Os elevados preços de combustíveis, nos últimos meses, estão pautando os discursos dos principais candidatos à Presidência do Brasil. Se por um lado Bolsonaro (PL) não quer mais reajustes nos combustíveis e no gás de cozinha até as eleições, que acontecerão em outubro deste ano, na outra ponta, Lula (PT) diz que, caso assuma, acabará com a política de paridade de preços internacionais e cogita ainda uma fusão entre Eletrobras (ELET6) e Petrobras (PETR3;PETR4).
Esta última ideia, entretanto, é vista como um erro crasso pelo mercado. Analistas consultados pelo BP Money desacreditam da possível fusão, mesmo com os discursos proferidos por aliados de Lula nos últimos meses.
Apesar da proposta de fusão da Eletrobras com a Petrobras parecer interessante quando se pensa na criação de uma única empresa de energia, onde seja possível explorar o petróleo, o gás, a energia elétrica e a tecnologia de energia sustentável, o analista CNPI Thomas Pedrinelli afirma que não faria sentido ter Petrobras e Eletrobras sob um mesmo CNPJ.
“Na minha opinião, é impossível acontecer. Não faz sentido nenhum ter Eletrobras e Petrobras em um mesmo CNPJ. São business completamente diferentes. Para mim, o mercado ficaria totalmente desacreditado. Teríamos possivelmente uma evasão de recursos estrangeiros, que são recursos que tocam o Brasil”, afirmou Pedrinelli.
“A percepção vai ser que aqui talvez não seja mais um lugar seguro para investir, porque a influência do governo muitas vezes pode trazer instabilidade econômica para o País”, complementou.
O especialista explica que uma vez que o governo impõe um preço na ponta final de quanto que vai custar a energia e o combustível, a concorrência acaba quebrando. Isso porque se o governo começa a subsidiar essa grande empresa, as concorrentes podem vir a falência.
“Este é o pior inimigo do Brasil, que é concentrar toda a sua capacidade econômica dentro de um oligopólio ou monopólio, por assim dizer, e você pode levar isso a um colapso econômico federal, porque uma vez que você controla a economia através dos preços de combustíveis e energia elétrica você acaba inflacionando todo resto da sua economia, e aí a gente tem risco muito severo de muitas coisas darem errado, porque no final alguém tem que pagar a conta”, afirmou Pedrinelli.
Fabricio Gonçalvez, CEO da Box asset management, explicou que a ideia de Lula é fazer algo semelhante ao modelo de negócios da Equinor, empresa global de energia, que tem sede na Noruega e também tem atividades no Brasil.
O analista reforça, entretanto, que a ideia de criar uma gigante de exploração e produção de óleo e gás, e energias renováveis, a partir da junção de duas estatais no Brasil não é adequada.
“Não há a mínima condição de você unificar essas duas estatais (Petrobras e Eletrobras), até mesmo porque elas são fortes nos seus determinados setores e existe todo um arcabouço de organização societária, organização de departamentos, setor em si, e nós hoje não temos – no Brasil – nenhum outro caso parecido, então acho que não há nenhuma chance disso acontecer, por mais que o Lula queira fazer isso”, disse Gonçalvez.
“Uma coisa é você fazer isso (fusão) numa iniciativa privada, outra coisa é fazer em um campo maior, empresa listada em bolsa, estatal, com participação do governo, um ramo muito maior. Não acredito que isso seja planos para um futuro presidente”, complementou.
Os especialistas ouvidos pelo BP Money acreditam que mesmo que Lula tente levar a ideia adiante, em um cenário onde ele vença as eleições, o projeto não seria aprovado.
“Existem diversos empecilhos burocráticos, não só da parte política, mas também da parte prática. Como você vai juntar as operações a nível burocrático? A gente teria uma única empresa que faria toda a parte de distribuição, refinamento da parte petrolífera e exportação dessa matéria prima”, disse o analista Thomas Pedrinelli.
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Em março, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) propôs a fusão da Petrobras com a Eletrobras, destacando que esta empresa seria “uma espinha dorsal da atividade energética, em sinergia e parceria com a iniciativa privada”. O senador alegou que esse é o modelo adotado pela estatal da Noruega Equinor, antiga Statoil.
Caso isso viesse a acontecer, segundo os especialistas consultados pelo BP Money, o Governo seria o maior beneficiado, já que teria em suas mãos uma empresa estratégica, onde poderia controlar e manipular preços de combustível e energia.
“Nenhuma outra empresa, hoje, consegue comercializar o petróleo e o combustível aqui se não tiver junto com a Petrobras. Tem empresas particulares com muita dificuldade de conseguirem comercializar, de uma maneira livre, a energia elétrica. E aí o que acontece? Você começa a ter basicamente um monopólio. A gente teria concorrentes em alguns aspectos, na distribuição de combustível, na distribuição de energia, na geração, mas seriam concorrências desleais, porque uma vez que o governo impõe um preço, a concorrência acaba quebrando”, pontuou Pedrinelli.