Dólar, combustíveis e bagagem. A Gol (GOLL4) e a Azul (AZUL4) já precisavam lidar com o difícil cenário econômico atual para o setor e, agora, ganharam uma nova bagagem para carregar. Com a aprovação da Medida Provisória 1.089 de 2021, também conhecida como “MP do Voo Simples”, na última terça-feira (17), as empresas aéreas terão que voltar a disponibilizar – de forma gratuita – o despacho de bagagens até 23 quilos e 30 quilos, para voos nacionais e internacionais, respectivamente.
Apesar de as companhias aéreas terem até mesmo apelado ao presidente Jair Bolsonaro (PL) para evitar a medida, os analistas consultados pelo BP Money afirmaram que o impacto para as aéreas deve ser mínimo. Isso porque o despacho das bagagens se encaixam nos “serviços das classes tarifárias” e não tem um grande efeito no final do dia para as aéreas, principalmente em relação ao preço final da passagem.
“O que você vai ter de diferente, entre as aéreas, são as classes tarifárias. Os serviços que elas podem prestar a mais, como a possibilidade de mudar de data, marcar assentos antecipadamente, despacho de uma ou mais bagagem, só que isso não é o que acaba pesando mais. O que acaba pesando mais no preço final da passagem é o fato do dólar ter se valorizado bastante em relação a nossa moeda e o preço da gasolina também ter se valorizado bastante em relação a nossa moeda. Isso porque as companhias aéreas têm a maior parte dos custos voltados ao combustíveis e ele é cotado em dólar”, explicou Breno Bonani, analista chefe da VGR Asset.
“Por isso, elas têm um custo atrelado ao dólar muito alto e precisam repassar ao consumidor final, porque faz parte da estrutura de custos dela como companhia”, complementou.
Segundo Bonani, analista chefe da VGR Asset, o desafio das aéreas, agora, é gerar uma receita que possa equalizar os altos custos do atual cenário. “No fim, elas (Gol e Azul) têm que gerar uma receita que consiga equalizar ou que consiga compensar esses custos. O fato de cobrar esses serviços das classes tarifárias, como o de bagagens, não é um grande item ali que faça algum efeito no final do dia”, disse.
Diferente do que disse o relator da medida, Carlos Viana (PL-MG), que afirmou que a gratuidade de despacho de bagagem (incluída na MP pelos deputados) poderia aumentar os preços das passagens, os analistas também não concordam com a afirmação. Ainda que eles acreditem que as passagens aéreas podem aumentar no curto e médio prazo, os motivos não devem estar ligados à gratuidade do despacho de bagagens.
Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, o cenário macro deve ser o maior responsável por ajustes nas passagens aéreas nos próximos meses.
“Querendo ou não, o preço vai ficar mais alto, por conta da desaceleração da economia, que está diminuindo mais ainda a demanda do setor”, afirmou o analista.
As aéreas foram autorizadas a cobrar pelas bagagens despachadas a partir de 2017. Na época, as companhias do setor alegavam que este movimento poderia diminuir o preço das passagens aos consumidores. Isso, entretanto, não aconteceu. Basta olhar para a alta no preço das passagens aéreas nos últimos anos. Em 2019, as passagens tiveram alta de 8% e, em 2021, 19,3%, mesmo com a cobrança por despacho de bagagens. Em 2020, excepcionalmente, o valor das passagens aéreas caiu 14,5%, devido a pandemia de covid-19, que afetou fortemente o setor.
Veja também: Acordo Gol (GOLL4) x Avianca pode trazer aumento de preços das passagens e rentabilidade
Para Khalil de Lima, analista da Reach Capital, o repasse de preço nas passagens aéreas deve acontecer em breve, mas por conta do dólar e dos combustíveis.
“Acho que nesse momento que as empresas aéreas estão com os custos super pressionados, tanto do lado de despesas dolarizadas, como do lado do querosene de aviação, e com a demanda absoluta abaixo dos níveis de 2019, mesmo que o doméstico tenha recuperado, a tendência vai ser repassar isso no preço da passagem”, disse Lima sobre a Gol e a Azul.