Atuar no maior mercado de capitais do mundo pode não ser o melhor negócio para quem tem origem emergente. Consultados pelo BP Money, especialistas divergem quanto às oportunidades que empresas latino-americanas podem alcançar com IPOs nos EUA.
No período de um ano, o cenário para a abertura de IPOs nos EUA mudou drasticamente. No primeiro semestre de 2023, o entusiasmo tomou os investidores com grandes empresas abrindo capital.
No entanto, como no campasso das estações, o movimento começou a “congelar”, durante o quarto trimestre, com um possível aquecimento surgindo a partir do segundo trimestre de 2024.
Segundo André Vasconcellos, vice-presidente do conselho do IBRI, Instituto Brasileiro de Relações com Investidores, o movimento do pipeline de IPOs e o desempenho positivo das precificação iniciou o “degelo” do mercado.
“Espera-se que esse movimento continue no segundo trimestre deste ano, à medida que a confiança dos investidores aumenta devido a ofertas públicas bem-sucedidas, como Reddit e Astera Labs”, disse ele.
Ele citou que 33 empresas iniciaram IPOs nos EUA no 1TRI24, o destaque entre as empresas da América Latina foram a Unusual Machines (tecnologia), de Porto Rio, e a BBB Foods Inc (consumo), do México.
Segundo ele, a Bolsas como a Nyse se tornam uma esperança para as companhias, diante da perda de competitividade das economias latino-americanas e a fuga dos investidores estrangeiros pela instabilidade política e jurídica. Por isso, acredita-se no crescente potencial para IPOs nos EUA
No entanto, Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital (NY), afirmou não concordar com a perspectiva de que há uma “janela” de oportunidades para IPOs nos EUA.
“Enquanto os juros estiverem altos, e tivermos instabilidade geopolítica, com vários outros ativos prosperando, como por exemplo, ouro, isso não vai acontecer. A não ser que seja um IPO que tenha realmente muita relevância, seja uma empresa muito diferenciada”, indicou ele.
Entre os diversos percalços que as empresas latino americana podem enfrentar no país, Tuanny Blumer, sócia da Black Financial, citou o custo para realizar uma abertura.
Nesse quadro, os negócios que têm mais “fama”, ou um time de Coordenadores de Oferta eficiente, têm mais chances de ser bem sucedido. O que, segundo ela, não é o caso de muitas empresas latinas.
Por que realizar IPOs nos EUA parece mais atraente?
Comparado ao Brasil, o país tem uma base maior de clientes, ao passo que suas empresas tem valuation maior que as domésticas. Conforme explicado por Tuanny, fala-se que, no Brasil, as IPOs acontecem como ocorria há 20 anos nos EUA.
“Sabemos que temos um dos mercados de capitais mais estabilizado do mundo, mas enquanto tivermos uma economia sempre afetada pela política, estaremos expulsando empresas e investidores que querem atuar no mercado doméstico”, frisou ela.
Para Corano, o número de IPOs não é tão relevante quanto os setores onde os negócios devem ocorrer. Os 3 especialistas concordam que o segmento de tecnologia é o mais visado do mercado.
“Empresas relevantes na área de tecnologia têm mais aderência a uma possibilidade saudável de fazer o IPO, enquanto outras indústrias estão no momento mais inóspito”, avaliou Corano.
Ele apontou que a maior demanda, interesse e possibilidade de crescimento são as vantagens competitivas das empresas desse setor.
Na mesma linha, Blumer e Vasconcellos citaram as áreas de biotecnologia, energia, farmacêutica, como as mais atraentes para o mercado. Isto por conta do alto potencial de crescimento, inovação disruptiva e resiliência econômica.
“Além disso, muitas dessas empresas estão trabalhando para resolver desafios sociais importantes, o que pode atrair investidores interessados em gerar um impacto social positivo”, apontou Blumer.
“De forma global, os setores industrial, de consumo e de tecnologia foram os três principais setores de IPO em quantidade neste 1TRI24 e demonstraram a melhoria mais significativa no desempenho pós-abertura de capital em comparação com o 1TRI23”, ressaltou Vasconcellos.
Riscos mercadologicos
Na análise do cenário, os especialistas também concordaram que a política monetária dos EUA é o ponto de maior risco para as empresas latinas que desejam realizar IPOs no país.
Corano explica que os juros altos podem prejudicar, pois desacelera e desaquece o mercado acionário, enquanto a queda dos juros gera uma enorme migração de capitais para o mercado acionário.
“É preciso ajustar o momento de mercado e o momento da empresa. Essa é a combinação. E é isso que determina o risco e determina consequentemente o sucesso”, finalizou.
Enquanto isso, Vasconcellos ressaltou que as companhias precisam demonstrar fundamentos sólidos e gerir as expectativas de preços na preparação para janelas fugazes de IPO nos EUA.
“Essas empresas em pré-IPO devem estar atentas a fatores como a inflação, as taxas de juro, expectativas eleitorais, as tensões geopolíticas, as implicações da IA, o impacto da agenda ESG e com uma eventual falta de liquidez na economia americana”, completou.