HerMoney busca crescer quatro vezes para aumentar o acesso de empreendedoras a produtos financeiros

Startup projeta expandir a base de 2,5 mil MEIs e donas de negócios e negocia com novos parceiros para oferecer mais serviços a esse público

Existe um Brasil que ainda é coadjuvante no mercado financeiro. E é a uma parte relevante desse grupo que a HerMoney se dirige. Com uma base de 2,5 mil usuárias ativas em quase todos os estados do País, formada majoritariamente por MEIs (microempreendedores individuais) e pequenos negócios, a plataforma vem consolidando um ecossistema de finanças para o público feminino. 

A perspectiva da HerMoney, que funciona como um assistente de gestão financeira, é integrar novos parceiros ao sistema para oferecer produtos de terceiros – como conta corrente para pessoa jurídica, cartão de crédito e serviços de apoio a vendas online – às suas assinantes. São soluções que Andrezza Rodrigues, fundadora e CEO da startup, entende serem extremamente necessárias para as empreendedoras que usam a plataforma. 

Para consolidar seus planos, a empresa trabalha com uma projeção de crescer quatro vezes a base de usuárias ainda neste ano. O ritmo não assusta tanto se considerada a diretriz para 2022. A startup anunciou recentemente uma parceria com o Sebrae-SP para auxiliar gratuitamente mulheres empreendedoras a gerir suas finanças, o que deve expandir seu alcance para 1 milhão de MEIs e pequenos negócios só no estado. 

Conforme se consolida, a HerMoney também deve se tornar mais atraente aos potenciais parceiros de mercado, porque é uma das poucas fintechs que olha para esse público.

Startup busca tirar empreendedoras da marginalidade do sistema financeiro 

Vale considerar que as mulheres são responsáveis pela renda familiar em 48% dos lares no Brasil, segundo relatório da consultoria IDados com base nos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No ambiente de empreendedorismo, a proporção se mantém, de acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor. 

São 30 milhões de mulheres empreendedoras no País. Mesmo expressivo em números absolutos, são elas que têm menos acesso ao sistema financeiro. A “taxa de mortalidade” de empresas lideradas pelo público feminino é três vezes maior que entre o público masculino, segundo o Sebrae. A entidade aponta que 66% do índice de falência nesse grupo está atrelado à falta de gestão financeira.

Ainda não há dados oficiais abertos sobre a disparidade de concessão de crédito entre homens e mulheres, mas o assunto não é estranho às rodas de empreendedorismo feminino. Um indício dessa desigualdade é que a maior parte das empreendedoras está concentrada em categorias de faturamento mais baixo: representam 57% das MEIs no País. Conforme a classe da empresa sobe, a representação feminina cai. 

Segundo a Rede Mulher Empreendedora, 42% das empresárias que solicitaram crédito em 2021 tiveram seus pedidos negados. Um levantamento da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostra que 55% das empreendedoras têm dificuldade para conseguir crédito no Brasil. 

O universo dessas pesquisas sequer considera as MEIs e – cabe lembrar – foram conduzidas em um cenário de juros mais baixos que o atual. Portanto, neste ano, as barreiras de acesso a crédito devem ficar cada vez maiores, especialmente para essas empreendedoras.

Em março deste ano, a HerMoney integrou uma oferta de linha de crédito exclusiva para mulheres empreendedoras da Losango, financeira do Bradesco. O produto pode ser contratado pela plataforma com taxas baseadas no perfil da usuária. E a empresa está em negociação com novos parceiros, afirmou a CEO ao BP Money. 

“É como se fôssemos a antecipação do open finance, porque temos uma base de dados financeiros centralizados já consolidada”, disse a empresária. Nesses três meses de parceria com a Losango já foram concedidos mais de R$ 600 mil em crédito às usuárias da plataforma. Uma base de mulheres empreendedoras com faturamento entre R$ 1 mil e R$ 17 mil por mês (na maior parte) que se dividem entre os setores de serviços e comércio.

