A Americanas (AMER3) anunciou na quarta-feira (11) que Sergio Rial, CEO da companhia, renunciou ao cargo após duas semanas como diretor executivo. Ele e a gestão da varejista descobriu um rombo de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas. Não se sabe ainda o que ocorreu, de fato, com a companhia, mas há motivos para se acreditar que as inconsistências são um “fortait”.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) define orientações às empresas para evitar riscos de distorções da operação de “risco sacado” ou “fortait”, que ocorre quando uma companhia tem uma dívida a ser paga e faz um acordo com o banco que a financiou para que a instituição libere o dinheiro para pagar, primeiro, o credor.
“O fornecedor emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso, apresenta um Ebitda [lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação] maior. A companhia compradora, por sua vez, não reconhece um passivo oneroso junto ao banco, mas o passivo de funcionamento “fornecedores”: seu estoque fica inflado e a margem bruta com vendas distorcida”, afirmou no ofício a CVM.
Portanto, pode se tornar um rombo quando a companhia não lança de maneira correta a operação em seu balanço. “Deixa de reconhecer despesas financeiras em resultado, pois além de não reconhecer o passivo oneroso “financiamento”, não ajusta a valor presente o passivo fornecedores, sem a segregação dos juros, nos termos do pronunciamento técnico”, explicou a CVM.
Americanas não cita “fortait”
Em sua nota explicativa das demonstrações do terceiro trimestre, a Americanas não cita, especificamente, o “fortait”, ou operações de risco sacado.
Ao declarar os seus instrumentos financeiros, a Americanas menciona, na linha de passivos, valores relativos a fornecedores e outras obrigações, no valor de R$ 9,7 bilhões.
Em fato relevante, divulgado na quarta-feira (11), em que foi informado o rombo, a Americanas apenas informou que “numa análise preliminar, a área contábil da companhia estima que os valores das inconsistências sejam da dimensão de R$ 20 bilhões na data-base de 30/09/2022. A companhia estima que o efeito caixa dessas inconsistências seja imaterial”.
“Entre as inconsistências mencionadas acima, a área contábil da Companhia identificou a existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima, nas quais a companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras de 30 de setembro de 2022”, explicou a Americanas.