Grupo Primo demite 20% dos funcionários dois meses após aquisições

Companhia alega ter decidido pelas demissões em função das "sinergias das empresas que passaram a integrar o grupo"

O Grupo Primo, fundado pelo investidor Thiago Nigro, conhecido na internet como Primo Rico, é o último a realizar cortes na equipe como saída para lidar com o cenário desafiador no mercado. A empresa demitiu 20% dos seus cerca de 280 funcionários ao longo da última semana, que culminou no desligamento de ao menos 55 colaboradores até esta quarta-feira (08). 

Ecossistema para o setor financeiro, o Grupo Primo alega ter crescido de forma acelerada no último ano, “passando de 34 pessoas em janeiro de 2021 para 280 pessoas em março de 2022”, disse em posicionamento enviado ao BP Money. Os cortes resultam do planejamento de negócio para reduzir essas sobreposições na operação.

Na nota enviada à reportagem, a startup aponta ter identificado “sinergias das empresas que passaram a integrar o grupo no primeiro semestre de 2022 – Grão, Spiti, Grão Gestão de Recursos e TopInvest”. 

A empresa, liderada por Bruno Perini e Joel Jota, ao lado de Thiago Nigro, reforçou no posicionamento que projeta fechar o segundo trimestre deste ano com receita recorde. Segundo a companhia, em 2021, a receita anual teria ultrapassado R$ 120 milhões.

Nigro cresceu na Internet como influenciador para o segmento financeiro. Por meio do seu canal “O Primo Rico”, criado em 2016, atraiu milhões de fãs analisando ações e avaliando a performance de empresas na bolsa, além de discutir opções de investimentos no mercado. Foi uma das primeiras personalidades a ganhar fama nesse nicho do mundo digital. Hoje, são mais de 5,7 milhões de pessoas inscritas no canal do YouTube.

O Grupo Primo nasceu em 2020, quando Perini e Jota entraram para a sociedade de Nigro, consolidando as operações de produção de conteúdo para redes sociais, cursos sobre investimentos e finanças, eventos e outros produtos ligados a esse universo. Segundo a empresa, no ano passado, as plataformas do grupo alcançaram 200 mil usuários pagantes dos cursos e treinamentos, cujas assinaturas mensais variavam à época entre R$ 20 e R$ 50. 

Em 2021, a companhia adquiriu a startup Grão, de conta digital, e a Spiti, de recomendações de investimentos. O pacote vitalício da casa de research, que dá acesso a todo o conteúdo na plataforma, sai por R$ 25 mil. Os valores das transações de aquisição não foram revelados pela companhia. Atualmente, as duas startups têm, somadas, em torno de 400 funcionários, segundo suas páginas no LinkedIn.

Ano adentro, o Grupo Primo acelerou esse ritmo de expansão. Só no começo de 2022 – em abril, mais especificamente – foram mais três operações: a compra da TopInvest e da Edufinance, do segmento educacional, e aquisição da fatia minoritária da casa de análise de criptomoedas Paradigma Education. 

Corrida de investidores para a renda fixa acentuou a crise em empresas do setor financeiro

No LinkedIn, ex-funcionários do Grupo Primo comentavam as demissões, motivadas pela reestruturação das equipes, segundo o que teriam ouvido de seus gestores durante o processo. “Ontem, diversos funcionários foram demitidos, principalmente funcionários que ainda estavam em período de experiência, que foi o meu caso”, relatou um profissional da área de tecnologia em post na rede nesta quarta-feira (08). 

A crise que assola o setor de startups está ligada à economia global, dada a desaceleração das perspectivas de crescimento dos mercados, e já bateu à porta do mercado financeiro. Além da fuga para a renda fixa, que minguou o fluxo em bolsas, está mais difícil encontrar fundos de private equity dispostos a desembolsar grandes valores por empresas que ainda não alcançaram lucro. Menos ainda por aquelas cujos negócios ainda atravessam o estágio de expansão.

Nesta semana, a Empiricus demitiu 12% da equipe – até então, com cerca de 600 funcionários -, motivada pela virada de cenário, que ficou abruptamente muito negativo para os investimentos de renda variável. Na mesma toada, a 2TM, dona da corretora de criptoativos Mercado Bitcoin, cortou 90 pessoas, cerca de 10% da equipe, ante o “inverno do Bitcoin”, como vem sendo chamada a crise das criptomoedas.

Ao “Estadão”, o Grupo Primo confirmou que a proposta de fazer IPO na bolsa continua nos planos de negócios. Mas, com um futuro bem mais incerto pela frente, ainda não está claro se os projetos que todas essas empresas vinham anunciando desde o último ano devem ficar para um horizonte mais distante ou se os cortes foram suficientes para segurar a pressão que vêm sentindo no mercado. Uma resposta que, provavelmente, só o tempo trará.

Leia na íntegra o posicionamento do Grupo Primo sobre as demissões: 

Sobre adequação no quadro de colaboradores do Grupo Primo, a empresa esclarece que o processo foi planejado de acordo com a identificação de sinergias das empresas que passaram a integrar o grupo no primeiro semestre de 2022 – Grão, Spiti, Grão Gestão de Recursos e TopInvest. O Grupo Primo segue crescendo e deve fechar o segundo trimestre com receita recorde. A empresa aumentou também o quadro de colaboradores de forma consistente no último ano, passando de 34 pessoas em janeiro de 2021 para 280 pessoas em março de 2022.

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