e-commerce nacional precisam aprimorar suas redes de logística para competir com a eficiência de entrega de companhias como a Temu.

“A chegada da Temu no Brasil representa uma mudança significativa no cenário do varejo e e-commerce. Varejistas com lojas físicas e focadas no e-commerce precisarão se adaptar rapidamente para enfrentar essa nova concorrência”, acrescentou ele.