Apesar de estarem fora do ciclo das nações vistas como desenvolvidas, quando se trata de energia renovável, o domínio é dos países emergentes. Especificamente a China, o Brasil e a Índia, respectivamente, despontaram como os maiores produtores de energia solar e eólica do mundo em 2023.
Os dados do Think Tank Ember mostram que a produção brasileira de energia renovável superou todos os países do G20, com 89%, considerando os segmentos de energia eólica, solar, hidráulica e bioenergia. Ao mesmo tempo, na produção específica de energia eólica e solar, a China veio na frente, com o Brasil e a Índia logo atrás.
Mas, vendo além do imaginário ideal de iniciativas ESG, essa área representa uma nova frente de negócios, onde os países emergentes buscam ser mais competitivos, oferecendo mais oportunidades de mercado e visando os potenciais retornos atraentes.
“A necessidade de redução de emissões para combater mudanças climáticas, aliada à abundância de recursos naturais presentes nesses países [emergentes] (água, vento, biomassa) para a produção de energia renovável e ao crescimento da demanda por energia são os principais fatores para esse crescimento”, disse Elisa Romano, especialista em sustentabilidade e sócia da Ikigai Consultoria.
As nações em desenvolvimento tentam diversificar suas fontes de energia elétrica também como forma de segurança, para reduzir a vulnerabilidade ao choque dos preços no mercado internacional, que ainda se apoiam nas fontes de combustíveis fósseis.
“Além disso, instituições financeiras internacionais e organizações de desenvolvimento públicas e privadas buscam financiar projetos de energia renovável em países emergentes, inclusive sob o formato de Concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs), que tornam essas opções mais atraentes e competitivas em comparação com fontes de energia dita tradicionais, ajudando inclusive esses países a superarem barreiras financeiras e tecnológicas”, explicou André Vasconcellos, vice-presidente do Conselho de Administração do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores).
Energia Renovável: benefícios para empresas significam custos elevados para os consumidores
No Brasil, o movimento rumo à energia limpa vem de diferentes frentes. Romano exemplificou como uma das ações o Eco Invest Brasil, no âmbito do Fundo Clima, para atrair investidores nacionais e externos em projetos de transição energética e redução de emissões de carbono.
“O país também tem investido em iniciativas para apoiar a pesquisa e o desenvolvimento de projetos de energia renovável. A FINEP, por exemplo, tem o programa Inova Energia, em conjunto com BNDES, ANEEL e ANP, que apoia projetos de P&D em energias renováveis e eficiência energética”, citou ela.
No quesito transição energética, a Petrobras (PETR4) tem se projetado como uma pioneira entre seus pares mundialmente. Segundo Vasconcellos, isso não só cria oportunidades de crescimento e fortalecimento frente a crises climáticas e regulatórias, como melhora a imagem da estatal.
“A Petrobras tem estabelecido metas ambiciosas para a redução de emissões de gases de efeito estufa, alinhando-se com os objetivos do Acordo de Paris e com as expectativas de investidores globais que priorizam a sustentabilidade”, comentou o vice-presidente do IBRI.
Os investimentos privados em energia renovável estão “enchendo os olhos” de diversos setores da economia, como o agronegócio, mineração e as empresas de bens de consumo duráveis, para quem a instalação de sistemas de energia solar e eólica significam redução de custos operacionais com eletricidade.
Além disso, os projetos de Geração Distribuída, tanto por cooperações públicas quanto privadas, com a instalação de painéis solares em fábricas, armazéns e escritórios que reduzem, de maneira parcial, a dependência da rede elétrica, foi o que expôs Vasconcellos.
“O investimento inicial em tecnologias de energia renovável ainda é relativamente elevado, especialmente para pequenas e médias empresas. Embora os custos tenham diminuído, o financiamento inicial pode ser um obstáculo à aprovação e implementação de projetos de energia renovável [no Brasil]”, finalizou Vasconcellos.
Na contramão, Romano enxerga que o custo da energia para o consumidor comum deve aumentar, considerando o valor mais alto da energia renovável.
“A inserção da energia renovável na matriz energética nacional tende, pelo menos no primeiro momento, a aumentar o custo da energia. Pode haver uma percepção negativa da sociedade, mas na verdade, o que está se fazendo é a precificação de uma externalidade positiva”, observou ela.