A filial brasileira da cervejaria holandesa Heineken desistiu do seu projeto de construir uma fábrica em Pedro Leopoldo (MG), distante 42 quilômetros de Belo Horizonte. O projeto, com investimentos declarados de R$ 1,8 bilhão, havia sido barrado em setembro pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Na avaliação do instituto, a construção da nova fábrica poderia causar danos à região onde foi encontrado o crânio de Luzia, o fóssil mais antigo das Américas. A captação de água do subsolo para produzir a cerveja geraria grande impacto nos lençóis freáticos e no complexo de grutas e cavernas da região, que correria o risco de ser soterrado.
Ainda assim, no início de outubro, a Heineken conseguiu na Justiça de Minas Gerais uma liminar para retomar as obras da cervejaria. A liminar foi deferida pela 12ª Vara Federal Cível e Agrária da SJMG (Seção Judiciária de Minas Gerais), após mandado de segurança impetrado pela empresa.
Nesta segunda-feira (13), porém, a companhia anunciou a desistência do projeto. “Seguimos todos os ritos para obter a licença ambiental e temos autorização judicial para construir a cervejaria, o que demonstra a legalidade do processo”, disse Mauro Homem, diretor de assuntos corporativos da Heineken, em conversa com jornalistas.
“Mas nossa permanência no local ainda divide opiniões e, para seguirmos adiante, seria preciso dedicar mais tempo para realizar novos estudos. Por tudo isso, tomamos a decisão de buscar outra área que atenderá a demanda dos próximos anos”, afirmou.
Segundo o executivo, está confirmado que a nova planta será no estado de Minas Gerais. Mas a cidade que vai sediar a operação só deve ser anunciada no início de 2022. A Heineken, porém, já se encontra no limite da sua capacidade de produção (90%), conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo em setembro o presidente da companhia no Brasil, Mauricio Giamellaro. A fábrica de Pedro Leopoldo seria a primeira a ser construída pela empresa no país, uma vez que todas as suas 15 unidades vieram de aquisições, 10 só com a compra da Brasil Kirin, em 2017.
A saída foi aumentar a capacidade da fábrica de Ponta Grossa (PR) – unidade cuja produção já havia sido ampliada em 75% no último ano. “Agora vamos instalar novos tanques para a fabricação da marca Heineken, a fim de cobrir o ‘gap’ de produção para 2023, data em que a nova fábrica entraria em operação”, afirma Homem.
De acordo com o executivo, a decisão do ICMBio de suspender o projeto de Pedro Leopoldo pegou a empresa de surpresa, poucos dias depois de iniciada a obra, em agosto deste ano.
“Começamos então a conversar com todas as partes interessadas -o ICMBio, o Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional], a Prefeitura de Pedro Leopoldo. E mesmo demonstrando a viabilidade do nosso projeto, percebemos que a obra ainda causa divergências sobre o que geraria de prosperidade na região”, afirmou.
De acordo com Homem, a cervejaria pretende fazer uma doação de cerca de R$ 300 mil para ajudar na preservação do sítio arqueológico de Pedro Leopoldo.
“Existem atividades industriais a menos de 200 metros do sítio arqueológico”, disse Mauro Homem. “Há uma vocação industrial na região mas, por conta das diferentes interpretações entre o órgão licenciador e os gestores públicos, decidimos mudar o local da fábrica. Estamos aliando o nosso discurso à prática e reforçando nossos valores.”
Globalmente, a cervejaria holandesa acaba de lançar uma plataforma global de comunicação – Green Your City, em que busca reforçar ações de sustentabilidade nas cidades em que é fabricada. Com isso, a marca chegou até a substituir a tradicional estrela vermelha do seu rótulo pela verde.
“Sustentabilidade é o novo puro malte”, disse Giamellaro à reportagem, para indicar o diferencial que a Heineken deseja adotar para ganhar a nova geração de consumidores.