Light (LIGT3): representante da empresa e credor não se entendem

Um grupo de credores da Light questionou a forma de envio da minuta de “acordo de confidencialidade”

A Light (LIGT3) vem encontrando obstáculos na sua tentativa de reestruturação, após o pedido de recuperação judicial aceito pelo Poder Judiciário. De acordo com informações do jornal “O Globo”, um grupo de credores da concessionária de energia recebeu a minuta de um “acordo de confidencialidade” enviado pela Laplace, assessoria financeira que representa a concessionária.

A destinatária foi a BeeCap, que fala em nome de fundos que detêm R$ 5 bilhões da dívida da Light. O objetivo do documento é destravar as conversas e iniciar as negociações. Mas os lados não concordam nem mesmo sobre as condições em que o documento foi entregue.

A Laplace vem dizendo a interlocutores que tenta há “algumas semanas” assinar esse NDA (na sigla em inglês) com a BeeCap, mas que não vem tendo sucesso. Pelo que a assessoria conta, o processo foi muito diferente com a americana Moelis, que representa os donos de quase metade da dívida emitida pela Light no exterior. A Laplace argumenta que, sem o documento assinado, não consegue se certificar de que a BeeCap tem, de fato, um mandato concedido pelos credores para iniciar as negociações.

Do lado dos credores, a versão é diferente. A BeeCap argumenta que a minuta do acordo só lhe foi entregue no fim da última segunda-feira (22), sem qualquer aproximação formal anterior do comando da Light. Além disso, o documento estaria em inglês e prevê foro em Nova York, detalhe do qual os credores discordam.

Também irritou a BeeCap a necessidade de confirmação do seu mandato junto aos credores pela Laplace. Ela argumenta que a Light recebeu as atas de assembleia que deliberaram sobre a escolha de assessores, financeiro e jurídico.

A BeeCap diz que ela e os advogados dos credores estão analisando o documento.

Light em processo de RJ; há luz no fim do túnel?

No último dia 15 de maio, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou o pedido de recuperação judicial da Light, ajuizado em 12 de maio. Na decisão, o juiz Luiz Alberto Alves determinou que a companhia mantenha suas obrigações operacionais, cumprindo as metas de qualidade estabelecidas pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), sob pena de cassação da tutela concedida pela recuperação judicial. Atualmente, a empresa possui uma dívida de cerca de R$ 11 bilhões.

Na opinião de Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset, a Light precisará enfrentar muitos desafios durante seu processo de recuperação judicial, negociando com diversos credores e indo atrás de possíveis injeções de capital.

“A Light enfrentará diversos desafios durante seu processo de recuperação judicial, como a elaboração e evolução do plano de recuperação judicial, que deve ser aprovado pelos credores e homologado pelo juiz responsável. Além disso, a empresa precisará lidar com a negociação com detentores de dívidas e possíveis injeções de capital, que podem ser lideradas por um novo acionista”, disse Gonçalvez.

O CEO da Box Asset ainda lembra que a companhia de energia, além de uma dívida bilionária, possui graves problemas operacionais.

“Sua crise financeira não é o único problema, já que a Light também enfrenta várias questões operacionais. A empresa tem lidado com uma perda de receita devido a conexões clandestinas e fatores sociais como a origem de facções criminosas. Além disso, a companhia tem tido dificuldades em fornecer serviços em algumas áreas, fazendo com que ela não receba pagamento por 57,5% da energia que distribui”, pontuou.

De acordo com Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, o fim do processo de recuperação da Light irá depender das suas perdas não técnicas, além das negociações com seus credores e com o estado do Rio de Janeiro, onde a companhia de energia atua.

“O fim do processo de recuperação judicial da Light depende muito das perdas não técnicas, que é basicamente o furto de energia. Então, se os furtos de cabos de energia diminuirem e suas margens de lucro melhorarem, podemos ver um cenário mais otimista para a companhia”, argumentou Brasil.

“Esse processo de recuperação judicial será um pouco curioso. Eu não sei até onde a Light irá conseguir aumentar as tarifas para melhorar as margens, pois ela também depende do Estado. Do prejuízo bilionário da empresa, grande parcela é culpa de furtos, logo precisamos ver o que o Governo do Rio irá fazer para frear essa onda de roubos. É uma situação complicada para a Light”, acrescentou o fundador da Gava Investimentos.