Petz (PETZ3) pode se beneficiar da “humanização de pets”?

Tratar os animais de estimação como filhos teve impulso durante a pandemia e a Petz está de olho nisso

A tendência de humanização dos pets não é de hoje, mas se intensificou com a pandemia de covid-19. De olho nessa inclinação de priorizar os animais (e, consequentemente, gastar mais com eles), a Petz (PETZ3) deve se beneficiar do cenário e aumentar as linhas de receita de olho nos “pais de pets”, segundo analistas. 

A Petz não apenas está de olho nesse movimento como anunciou, na última terça-feira (13), a contratação de Massanori Shibata, ex-Intermédica, como vice-presidente de serviços, conforme antecipou o “Brazil Journal”. O posto foi criado pela companhia para cuidar dos hospitais, clínicas veterinárias da rede e de um plano de saúde para pets.

Com isso, a empresa pretende acessar o mercado de planos de saúde para animais. O CEO da companhia, Sérgio Zimerman, busca, agora, gerar novas fontes de receita baseadas nessa relação quase fraterna.

Para ele, há um movimento de humanização de pets no Brasil, que leva à reprodução de comportamentos semelhantes aos de pais com seus filhos. Por isso, a ideia do plano é que o tutor consiga se prevenir de forma financeira quando o animal passar por alguma emergência de saúde, assim como acontece com um plano tradicional para qualquer membro – humano – da família. 

Petz surfa na humanização dos pets

A aproximação dos pets no convívio familiar estimula ainda mais um setor que já vem crescendo ano após ano. A Petz surfa na mesma onda, e ainda além do mercado. Parte disso são os benefícios da tendência de humanização, que faz com que o dono gaste ainda mais com produtos para o bem-estar do seu “filho”, segundo o analista de empresas Fernando Ferrer, da Empiricus. 

A própria Petz reconhece que algumas linhas de sua receita foram impulsionadas, principalmente em momentos mais críticos da pandemia, pela humanização de pets. No terceiro trimestre de 2020, houve uma evolução na venda de produtos, que subiu 55% em um ano. Essa expansão, tanto em canais digitais como físicos, aconteceu por quatro fatores, um deles a Petz atribuiu a humanização de pets. O mesmo aconteceu no último trimestre de 2020. 

Em seus resultados, a humanização voltou a ser mencionada este ano. Segundo a companhia, o preço dos alimentos para pets teve um aumento nos últimos meses, dada a conjuntura econômica atual. Ainda assim, o trade-down na categoria é um fator sensível, levando em conta a adaptação do pet a novas rações e a tendência de humanização de pets, que visa maior conscientização sobre os benefícios de uma alimentação balanceada e como ela faz diferença na expectativa de vida do animal.

Mas as colheitas da Petz no cenário de humanização não param por aí. Para o analista de empresas, a receita da empresa aumentou no período de pandemia – entre 2020 e 2022  – impulsionada também pela tendência. Segundo ele, algumas linhas têm relacionamento direto com isso, principalmente aquelas ligadas a cuidados com os seus animais de estimação, o que aumentou o ticket médio da Petz via produtos e serviços, como limpeza e tosa. 

Ainda, para o analista, o público-alvo da rede de pet shops visa justamente o cliente que quer gastar com o seu animal de estimação visando o melhor produto e o melhor preço. 

“A palavra chave é grau de afinidade. O público-alvo da Petz é, simplesmente, donos de pets, ou tutores, como eles chamam, que desejam cuidar melhor dos seus animais. É interessante pois se a pessoa é de classe A, mas só tem cachorro de sítio, provavelmente não é cliente Petz. Mas se é da classe C e dorme abraçado com o cachorro, então muito provavelmente é um cliente Petz”, explicou. 

Por isso, a empresa visa um futuro voltado para esse público que possui grande afinidade com os animais. Segundo Ferrer, no radar da Petz, além do plano de saúde, estão hotéis para pets e o serviço de pet sitter – que nada mais é do que uma espécie de babá para os animais. 

Mesmo olhando para esse cenário, o analista aponta que a Petz não deve apostar apenas em produtos e serviços que olhem para a humanização. “Além dessa tendência, vejo a resiliência do mercado e a ainda baixa penetração das superstores como outros grandes atrativos”, opinou.

Nesse sentido, o crescimento da Petz nos últimos anos também não está apenas ligada à humanização dos animais. Na mesma época de pandemia, quando essa tendência se intensificou, a Petz estreou na bolsa, no dia 11 de setembro de 2020. Tanto o IPO  (oferta pública inicial, em português) como os novos lançamentos, a exemplo do plano de saúde, fazem parte da meta da companhia de ser reconhecida como o melhor ecossistema de pets do mundo até 2025. É o que explicou Ferrer.

