A Faros Participações, maior escritório de assessoria ligado à XP Investimentos (XPBR31), comprou uma fatia da Persevera Asset Management, gestora de recursos fundada há cinco anos pelo ex-HSBC e Bradesco, Guilherme Abbud, ao lado de outros executivos com quem trabalhou nos dois bancos. As informações são do jornal “Valor Econômico”.
O acordo estratégico prevê que a asset seja a frente de gestão multiestratégia do grupo. A aquisição ocorre em meio a conversas com a Messem, outra assessoria da XP, para uma fusão que, se ocorrer, pode criar uma plataforma de investimentos que possui R$ 60 bilhões em custódia.
Para a conclusão do processo, algumas questões com a própria XP e com o Banco Central (BC) precisam ainda ser resolvidas, já que tanto a Faros, quanto a Persevera tinham acertado montar suas corretoras em sociedade com o grupo fundado por Guilherme Benchimol, em processos separados.
A Faros nasceu como um escritório de agentes autônomos ligado à XP e, hoje, reúne R$ 35 bilhões sob assessoria. Há cerca de um ano, o escritório tinha acertado assumir a gestora do BS2, com uma carteira de R$ 800 milhões, naquela que seria a base da sua asset, mas o negócio naufragou na etapa final.
Baseando-se em uma demanda reprimida dentro de casa por mandatos mais personalizados, principalmente entre as grandes famílias, em um ano, a expectativa é reunir um patrimônio da ordem de R$ 2 bilhões.
A Persevera, atualmente, é composta por um multimercado, uma versão de previdência, um “long bias”, um renda fixa ativo e um fundo DI. Agora, estrutura um de commodities com viés macro e no futuro vai buscar especialidades complementares em crédito, fundo imobiliário e até em private equity, lista Abbud.
Aquisição da Persevera pela Faros chega em bom momento
Segundo o jornal “Valor Econômico”, o negócio vem após um 2022 complicado para gestoras com produtos mais sofisticados na prateleira, com saque recorde, de R$ 158 bilhões em multimercados e fundos de ações, segundo dados da Anbima ( Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). A asset leva um patrimônio de R$ 130 milhões em cinco fundos, um tamanho insuficiente para seguir sozinho, reconhece Abbud.
“O setor de investimentos viveu um movimento pendular. Tinha um mercado oligopolizado, os clientes estavam em cinco, seis assets de bancos, com produtos só das mesmas instituições, e depois se moveu para a extrema fragmentação, com muitas gestoras, distribuidoras e estruturas de ‘wealth management’ [gestão de riqueza]. O que se busca agora são parcerias para um meio de caminho”, disse Abbud em entrevista ao jornal.
Trajetória da Persevera
O objetivo da gestora sempre foi evoluir para uma oferta diversificada, já que, quando foi montada pelos empresários Cesar Dammous e Fernado Fontoura, o time trazia um bom histórico em multimercados, primeiro no HSBC, depois na junção com o Bradesco, que comprou as operações do grupo inglês no Brasil. “Tem uma época que todo mundo ama multimercados, se apaixona por fundos de ações e depois sai correndo para fundos DI ou para portfólios com estruturas de crédito, é tudo muito cíclico”, afirmou Abbud. “A inclinação sempre foi usar a nossa capacidade multidisciplinar.”
Agora o plano ganha a escala da distribuição da Faros, que tem na sua base cerca de 15 mil clientes, a maior parte entre qualificados e profissionais (com patrimônio financeiro a partir de R$ 1 milhão e R$ 10 milhões, respectivamente), informou ao “Valor Econômico” Rodnei Riscalli, diretor de produtos da Faros, que conduziu as conversas com o time da Persevera.
Com uma das maiores assessorias de investimentos do país, Riscalli afirma que havia a reflexão se valeria ou não ter uma asset própria, se não representaria um conflito potencial com a atividade de distribuição. “Colocando na balança, percebemos que seria benéfico, com produtos com custo mais adequados para o cliente. Não queríamos depender de só ir a mercado ver o que tinha disponível.”
Ter uma casa multiestratégia significa também ter uma recorrência de receitas, não ficando dependente de um único núcleo de gestão. Para tanto, a ideia é atrair equipes com experiências distintas. Abbud observa que há gestores que não querem ficar submetidos a enormes estruturas como a dos bancos, mas também não têm vontade de empreender, buscam um ambiente organizacional mais dinâmico.