Dívidas e laranjas

Herdeira da Suzano vai de ricaça da Forbes à falência; entenda

Lisbeth Sander esteve entre os 100 mais ricos do Brasil, mas sua empresa entrou em falência após fraudes, dívidas e laranjas

Foto: Reprodução
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Lisabeth Sander (74) – a herdeira da Suzano – protagonizou um episódio de denúncias envolvendo a maior fabricante de celulose do mundo. Sua derrocada começou no início dos anos 2000, quando laranjas decidiram denunciar a empresa criada por ela.

Lisabeth herdou as ações da exportadora em 2017, após a morte de sua mãe, e se tornou bilionária, entrando para a lista dos 100 mais ricos do Brasil, pela Forbes, em 2022.

Sonia Regina Guimarães, hoje uma professora aposentada, de 68 anos, foi quem procurou a Receita Federal para esclarecer sobre uma dívida tributária milionária de uma empresa incluída no império da família Feffer, dona da Suzano, a Mercante de Papeis. 

A professora foi usada como laranja nas transações da empresa, visto que constava no quadro de sócios sem ter conhecimento sobre a exportadora. 

A herdeira da Suzano está no centro das investigações criminais sobre uma trama de brigas, fraudes, dívidas e falências que duraram 2 décadas, de acordo com a “Metrópoles”.

Lisabeth é filha de Fanny e neta de Leon Feffer, ela abriu, com seu marido, a Telex Sander Bobinas de Papel, uma distribuidora de produtos de papel que, mais tarde, se tornaria a Mercante de Papeis, em 1986. A empresa cresceu pela prestação de serviços à Suzano.

Como começaram as denúncias contra a herdeira da Suzano 

Os membros da família Feffer começaram a abandonar a sociedade e a Mercante de Papeis foi desativada, à beira dos anos 2000. A herdeira da Suzano construiu sozinha, logo depois, a Nova Mercante, com a mesma atuação da anterior. 

No entanto, após a desintegração da sociedade, os livros de sócios da antiga Mercante de Papeis foram preenchidos com nomes de pessoas humildes, incluindo funcionários do chão de fábrica da companhia e outros desconhecidos, segundo o veículo.

Sonia Guimarães, a professora mencionada, fez um boletim de ocorrência em 2002, para esclarecer a notificação da Receita sobre o pagamento de R$ 1,5 milhão em impostos atrasados. 

Ela afirmou que sequer conhecia a empresa e que “indivíduos desconhecidos usaram seu nome para a constituição de sociedade comercial”.

Nos anos seguintes, mais pessoas incluídas no quadro de sócios sem o conhecimento começaram a denunciar a descoberta. 

Sonia foi retirada do quadro societário da Suzano posteriormente, mas um relatório de 2005, com descrição de todos os depoimentos, não mostra nenhuma conclusão da investigação, segundo apuração da “Metrópoles”.

Nova Mercante entra em RJ

A Nova Mercante, criada pela herdeira da Suzano, foi vendida a Antonio Puchinelli em 2010. Ele seguiu, formalmente, por alguns anos com 1% da sociedade, visando quitar dívidas trabalhistas e tributárias acumuladas.

A companhia era a maior distribuidora da Suzano na época. Porém, em 2013, a Nova Mercante pediu recuperação judicial, com dívidas de R$ 77 milhões. A Nova Mercante descreveu a si mesma como se ela e a Mercante de Papeis fossem uma só companhia. Anos depois, veio à falência.

Na denúncia que fez à Justiça, Pulchinelli afirmou que a Nova se confundia com a antiga Mercante e que Lisabeth havia deixado dívidas não quitadas e não declaradas para trás, quando repassou a sociedade aos novos donos. 

“A Sra. Lisabeth, em verdade, contraiu volumosa dívida tributária, ainda quando figurava como sócia da empresa Mercante de Papéis Ltda. ME., tendo constituído a Nova Mercante de Papéis Ltda. para a continuidade das atividades, contudo, sem herdar a priori o legado negativo da primeira empresa, mas após contrair as mesmas dívidas na segunda empresa”, afirmou Pulchinelli, através de seus advogados.

Foi Pulchinelli quem encontrou caixas de documentos com trocas de e-mail entre a herdeira da Suzano e sua antiga advogada. O conteúdo mostrava a estratégia para tentar pôr “panos quentes” no inquérito sobre os laranjas na sociedade da empresa.

A sentença da herdeira da Suzano e cia

Na guerra da Mercante, as investigações apuraram, além da inserção de laranjas, os crimes fiscais cometidos. O Ministério Público Federal denunciou Lisabeth por sonegação de R$ 9 milhões, sobre o ano de 2008. Ela foi condenada a 3 anos de prisão em regime aberto e tem recorrido da decisão.

Já Pulchinelli responde a 2 ações movidas pelo Ministério Público de São Paulo sobre suposta sonegação de impostos junto ao fisco do Estado. Ainda não há sentenças e ele nega as acusações.

Nos processos criminais e de falência da Nova Mercante, a herdeira da Suzano afirma que a situação relativa aos laranjas da sociedade terminou com as investigações arquivadas.

Essas “pendências que existiram há quase 20 anos, envolvendo tais pessoas acham-se pontual e regularmente resolvidas e fora de questão”, disse ela.

Ela não é alvo de “nenhuma ordem de prisão” e  “obviamente está em liberdade”, disse sua defesa.