Em meio a secas intensas em parte do Brasil, o agricultor suíço, Ernst Götsch, morador de Piraí do Norte, no sul da Bahia, ensina agricultores a “plantar água”, recuperando nascentes e fazendo com que suas plantações bombeiem mais água para a atmosfera.
O agricultor defende a adoção de sistemas agroflorestais, que combinam a produção de comida com a regeneração de florestas, em meio a várias práticas agropecuárias que são apontadas como vilãs do clima.
Suíço desembarca na Bahia na década de 80
Ao chegar na Bahia, nos anos de 1980, o cenário era totalmente outro. Quase todos os 510 hectares da propriedade haviam sido desmatados, e os animais silvestres eram raros.
Isso ocorreu por conta dos donos antigos, que passaram anos criando porcos e cultivando mandioca de forma convencional, o que esgotou o solo e assoreou 14 riachos que cruzavam a fazenda.
Nas mãos de Götsch, a maior parte da propriedade, atualmente, virou uma reserva ambiental privada, e somente 5 hectares — menos de 1% do terreno — lhe geram receitas.
É nessa região que o suíço cultiva cacau de alto valor e exporta para Portugal. O seu bom desempenho em “casa” chamou atenção do Brasil inteiro, e o mesmo passou a rodar o país dando cursos e levando seus conhecimentos.
Como assim “plantar água”?
Um dos primeiros desafios de Götsch foi recuperar os riachos assoreados, o que ele fez abrindo valas nos cursos originais e reflorestando o entorno.
Ele afirma que, ao conseguir o amadurecimento da floresta, houve um aumento de 70% da quantidade de chuvas na fazenda. Esse fenômeno ocorre pois, ao transpirar, as árvores transferem água para a atmosfera, intensificando a formação de nuvens. E, quanto mais plantas há num local, mais água é bombeada.
Conhecido por evapotranspiração, o processo é o segredo dos “rios voadores”, quando a água injetada na atmosfera pelas árvores da Amazônia se transforma em chuva em várias partes da América do Sul.
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Ainda de acordo com Ernst Götsch, o reflorestamento da sua propriedade acabou contribuindo para agricultores da região, pois passou a chover mais em áreas que ficam a até 8 km a oeste da fazenda. A recuperação dos riachos embasou uma das principais máximas que o suíço difunde em cursos e palestras: a de que “água se planta”.