A possível fusão entre a Gol (GOLL4) e a Azul (AZUL4) tomou a atenção de analistas do mercado. Isso porque existe a tese de que a operação pode não ser tão benéfica, por se tratar de duas empresas endividadas. Na outra ponta, acredita-se que as companhias têm problemas e o ganho de escala poderia contribuir para bons resultados.
No relatório operacional mensal da Gol (GOLL4) referente a abril, ela havia reportado um prejuízo líquido de R$ 395 milhões e uma dívida líquida de R$ 23,30 bilhões. Segundo o “Suno”, o documento foi enviado ao Tribunal de Falência dos EUA para o Distrito Sul de Nova York.
Por outro lado, a Gol encerrou o mês de agosto com R$ 2,1 bilhões em liquidez total após cumprir suas obrigações do “Term Loan B”. Essa era sua principal dívida de curto prazo, que somava US$ 300 milhões.
Já a Azul fechou 2023 concluindo a renegociação de dívidas com arrendadores e fabricantes de aeronaves. Como parte do acordo, de acordo com o “InfoMoney”, ela emitiu 370 milhões de dólares sem garantia a 7,5% com vencimento em 2030.
Considerando esses fatores, o economista da Corano Capital, Bruno Corano, sinalizou que a possível fusão pode ser observada com desconfiança por parte do mercado.
“É uma empresa deficitária comprando outra mais deficitária ainda – ou, numa outra forma de verbalizar, uma empresa endividada comprando outra mais endividada ainda”, disse Corano ao BP Money.
“É diferente de uma empresa ultra saudável que faz uma aquisição de outra empresa que, por qualquer outro motivo, não vinha performando”, acrescentou.
Por outro lado, há aqueles que observam a movimentação como positiva. Marlon Glaciano, gestor financeiro e especialista em investimentos, chegou a comentar a sinergia das companhias.
“Embora a união possa gerar sinergias importantes, como aumento de receita e otimização de rotas, ela enfrenta desafios consideráveis, incluindo a integração de frotas diferentes e a aprovação regulatória”, disse ele ao BP Money.
Fusão entre Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) pode destravar valor das ações, diz especialista
Na perspectiva de Fernando Canutto, sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Societário, a operação pode destravar o valor dos papéis.
“A fusão tem o potencial de destravar valor significativo para ambas as companhias”, comentou.
“A GOL, que enfrenta dificuldades financeiras e está em recuperação judicial, poderia se beneficiar do suporte financeiro e da gestão da Azul. Por outro lado, a Azul poderia expandir sua rede de rotas e operações, integrando a malha da GOL, o que resultaria em sinergias operacionais”, acrescentou.
Em complemento, o gestor financeiro e especialista em investimentos, Marlon Glaciano, destacou que a operação pode “aumentar a eficiência e a competitividade da nova entidade no mercado aéreo brasileiro”.
“No entanto, o sucesso dessa fusão dependerá da gestão eficaz da integração das frotas e da dívida significativa da Azul, além da aprovação dos reguladores devido ao potencial de concentração de mercado”, acrescentou.
Já num tom mais sóbrio, o especialista Bruno Corano sinalizou que esse tipo de operação anima os investidores. Contudo, esse é só o primeiro momento.
“As duas empresas, que estão num certo grau de desvalorização, vão ter inicialmente e momentaneamente um ganho. Mas, para se sustentar, só realmente entregando resultados, em um setor que é muito instável e muito sensível”, disse Corano.
Operação é importante para o setor aéreo brasileiro
A possível fusão entre as aéreas também está sendo vista como benéfica para o setor aéreo brasileiro. Mas Enrico Cozzolino, chefe de análises da Levante Investimentos, aponta que o foco das companhias não deve ser somente o cenário doméstico.
“Os voos domésticos têm menos margem do que voos internacionais. Eu não acho que seria o foco das companhias”, comentou.
Cozzolino também pontuou que quando se observa os gastos das aéreas, sendo que boa parte do capital acaba sendo encaminhado para custos operacionais, onde “99% da receita da companhia aérea já saiu nos custos, a margem é baixa, é preciso de fato ampliar a escala”.
Além disso, o gestor financeiro e especialista em investimentos, Marlon Glaciano, também apontou que a operação pode ter um impacto significativo no setor aéreo brasileiro.
“Criando uma rede de rotas mais extensa e eficiente, potencialmente reduzindo custos e aumentando a competitividade”, comentou Glaciano.
Por outro lado, o especialista Bruno Corano sinaliza que uma empresa, ainda que seja muito grande, seria difícil dominar, de fato, o setor.
“O setor aéreo, de forma secular, demonstra que, por mais que uma empresa aérea tenha supremacia, seja infinitamente maior, não consegue dominar o mercado”, declarou.
“E, muitas vezes, o tamanho dela trabalha contra ela mesma, porque quando a empresa tem intempéries, e que quase sempre são motivadas por aspectos econômicos externos, como por exemplo a alta do petróleo, o comprometimento dela também é proporcional a essa supremacia e esse tamanho”, acrescentou.
“Elas acabam como a Pan Am e tantas outras enormes, que acabam sucumbindo justamente por serem tão grandes”, concluiu.