
Os membros da família Fontana, fundadora da Sadia, estão em processo de organização para contestar a relação de troca da fusão entre a BRF (BRFS3) e a Marfrig (MRFG3). Os Fontana não concordam com a definição de preço e questiona a independência de quem avalia o processo.
De acordo com Adriano Fontana, a família é dona de cerca de 3% da BRF e está em contato com outros investidores para formalizar a contestação e colocar pressão na negociação. Segundo informações dadas ao Pipeline, o pai de Adriano Fontana registrou sua reclamação na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) nesta terça-feira (3).
De acordo com os termos que foram divulgados por ambas as companhias, o custo dos dividendos distribuídos pela Marfrig será maior do que os distribuídos pela BRF à sua base: R$2,90 e R$ 2,20, respectivamente. Após o pagamento, os acionistas da BRF devem receber 0,8521 de ação da Marfrig a cada ação da BRF
“Implicitamente, isso aponta para um valor de R$ 17,30 por ação da BRF, ou seja, um desconto de 16% em relação ao seu preço de fechamento de 15 de maio, antes do anúncio da fusão, quando a ação valia R$ 20,62”, explicou Fontana ao Pipeline.
De acordo com os documentos de incorporação, os preços considerados para a relação de troca antes dos dividendos são de R$ 23, 32 para a BRF, um prêmio de 13% em relação ao fechamento do dia anterior, e de R$ 27,73, prêmio de 34% em relação ao fechamento do dia anterior. Adriano Fontana pontuou que, no caso da Marfrig, isso 21% a mais que a máxima histórica deste, em 27 de Abril.
Em entrevista ao Pipeline, Adriano Fontana afirmou: “A relação de troca de 0,85 é indefensável sob qualquer ângulo. Nunca foi menor que 1 e, se olharmos intervalos de 90 dias ou 200 dias, apontaria um range de 1,34 a 1,83 ação da Marfrig para cada ação da BRF”.
Fontana também considera que o comitê independente, convocado para discutir a transação com base no parecer 35, da CVM, é parcial. “São pessoas que trabalharam ao menos cinco anos com o Molina e não temos as informações sobre as interações desse comitê na discussão e definição de parâmetros” afirmou.
Em defesa, a Marfrig afirmou ao Pipeline que: “todos os procedimentos referentes ao processo de fusão com a BRF estão sendo conduzidos com rigor, seguindo a legislação e as melhores práticas do mercado. As bases da negociação foram respaldadas por uma avaliação independente (Fairness Opinion) emitida pelo Citibank, banco contratado pelo Comitê Independente da BRF. A companhia reafirma seu compromisso com a governança e a transparência em todas as suas operações.”