Plataforma pode atingir 10 mil assinantes neste ano 

O sistema de controle financeiro criado pela HerMoney permite um acompanhamento em tempo real dos relatórios de fluxo de caixa e orçamentos, gera gráficos de lucros e prejuízos, além de criar um painel financeiro da empresa. A prática é simples: para inserir os dados, as empreendedoras aceitam integrar a tecnologia ao próprio WhatsApp e, assim, podem enviar fotos dos comprovantes e documentos.

Os dados são lidos e processados por uma IA (Inteligência Artificial) e consolidados na plataforma. Uma mina de ouro para as financeiras. Mas marketplaces varejistas e empresas com soluções para pequenos negócios também devem ser atraídos a esse ecossistema, ao passo que a base da startup cresce e o seu público evolui. Algo que não deve demorar. 

A HerMoney se juntou em maio ao Sebrae-SP em um programa que deve liberar o acesso de empreendedoras à plataforma. Com a ampliação do alcance da solução de assistência financeira, a meta é chegar a 10 mil assinantes até o fim deste ano.

O faturamento (dado que a startup não abre ao mercado) deve crescer 30% em 2022, na perspectiva de Andrezza. O guidance para receita não acompanha o horizonte de expansão da base na plataforma porque a HerMoney trabalha com dois modelos de assinatura: a gratuita, com acesso limitado aos serviços, e a paga, que libera todas as soluções por uma mensalidade de R$ 47. 

Na esteira dos projetos para o seu crescimento, a HerMoney lançou, também em maio, a campanha “adote uma empreendedora”, que convida a custear o acesso de um grupo de usuárias com renda mensal entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. Muitas dessas mulheres, moradoras de regiões periféricas, buscaram a plataforma em meados do ano passado, quando se falava na retomada econômica. 

“Liberamos seis meses de acesso gratuito para esse grupo, abrindo mão de R$ 500 mil do faturamento no ano, mas boa parte dessas usuárias continuam sem condições de pagar o serviço”, contou Andrezza. Ela lembra que, para essas microempreendedoras, o valor da mensalidade ainda não cabe no orçamento de despesas recorrentes. 

O objetivo é ter 2 mil contas “adotadas”. A campanha vem ganhando embaixadores influentes na cena de inovação e empreendedorismo, como a investidora Amanda Graciano. “Lançamos o programa pensando na força da nossa comunidade, quer dizer, no apelo às empreendedoras maiores, que conhecem os desafios desse ambiente”, disse Andrezza. 

Mas as empresas também passaram a procurar a HerMoney para se engajar no projeto. “São organizações do sistema bancário e de e-commerce que reconhecem a empreendedora como uma figura fundamental na sua rede de consumidores. Mas é cedo para falar dessa frente, porque estamos só no começo da campanha.”  

Fundada em 2019, a HerMoney já levantou R$ 1,4 milhão em investimentos. Na última rodada, em janeiro deste ano, a startup conquistou um aporte de R$ 600 mil com o apoio do grupo Wishe. Na sua primeira captação, no começo de 2021, Andrezza decidiu reservar uma cota dos investimentos para ser levantada via equity crowdfunding. “Foi uma estratégia de relacionamento, na verdade. Eu queria trazer investidoras menores para nosso ecossistema e ter as primeiras clientes como sócias”, contou.

Até o fim do ano, a startup pretende dobrar o time – hoje com 23 pessoas – para acompanhar o crescimento da base de clientes. “Mas o sistema já tem robustez e capacidade para escalar sem necessidade de maiores investimentos”, acrescentou Andrezza. Ela explica que a alavanca da HerMoney vem das dores desse empreendedorimsmo feminino, lembrando que o negócio atende demandas muito básicas desse público. Por isso, nem mesmo a crise abala suas projeções para a empresa. 

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