‘Inimigo em comum’: entenda apoio da China a Rússia

Os dois países possuem uma complexa relação financeira.

A China é contra as sanções a Rússia, considerando o movimento ilegal e unilateral, como foi dito pelo Ministério de Relações exteriores do país nesta sexta-feira (25). Contudo, o governo chinês destaca a soberania da Ucrânia, mas não considera o ataque russo uma invasão.

O governo chinês acrescentou, em sua declaração, que há formas mais diplomáticas de resolver a situação e que as sanções podem gerar problemas para os países.

Os entraves a Rússia são decorrentes do confronto que ocorre na Ucrânia. Tropas russas invadiram a fronteira e bombardearam a capital da Ucrânia, desde então o cenário geopolítico está delicado. Após o ataque, Vladimir Putin, presidente da Rússia, disse que se houver alguma interferência internacional haveria graves consequências.

A relação entre o governo chinês e russo é muito mais complexa do que se imagina. Entre 2019 e 2022 cerca de duas reuniões foram feitas para aumentar a colaboração financeira entre as duas nações. A última aconteceu em 4 de fevereiro deste ano.

“Trabalhando em conjunto, podemos alcançar um crescimento econômico estável e nos manter unidos contra os riscos e desafios de hoje”, disse Putin num artigo de opinião publicado no dia anterior ao encontro, como foi antecipado pela CNN.

Até 2019, aproximadamente 13,43% das exportações russas eram destinadas à China, o que ficava em torno de US$ 50 bilhões exportados. Alicia García Herrero, economista-chefe da Natixis, disse ao Valor que a aproximação de Pequim (Capital chinesa) e Moscou (homologa russa de Pequim) pode gerar um “efeito de substituição” das importações russas, que podem adquirir mais produtos do país asiático.

Anteriormente ao ataque, a China já havia manifestado o seu apoio diplomático ao governo russo. Além disso, as duas nações possuem um “inimigo em comum”, os Estados Unidos.

Na visão de Craig Singleton, membro sênior da China na Foundation for the Defense of Democracies, sediada em Washington, o presidente chinês Xi Jinping possui algum interesse estratégico no apoio à Rússia. Craig ainda acrescenta que o país asiático “continua em permanente desacordo” com os EUA.
 
O foco da China não é meramente comercial
De fato, para a Rússia, a China é muito importante, em 2020, o país respondia a 16% do comércio externo russo, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas por outro lado, a troca entre os dois países representava somente 2% do volume total chinês.

Por esse motivo, o pesquisador Alex Capri, da Hinrich Foundation, acredita que “o governo chinês precisa ser muito cauteloso em avançar em um conflito entre a OTAN e a Rússia por causa da Ucrânia”.

Mas aparentemente um dos pontos que mais une os dois países são os entraves com os Estados Unidos.

Washington mantém o Kremlin afastado do Ocidente desde 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia. A partir disso, as sanções só cresceram, após o Congresso norte-americano propor novas medidas contra a Rússia, sob a alegação de que o país havia interferido nas eleições estadunidenses.

No que diz respeito à China, quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos ele declarou uma guerra comercial contra o país asiático. Após um ano de tensão entre os dois gigantes, Trump estabeleceu novos obstáculos de mais de US$ 200 bilhões a produtos chineses.

Como resposta, Pequim opôs impostos às importações estadunidenses que somaram cerca de US$ 60 bilhões.