“Antes, as pessoas eram servidas via pet shop de bairro. Tanto a Petz como a Cobasi enxergaram esse gap e mergulharam no conceito de superstore, que deu muito certo. Com isso, a Petz passou a oferecer não apenas mais itens, como também uma experiência. Tudo isso faz parte desse objetivo, que a companhia tenta alcançar oferecendo produtos diferenciados, melhores que a concorrência e com preços mais acessíveis”, apontou o analista. 

Além disso, o método de expansão por espalhamento faz com que a Petz esteja presente em diversas regiões do país. Hoje, 47% das unidades já são fora de São Paulo. 

Ainda, outros fatores fizeram com que a rede crescesse além dos números do mercado. Segundo Ferrer, o e-commerce é um ponto importante, uma vez que representa um terço da receita da Petz. “E o índice de omnicanalidade da empresa, a integração do físico com o online, é muito bom também”, apontou. 

Na caminhada da construção de um ecossistema, a Petz também mirou em hospitais veterinários e clínicas de saúde animal. Nesse sentido, a ideia é verticalizar o plano de saúde que está por vir, com pacientes tratados exclusivamente nos hospitais e clínicas da própria Petz. 

Com esse cenário, Ferrer entende que a perspectiva é positiva, tanto para a Petz, como para grandes empresas do setor. Para ele, o modelo megastore tende a crescer, já que é um case de sucesso. 

Além disso, Ferrer aponta que, com o aumento do número de animais de estimação durante o isolamento, o dono se compromete por mais dez anos com o pet, o que faz com que o mercado continue fervendo por algum tempo.

“E esse é um setor resiliente à crises. A grande parte das vendas da Petz, por exemplo, vem de produtos como remédio, ração e limpeza, fatores que dificilmente podem ser cortados de um orçamento do pet”, explicou Ferrer. 

Por fim, para o analista, o movimento de humanização dos pets acaba se tornando um adicional nesse cenário, uma vez que, com mais gastos por parte dos donos, novos produtos surgem, e o mercado e a Petz continuam se expandindo.

Humanização acelera setor

Marcelo Santos, psicólogo clínico e professor do curso de psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explicou que a aproximação dos animais no convívio das famílias tem aumentado há algum tempo. Ele aponta alguns fatores, como a diminuição de membros humanos na família, que leva à aquisição de pets. 

Ainda assim, com a pandemia de covid-19 e o consequente isolamento social, a humanização dos pets se intensificou. E não só isso. No mesmo período, o número de animais de estimação também aumentou. O Censo Pet do Instituto Pet Brasil revela que o Brasil encerrou 2021 com 149,6 milhões de animais de estimação, um aumento de 3,7% sobre os 144,3 milhões do ano anterior. 

“Muita gente queria ter um cachorro, um gato ou um pássaro, e adiavam esses planos por conta do dia a dia”, explicou Nelo Marraccini, presidente do Conselho Consultivo do Instituto Pet Brasil. “Em casa, os solitários acabaram adquirindo um pet, e aqueles que já tinham um buscaram outro. Então, o mercado, como um todo, cresceu”, apontou. 

Por outro lado, Nelo aponta que é importante ressaltar um fator. Mesmo com o conceito dissipado de humanização de pets, há ressalvas. “Na realidade, a humanização nunca foi disseminada pelo setor, seja pela indústria ou por médicos”. 

Segundo ele, o que aconteceu foi que as pessoas começaram a buscar produtos de maior qualidade, e como já estavam em casa e em um convívio mais intenso, começaram a perceber o que os animais precisavam.

“Tudo isso fez com que o setor acelerasse, mas sem pensar que o que é bom para mim é bom para ele, ou seja, dar para o animal comer aquilo que o humano come, por exemplo, um ato que pode ser prejudicial à saúde do pet”.

Marcelo também aponta fatores que podem prejudicar o animal quando falamos em “humanização”. Para ele, se posto de maneira exagerada ao pet, esse conceito pode ser maléfico. Um exemplo que Marcelo apresenta é segurar o bicho no colo ou colocar em carrinhos, como é comumente feito com filhos, o que pode prejudicar a saúde do animal. 

Mesmo assim, a humanização, ou o aumento do cuidado com os pets, também leva a proximidade do animal com o dono – ou pai, como muitos colocam. “Essa condição influencia muito no consumo e o mercado se favorece disso, com day care, escolas, creches, e inúmeros produtos para higiene ou estética. Uma vez que você vê o pet como um filho, você buscará todas as possibilidades possíveis para dar conforto e saúde”, explicou Marcelo.